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“Vou em Erasmus. Onde é que eu posso encontrar Jesuítas?"

08 out, 2017 - 23:51 • Ângela Roque

Pergunta repetida por muitos estudantes levou o Centro Universitário Manuel da Nóbrega, em Coimbra, a criar uma plataforma na internet com toda a informação necessária para quem está longe de casa e não quer perder o apoio espiritual a que se habitou.

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A mobilidade é uma das marcas que distingue os estudantes de hoje. São cada vez mais os que vão estudar para fora e para muitos faz sentido poderem ter, nos países de destino, a ajuda espiritual que por cá recebem nos centros ligados aos jesuítas, locais de formação, convívio e crescimento na fé.

Para ajudar quem parte, o Centro Universitário Manuel da Nóbrega (CUMN), em Coimbra, criou uma nova ferramenta online que permite aos estudantes ficarem a saber onde ir à missa e que locais ligados à Companhia de Jesus – centros de cultura, paróquias ou casas de retiros - podem visitar nas cidades para onde vão. Nessa plataforma, uma vez por mês, são também dadas pistas de oração.

O director do CUMN, padre Nuno Branco, falou à Renascença sobre este projecto aberto a todos.

Como é que surgiu esta ideia?

Aqui em Coimbra, no Centro Universitário Manuel da Nóbrega (CUMN), do qual eu sou o director neste momento, temos assistido a um fenómeno que, embora não seja novo, tem um acento diferente: são cada vez mais as pessoas que durante a sua vida académica partem para fora, para o estrangeiro, para fazer uma experiência de Erasmus, seja por um semestre, seja por um ano. Muitas delas expressaram esta vontade e esta pena de deixarem não só a cidade, e a universidade, mas sobretudo este centro universitário. E acho que foi daqui, decorrente dessa necessidade, que se foi pensando o que é que se poderia oferecer a um estudante universitário que está fora de Portugal como ferramenta para ajudar essa pessoa a viver bem este tempo.

Esse acompanhamento espiritual que é dado nos vossos centros universitários, como o CUMN em Coimbra, ou o CUPAV em Lisboa, faz falta nestas ocasiões? Ou seja, quem está habituado a ter esse acompanhamento é natural que sinta falta dele quando está longe?

Sim. Se calhar isso também se passa noutros lugares, mas os centros universitários dos jesuítas são muito lugares de encontro, que oferecem e apostam muito na formação cristã e na oração, na vida espiritual, se quisermos, e na vida de formação, formar homens e mulheres. Aliado a tudo isto há também uma aposta grande no acompanhamento individual, espiritual, o acompanhamento de grupos, e as pessoas habituam-se a isso. Acho esse acompanhamento fundamental, embora também não lhes faça mal nenhum desabituarem-se. Porque se não acompanhamos a pessoa sente-se perdida, mas se acompanhamos demais a pessoa também não cresce, portanto há aqui um desafio acrescido, sobretudo para quem está fora de Portugal, em ter este acompanhamento equilibrado, por um lado para que a pessoa não se perca – ‘perdida’ no sentido ‘não encontro referências aqui fora, não sei como lidar com coisas que estou a descobrir e a viver’. Mas também não pode ser um acompanhamento excessivo, porque a pessoa também precisa de experimentar a solidão, o confronto consigo próprio.

A iniciativa surge desta vossa percepção, por um lado, e por outro dos pedidos que receberam nesse sentido?

Sim, as pessoas quando partem para Erasmus a primeira coisa que perguntam é ‘então, onde é que eu posso encontrar jesuítas?’, é assim uma pergunta quase fundamental. Há uma afinidade, um sentido de pertença de identidade a uma comunidade muito concreta, com uma linguagem muito própria da espiritualidade inaciana na qual as pessoas se revêm. Mas, também lhes dizemos ‘olha, aí não encontras uma comunidade de jesuítas, mas encontras comunidades paroquiais, de igreja, que facilmente te podem integrar num movimento, num grupo’...

Como é que o projecto funciona?

