04 nov, 2017 - 16:30
A médica Margarida Neto disse este sábado que os projectos-lei sobre a eutanásia, que o Parlamento irá discutir, são contra a Constituição, a Declaração Universal dos Direitos do Homem e contra todos os códigos de ética médica.
Margarida Neto falava na concentração “Sempre pela Vida”, que juntou mais de mil pessoas em frente à Assembleia da República, em Lisboa, e que foi o culminar de uma marcha que se iniciou no largo Luís de Camões e seguiu pelo Bairro Alto até S. Bento.
“É uma lei que vai contra a cultura humanista do povo português, e contra a Constituição [da República] que afirma que o direito à vida é inviolável, é também contra a Declaração Universal dos Direitos do Homem, e contra todos os códigos de ética médica, incluindo a revisão actualizada do Juramento de Hipócrates, na assembleia médica mundial, no passado mês de Outubro”, disse Margarida Neto referindo-se aos projectos-lei a serem discutidos pelo Parlamento sobre a eutanásia e a morte clinicamente assistida.
Neste momento, há um projecto de lei já entregue pelo PAN- Pessoas Animais e Natureza e um ante-projecto de lei do Bloco de Esquerda, cujo debate este partido tem vindo a promover pelo país. Não há, por enquanto, qualquer agendamento para discussão parlamentar.
Margarida Neto referiu que “os bastonários da Ordem dos Médicos, incluindo o actual”, Miguel Guimarães, são contra a eutanásia, “problema que, em nenhuma circunstância e sob nenhum pretexto, é legítimo a sociedade procurar e pedir aos médicos para violarem o seu código deontológico”.
“Os princípios da medicina excluem a eutanásia, a distanásia (prolongamento artificial do processo da morte) e o suicido assistido”, disse Margarida Neto, que advertiu: “Mal vão aqueles que procuram instrumentalizar a medicina, com objectivos que são contrários à sua actividade. ”
“É função do médico minorar o sofrimento. Os deputados não têm legitimidade política ou moral, para aprovarem uma lei que destrói princípios fundamentais da cultura portuguesa e da medicina”, argumentou.
Antes falou Isilda Pegado, da Federação pela Vida, que organizou a caminhada e a concentração. Pediu ao Parlamento que “respeite os Direitos Humanos” e apelou para “uma sociedade do amor e da solidariedade, pela inclusão e pela igualdade”.
A manifestação saiu do Largo Luís de Camões em direcção à rua da Misericórdia, passou junto às igrejas de S. Roque, S. Pedro de Alcântara, S. Mamede e Nossa Senhora da Conceição, assim como pela Procuradoria Geral da República, seguindo pelo Largo do Rato e rua de S. Bento.
Apoio do Papa e do Patriarca
A abrir o desfile, um dos organizadores leu a carta enviada pelo Papa Francisco, na qual este saudava os participantes, enviando a sua bênção apostólica e considerando que se deve "voltar ao respeito da vida". Francisco, na mesma carta, escreveu que esta marcha deve ser vista como uma manifestação "contra a cultura do descarte, orientada por uma lógica económica".
Também o Patriarca de Lisboa deu o seu apoio explícito a esta caminhada, que considerou ser de todos, mas chamando ainda mais à responsabilidade os cristãos.
Já António Pinheiro Torres, da Federação Portuguesa pela Vida, disse à Renascença que a oposição à eutanásia não é só de um grupo religioso ou só e um sector partidário. “Esta convicção de que há outra resposta para as questões da dor e do sofrimento atravessa todos os partidos como atravessa toda a população, independentemente das suas convicções daquilo que acredita porque no fundo nasce da experiência humana", afirmou o ex-deputado.
"Nós amamos aqueles que são nossos, a nossa família, os nossos amigos, e que quando os vemos em dor e sofrimento aquilo que nós somos impelidos a fazer é ajudá-los. Esta convicção certamente está reflectida no Parlamento", acrescentou Pinheiro Torres.
Ao longo da caminhada ouviram-se palavras de ordem como “A vida em 1.º lugar”, “As barrigas não se alugam” e “O embrião é um de nós”, e os manifestantes entoaram várias canções como “Ó Rama, ó que Linda Rama”, do cancioneiro alentejano, “Vem Viver a Vida Amor”, de José Cid ou a marcha “Cheira Bem, Cheira a Lisboa”, de Anita Guerreiro, e o hino da caminhada, “Toda a vida é um bem maior”.
Entre os participantes na caminhada, contavam-se alguns religiosos e crianças. Os cartazes empunhados pelos manifestantes tinham inscrições como “Por favor não matem os velhinhos”, “O aborto mata a maternidade”, “Ajudem-nos a viver e não a morrer”, ou “Aliviar sim, matar não”.
Além de Lisboa realizaram-se também caminhadas “Sempre pela Vida” em Aveiro e no Porto.
[actualizado às 20h43]