25 out, 2017 - 11:00 • Olímpia Mairos
É em Palaçoulo, no concelho de Miranda do Douro, que vai ser fundado o primeiro mosteiro trapista em Portugal. Chama-se “Mosteiro Trapista de Santa Maria, Mãe da Igreja” e é uma fundação do Mosteiro de Vitorchiano (Itália), pertencente à Ordem Cisterciense da Estrita Observância (OCSO) também conhecida como “Trapista”.
Em entrevista exclusiva à Renascença, D. José Cordeiro conta que o mosteiro surge como desejo de um lugar de paz, de graça e de misericórdia como escola de liturgia, de oração, de silêncio, e também como possibilidade de acolhimento a 40 peregrinos.
O porquê desta ordem para esta diocese? Fale-nos de como se desenrolou o processo para a fundação do Mosteiro na Diocese.
É uma boa pergunta! Os sonhos de Deus ultrapassam-nos e há porquês que nós não sabemos responder; são fruto do dom da graça de Deus, como foi o nascimento deste mosteiro. O mosteiro de Vitorchiano (Itália) pensou fundar um mosteiro em Portugal, no contexto do centenário das aparições de Fátima. E queria também um sinal. E esse sinal era que um bispo fizesse a proposta. E ao ter conhecimento disto, através dos beneditinos, sendo a diocese de Bragança-Miranda dedicada a S. Bento e com um passado também de um mosteiro aqui, neste território, fizemos a proposta. E depois de muitos e difíceis encontros, foi possível encontrar o lugar que as monjas trapistas escolheram para a implementação do mosteiro trapista, da ordem cisterciense da estrita observância e no seguimento do espírito de S. Bento. É a primeira vez que os trapistas vêm para Portugal e acontece aqui, na Diocese de Bragança-Miranda, e também, depois de 472 anos do mosteiro beneditino de Castro de Avelãs, surge um novo mosteiro neste território. Tudo isto é graça de Deus.
Qual o objectivo que norteou a decisão desta especificidade de Vida Consagrada?
A grande escola da liturgia, da oração, do silêncio, do trabalho, de ser um lugar de paz, de graça e de misericórdia, naquilo que as Irmãs pensaram, no contexto do centenário das aparições em Fátima, e ser em Portugal, naquele lugar ali, não escolhido por ninguém, mas que, depois de muitas e difíceis tentativas e propostas, foi o lugar que elas mesmas escolheram, aquando da sua primeira visita à diocese.
Qual o valor do investimento e quem o vai suportar?
Será a Ordem Cisterciense da Estrita Observância, por isso foi aprovado no capítulo mundial da Ordem e, certamente, contarão também com muitos benfeitores… Mas com fundos próprios da Ordem, que está presente em todo o mundo, com centenas de mosteiros e que, certamente, tudo conjugará para a fundação desta esta nova casa, uma vez que também é a única que será fundada, em 2017, em todo o mundo.
Quando vai começar a obra e prespectivas de conclusão. Abre com quantas religiosas?
Esperamos que comece o mais breve possível. Estamos na fase do projecto de aquitectura e de todas as burocracias com a câmara municipal de Miranda do Douro e com outras estruturas regionais, para que, o mais breve possível, possa iniciar esta obra, que ela se construa durante o ano de 2018, e no início de 2019 iniciasse verdadeira e autenticamente o mosteiro de Santa Maria, Mãe da Igreja, em Palaçoulo, com 10 monjas.
O sonho deste mosteiro é o de ser o lugar da contemplação, da oração e do trabalho para 40 monjas – é assim que está pensado – e também como hospedaria para 40 pessoas. Irá iniciar-se com 10 monjas, vindas do mosteiro de Vitorchiano, que tem neste momento cerca de 80 monjas e, por isso, sentiram a necessidade de fazerem uma nova fundação. É interessante o dado do capítulo geral, realizado em setembro, em Assis, que, no mundo inteiro fecharam quatro casas e vão abrir uma e em Portugal, na diocese.
De que forma poderá o Mosteiro Trapista de Santa Maria, Mãe da Igreja falar à diocese de Bragança-Miranda?
Gostaríamos que fale à Diocese e à Igreja presente em Portugal e não só… Fale através da oração, do silêncio, da paz, do trabalho… E acredito que serão muitas pessoas, em especial os jovens, a visitar, a rezar com aquela comunidade e a interrogar-se com as pequenas e grandes perguntas da vida.
Considera que o povo transmontano saberá acolher e interpretar uma presença tão “estranha” e compreender a sua missão?
A arte da hospitalidade já está reflectida no próprio terreno. Conseguir 30 hectares naquela zona, com o contributo de 25 famílias, coordenados pela paróquia de Palaçoulo, já por si é um milagre. E este é já o primeiro grande sinal do acolhimento e da realização do sonho de Deus.
O mosteiro de origem é muito fecundo em fundações. Considera que também o futuro mosteiro Trapista de Santa Maria, Mãe da Igreja poderá florescer em vocações?
Deus queira que sim! Isso já não nos toca a nós, é sempre a graça de Deus a operar, mas acreditamos que sim, porque uma vida tão exigente, tão autêntica, tão feliz tem que dar fruto e ser mesmo muito fecunda.
Não considera comprometida, à partida, a continuidade do novo Mosteiro, dada a escassez de vocações à vida consagrada?
A fé é o grande risco na vida. E este é um risco que corremos juntos. E acreditamos que é um risco acompanhado pelo Céu e por Santa Maria, Mãe da Igreja neste centenário das aparições em Fátima. E temos sinais muito eloquentes e mais do que suficientes para acreditar no agora e no futuro fecundo deste mosteiro trapista de Santa Maria, Mãe da Igreja.