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“A morte não é solução. O que temos é de aliviar o sofrimento das pessoas”

06 nov, 2017 - 18:09 • Ângela Roque

VII Jornadas Hospitaleiras de Pastoral da Saúde querem ser um contributo para a reflexão sobre a eutanásia e ajudar quem cuida a “dar sentido e esperança às pessoas”, apostando na proximidade e no alívio de quem sofre.

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"Da solicitude à esperança: desafios aos agentes da pastoral da saúde" é o tema das VII Jornadas organizadas pela Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus. O encontro vai decorrer na Casa de Saúde da Idanha, em Sintra, e é aberto ao público em geral.

Em entrevista à Renascença, a irmã Paula Carneiro explica que, além da partilha de experiências - que é fundamental para os profissionais de saúde e para quem faz o acompanhamento espiritual dos doentes - estas jornadas são um contributo para a reflexão que o país precisa de fazer sobre a eutanásia. Porque há riscos e perigos que estão subavaliados.

"Da solicitude à esperança: desafios aos agentes da Pastoral da Saúde" foi o tema escolhido para estas jornadas. Há cada vez mais desafios para quem lida com os doentes nesta área?

Este ano quisemos salientar este tema porque pensamos que uma das coisas que nos ajuda a todos a enfrentar melhor o sofrimento é a presença e o cuidado das pessoas. A forma como estamos diante de quem sofre pode-nos ajudar a fazer sentir à pessoa que não está só no seu sofrimento e que a morte não tem a última palavra. Daí a esperança. As jornadas possibilitarão irmos reflectindo juntos sobre estes desafios que se colocam, o desafio da presença, da relação, da escuta, e da importância de oferecer sentido à vida das pessoas.

Mesmo para quem está habituado a cuidar de doentes em situação limite é importante esta reflexão conjunta e a partilha de experiências?

Sim, até porque nenhum de nós sabe tudo e aprendemos muito com as experiências uns dos outros. E sobretudo se tivermos uma grande capacidade de reflexão e de autorreflexão, isso possibilita-nos também consolidar práticas, sobretudo as boas práticas. Porque, de facto, no acompanhamento e na ajuda às pessoas que sofrem, também na acção pastoral é preciso profissionalismo e sabermos o que estamos a fazer. E nesse sentido também queremos contribuir como instituição da Igreja para ajudar a quem realiza este trabalho no dia-a-dia, que o faça com saber e com competência, mas também com muito coração.

Estas jornadas decorrem numa altura em que o Parlamento se prepara para legislar sobre a eutanásia. É uma forma de contribuírem para a reflexão sobre esta matéria?

Acho que, como instituição de Igreja, temos esse dever e essa obrigação. Para nós, o acompanhar e respeitar a vida em todas as suas circunstâncias está em primeiro lugar e o que está ao nosso alcance é poder fazer tudo para aliviar o sofrimento e para dar sentido e esperança à pessoa. Estas jornadas nesta altura vêm precisamente para isso, para ajudar a posicionar-nos, como instituição de Igreja, que queremos ser uma referência nesta área, acompanhando pessoas em fim de vida.

Efectivamente, temos acompanhado pessoas em sofrimento e muitas vezes em sofrimento psíquico que desejam a morte. Quando falamos em eutanásia podemos resvalar para áreas onde efectivamente não há liberdade de decisão, que é a área sobretudo da doença psiquiátrica. Então aí, acho que há outros campos de reflexão e debate que deviam ser abertos, por isso achámos por bem estas Jornadas poderem surgir nesta altura e poder abrir este debate à população, à sociedade civil. É preciso estarmos bem informados sobre o que é que implica. Quando eu digo “quero morrer porque a minha vida já não faz sentido”, o que é que isto implica de livre arbítrio? Muitas vezes pela situação de doença grave, quer psiquiátrica quer física, não há liberdade de opção, e então isto também nos pode levar a reflectir? Como é que podemos ajudar a pessoa e o que é que este apelo pode querer dizer que não necessariamente seja a morte?

O que é que a vossa experiência na área da saúde mental vos tem mostrado?

Muitas vezes – a maioria das vezes – quando o doente nos pede para morrer, o que não quer é o sofrimento. E creio que a única resposta ao sofrimento é a presença, o cuidado, o tal oferecer o “abraço de Deus”, como diz o Papa Francisco muitas vezes, podermos oferecer esta consolação de Deus às pessoas, oferecendo-lhes sentido para a vida, nunca para a morte.