Criámos uma espécie de site na internet, uma plataforma, onde a pessoa regista os seus dados, dados esses que não são públicos. A pessoa dá o seu nome e o seu contacto, email, indica a cidade onde se encontra e também expressa um bocadinho as expectativas que tem sobre esta ferramenta que vamos oferecer. Quase que podemos criar aqui uma rede de estudantes universitários que estão em Erasmus, e os que estão em Roma, em Londres, ou em Paris, e não sabiam, até se podem encontrar. No site está disponível a lista das cidades onde as pessoas estão, e clicando na cidade pode-se aceder a um conjunto de informações elementares e fundamentais: qual é a obra da Companhia de Jesus mais próxima nessa cidade onde a pessoa está, que obras da Companhia pode encontrar, seja um centro de cultura, um centro universitário, uma paróquia, um colégio ou uma casa de retiros. Essa informação está disponível se procurarem, claro, mas o que nós pretendemos aqui é sistematizar essa informação, que às vezes se encontra muito dispersa…

É facilitar essa consulta…

Exactamente. Também se disponibiliza informação sobre as missas oferecidas por essas comunidades, e sobre os lugares de tradição inaciana, ligados à Companhia de Jesus, e que os estudantes podem visitar. Porque o tempo de Erasmus também é um tempo que permite muitas viagens e os estudantes podem ter curiosidade em ir àquele lugar de referência para os jesuítas, de que já ouviram falar mas não conhecem.

A plataforma também disponibiliza ajuda na oração?

Sim, e a proposta mais forte e fundamental é mesmo essa oferta. Uma vez por mês vão ser dadas pistas de oração para ajudar a pessoa. Não que a pessoa não possa e não saiba rezar por si própria, mas serão pistas de oração muito focadas ou dirigidas para quem se encontra em Erasmus. Portanto, a intenção é ao encontro daquilo que a pessoa está a viver, a experiência de encontro consigo próprio, uma experiência de exigência, de insegurança, de contacto directo com a liberdade… de repente saio da casa dos pais, saio da minha cidade, saio do meu país, encontro-me comigo próprio e sozinho. O estudante faz a sua primeira experiência de confronto consigo próprio, que é saudável, mas que pode ser uma experiência dura e exigente, às vezes de fragilidade, fraqueza ou desilusão, e estas pistas de oração querem ajudar nesse sentido.

Esta proposta é a aberta a todos os estudantes?

Sim, começou aqui quase em conversas de corredor, no Centro Universitário Manuel da Nóbrega, mas é aberta a qualquer universitário, não é restrito a este centro.

Como é que se tem acesso a essa plataforma?

Há um link, mas a maneira mais fácil talvez seja ir pelo Facebook e procurar pela página do Centro Universitário Manuel da Nóbrega, o CUMN, está lá a publicação em destaque para que a pessoa possa aceder com facilidade a esta página. Eu acho que o site está muito simples e intuitivo, para que o estudante possa ir directo àquilo que procura e precisa.

No caso concreto do CUMN, em Coimbra, quantos estudantes é que o frequentam actualmente?

É muito difícil responder a essa pergunta, não temos essa contabilidade feita porque não temos um registo, as pessoas não são ‘sócias’... mas a casa está muito movimentada, cheia de gente que vem porque encontra ali um espaço, inicialmente para estudar, é essa a porta de entrada, mas depois acaba por sentir que aquela casa é diferente, tem personalidade e identidade, e às tantas isso desperta uma interrogação, uma curiosidade. De facto o CUMN tem tido bastante movimento, especialmente à quarta-feira, na missa das 19h15 para universitários, há muita gente que interrompe o dia e a semana para celebrar a eucaristia neste centro, e acho que este sinal da eucaristia das quartas, com tanta gente, também é um indicativo daquilo que as pessoas andam à procura...

Ao contrário que se possa pensar há muitos jovens que procuram esta ajuda, porque valorizam a dimensão espiritual e de fé?

Sim, muitos. Tem havido muita procura aqui em Coimbra, e noutros centros universitários dos jesuítas sei que se passa o mesmo. E acho que isto também é sinal de qualquer coisa, de que as pessoas estão cansadas de… enfim, não sei se posso usar esta expressão, mas estão cansadas de "falsas promessas", e querem procurar algo mais forte, mais profundo, mais duradouro. No fundo andamos todos à procura do mesmo, do sentido e da motivação pela qual eu vivo, trabalho e estudo. Aqui na universidade muitas vezes são colocadas estas questões: ‘porque é que eu estou a estudar e a tirar este curso?’, ‘como é que eu sei que estou no curso certo, que eu não me enganei?’, ou ‘termino o curso e vou para o desemprego, que sentido é isto tem?’. Há um medo terrível do futuro, e há perguntas para as quais nem sempre se encontram respostas satisfatórias. Também não estou a querer dizer que nós as damos aqui, mas acho que a experiência comunitária com Deus faz uma grande diferença.

Ajuda a fazer caminho?

Ajuda sobretudo a acompanhá-los no caminho. Cada um terá de fazer o seu caminho, e o nosso papel é acompanhá-los.

Comentários
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  • Pastel
    09 out, 2017 Tentúgal 08:03
    Podem encontrar jesuítas em muitas pastelarias pelo país fora. Já no estrangeiro, não sei!

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