25 nov, 2017 - 17:44 • Susana Madureira Martins
Quem mais sofre com os atentados provocados por muçulmanos são os próprios muçulmanos, diz o líder da Mesquita Islâmica Central de Lisboa.
David Munir reage assim ao atentado de ontem no Egipto que matou mais de 300 pessoas numa mesquita no Sinai, frequentada por muçulmanos sufi.
Munir falou no Seminário da Luz, numa conferência organizada pela Comissão Nacional Justiça e Paz, em Lisboa, sobre migrações e diálogo de culturas onde lamentou aquele acto de terrorismo.
“Ontem, infelizmente, houve um atentado numa mesquita feito por muçulmanos. Quem mais sofre com esses últimos atentados são os próprios muçulmanos. Nenhum atentado se justifica em nome de qualquer religião. Há um versículo do Alcorão que diz: ‘Aquele que salvar uma pessoa salva toda a humanidade, aquele que matou uma pessoa matou toda a humanidade”, disse.
O sheik David Munir sublinhou nesta palestra que o Islão sempre conviveu e dialogou com as outras religiões monoteístas, nomeadamente com cristãos e judeus.
Munir acrescentou ainda que, e dando exemplo dessa aproximação entre religiões, que o Islão "acredita que a mensagem de Jesus veio de Deus e que o seu nascimento é milagroso", sublinhando ainda que a Maria é dedicado o "décimo nono capítulo do Alcorão".
No final do painel em que participou, o líder da mesquita central de Lisboa, garantiu que a comunidade muçulmana em Portugal "não tem nenhum problema de integração", dando também a garantia que estará "sempre disponível para o diálogo independentemente da crença".
Ficou, entretanto, o convite para que todos os que assistiram a esta conferência no auditório do Centro Cultural Franciscano, em Lisboa, visitem "a mesquita em qualquer dia ou hora".
A "irmã" Zahara e a irmã Maria Manoel
Nesta conferência dedicada às migrações e diálogo de culturas houve espaço também para dois depoimentos sobre o acolhimento de refugiados em Portugal.
A primeira experiência relatada foi a de Joana Rigato, uma professora de Filosofia no Colégio São João de Brito, em Lisboa, que decidiu abrir as portas da própria casa a uma família de iraquianos em Março deste ano.
Trata-se da família Aljazaeri, um casal e um filho que chegaram à capital portuguesa por via de uma autêntica rede de voluntários, apoiados pela Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR).
Joana Rigato contou nesta conferência que a ligação entre a sua própria família e a dos Aljazaeri tornou-se tão próxima que actualmente trata a Zahara, a mulher do casal, por "irmã", explicando a boa integração dos três iraquianos, que, entretanto, se tornaram quatro já em Portugal, já que Zahara chegou grávida de oito meses.
Muito diferente foi a integração de outros refugiados que chegaram ao nosso país, numa experiência contada pela Irmã Maria Manoel, uma freira das Escravas do Sagrado Coração de Jesus.
Esta congregação religiosa recebeu até agora quatro famílias de refugiados e os que mostraram mais problemas de integração foram duas famílias provenientes da Síria instaladas em Palmela.
A irmã Maria Manoel explicou mesmo que houve "alguma dificuldade de socialização" e mesmo "uma certa resistência", de tal maneira que uma das famílias, composta por uma mãe e três crianças fugiu da casa de acolhimento "sem dizer nada a ninguém". A outra família ainda se despediu e foi para a Alemanha.
Tudo isto provoca, segundo a irmã Manoel, um problema até de "gestão dos nossos sentimentos e das pessoas que colaboram connosco", que rematou que "não é pedir muito, nem que seja um obrigado" por parte dos refugiados.
Em relação às outras duas famílias acolhidas pela Congregação, tratam-se de cidadãos do Iraque que estão, segundo a religiosa, "cada vez mais autónomos" e já falam português, contando que uma das famílias é composta por uma mãe com pouca mobilidade - desloca-se de cadeira de rodas - tendo a cargo quatro filhos.
O principal problema relatado pela irmã Maria Manoel é o "processo lento de socialização" destas pessoas que chegam a Portugal.