O programa das Jornadas inclui algumas conferências e um workshop, quase todos relacionados com a eutanásia.

Sim, a conferência inaugural tem o tema “Humanizar e cristianizar o tempo de morrer: desafios pastorais” e abordará a questão da proximidade da morte e o grande desafio que é humanizar este tempo de morrer, e como é que se colocam desafios a quem acompanha os doentes. A reflexão sobre a esperança e a morte continuará nos painéis seguintes: um é sobre o “Desejo de morrer ou medo de viver uma vida sem sentido” – porque quem trabalha nesta área da saúde mental sabe que é preciso perceber bem o que é que está por trás de um desejo de morrer – e outro sobre “A inevitabilidade da morte”, para vermos como é que em termos pastorais ajudamos as próprias famílias a lidar com estes processos, e até a própria equipa que acompanha o doente, porque nós temos que nos cuidar para efectivamente cuidarmos melhor dos outros.

A força de viver e a fé estarão em foco nos painéis da tarde, primeiro na conferência “Cuidado e esperança no sofrimento”, sobre a importância da entreajuda, do cuidado de proximidade, e depois no workshop “Estratégias de promoção da esperança e bem-estar espiritual – desafios pastorais”, que nos possibilitará, através de dinâmicas mais práticas, ver estratégias para a promoção da esperança, das quais esperamos poder tirar proveito para a aplicação prática no dia-a-dia.

Quem quiser pode assistir às jornadas?

Habitualmente dinamizamos estas jornadas de forma a poder divulgar ao máximo de pessoas que possam ter interesse nestas áreas, que gostassem de aprofundar os seus conhecimentos e também contribuir para a discussão. Acho que isto é fundamental. É um encontro aberto a todas as pessoas que se identificam com o tema, podem ou não trabalhar dentro do Instituto das Irmãs Hospitaleiras. O que queremos é ajudar a fazer crescer a esperança nas pessoas em sofrimento. O nosso mundo está muito cheio de sofrimento e nós, cristãos, temos de oferecer este “abraço de Deus”.

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  • Vera
    07 nov, 2017 Palmela 16:32
    Por experiência que já vivi, vi com os meus olhos, que quando queremos morrer, basta cerrar os dentes e não deixar entrar mais alimento! pedir a Deus que seja breve e pronto! Aceitar a morte, sem medo! esperar e sorrir, porque vai sair desta. É assim, sempre foi! não alterem a vontade de Deus. A eutanásia não dá oportunidade do que é oportuno! dá oportunidade àqueles que são apressados! a pressa é o mais cómodo, nos tempos que decorrem.
  • Mario
    07 nov, 2017 Portugal 01:02
    Por causa da proibição da eutanásia sei de um caso onde o doente estava acamado a muitos anos que ate tinha a pele nas costas e outros lugares estavam em carne viva acabou por morrer depois de um sofrimento atroz durante anos. Sera que deixar morrer pessoas dessa maneira e em muitos outros casos e contra a dita ética medica. Penso que e muito mais desumano deixar pessoas nesse sofrimento do que praticar a eutanásia. pois no final acabam por morrer. A eutanásia devia ser permitida desde que o interessado o desejasse pois a vida e dele e ninguém tem o direito de impedir a sua vontade. A meu ver os médicos usam essas pessoa como cobaias em experiências e o que me leva a pensar pois eles sabem que a pessoa em questão nunca ficara melhor....
  • jose antonio
    06 nov, 2017 barreiro 19:48
    esta deve ser piada nova. Os médicos decidem os doentes que vão viver.
  • Costa
    06 nov, 2017 Faro 19:10
    Confesso que não li o artigo mas fiquei pelo título em que diz que "a morte não é a solução, o que temos é que aliviar o sofrimento das pessoas". Então como? Drogá-las. E drogá-las como se se atingir um tal estádio da doença que nenhuma droga consegue debelar as dores a não ser em doses altíssimas.... que acabam por matar? Coma assistido. Claro e isso beneficia quem? O doente ou os familiares do doente que no seu egoismo se sentem melhores com a suas consciências em ver aquele corpo definhar, numa luta constante contra as escaras, eventualmente, infecções nosocomiais e por aí vai? Claro que ficaremos melhor com as nossas consciências mas nem por isso deixámos de o matar, porque agora sim, escolhemos o modo de ele morrer e da pior maneira. Deixem-se de hipocrisias.

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