30 nov, 2017 - 12:20 • Aura Miguel , Filipe d'Avillez
A viagem do Papa ao Myanmar e ao Bangladesh, que proessegue esta quinta-feira com a chegada de Francisco a Daca, tem sido marcada por tensão e um grande jogo de equilíbrio diplomático devido à crise dos rohingya, a comunidade muçulmana do Estado de Rakhine, na fronteira entre os dois países, levando centenas de milhares de pessoas a fugir para o lado Bangladeshi da fronteira.
O Papa referiu-se à situação na sua estadia no Myanmar, mas tinha-lhe sido recomendado que não usasse o termo rohingya, pois o governo não reconhece a etnia, dizendo que se tratam de bengalis que vieram do Bangladesh ao longo dos anos. A sua nacionalidade birmanesa não é reconhecida.
Agora que está em Daca, capital do Bangladesh, o Papa continua sem dizer a palavra proibida, mas o seu anfitrião, o Presidente Abdul Harmid, não fez cerimónia e no seu discurso de boas vindas não só disse “rohingya” mais que uma vez, como teceu fortíssimas críticas às Forças Armadas do Myanmar.
“Como sabe, o nosso Governo deu guarida a um milhão de rohingyas que foram expulsos das suas terras ancestrais no estado birmanês de Rakhine. Milhares deles, incluindo mulheres e crianças, foram brutalmente mortos, milhares de mulheres foram violadas. Viram as suas casas reduzidas a cinzas. Tiveram de se refugiar no Bangladesh para escapar às atrocidades impiedosas levadas a cabo pelo exército do Myanmar”.
Mas não foi tudo. “O nosso povo recebeu-os de braços abertos, partilhando comida, guarida e outras necessidades básicas. Aceitaram o incómodo de os receber numa terra tão densamente populada. Agora é nossa a responsabilidade de lhes garantir um regresso seguro, sustentável e digno às suas próprias terras e uma integração social, económica e política na vida do Myanmar”.
Antes da sua viagem ao Myanmar o Papa já tinha falado várias vezes da situação dos rohingya, e isso foi sublinhado por Harmid. “A louvável posição que Sua Santidade assumiu a favor dos afligidos rohingyas e os seus apelos apaixonados contra tal brutalidade alimentam a esperança pela resolução desta crise. A sua proximidade para com eles e os apelos para que sejam auxiliados e lhes sejam garantidos os seus plenos direitos, atribui responsabilidade moral à comunidade internacional para agir de forma rápida e sincera”.
Falando depois do Chefe de Estado do Bangladesh, o Papa Francisco elogiou a generosidade do povo em acolher os refugiados. “Nos meses passados, pôde-se observar de maneira bem tangível o espírito de generosidade e solidariedade – sinais caraterísticos da sociedade do Bangladesh – no seu ímpeto humanitário a favor dos refugiados chegados em massa do Estado de Rakhine, proporcionando-lhes abrigo temporário e provisões para as necessidades primárias da vida. Isto foi conseguido à custa de não pouco sacrifício; e foi realizado também sob o olhar do mundo inteiro.”
“Nenhum de nós pode deixar de estar consciente da gravidade da situação, do custo imenso exigido de sofrimentos humanos e das precárias condições de vida de tantos dos nossos irmãos e irmãs, a maioria dos quais são mulheres e crianças amontoados nos campos de refugiados. É necessário que a comunidade internacional implemente medidas resolutivas face a esta grave crise, não só trabalhando por resolver as questões políticas que levaram à massiva deslocação de pessoas, mas também prestando imediata assistência material ao Bangladesh no seu esforço por responder eficazmente às urgentes carências humanas”, disse Francisco.
A visita do Papa ao Bangladesh incluirá ainda um encontro com um pequeno grupo de refugiados rohingya.
“A religião é de cada um, as suas festas são para todos”
Outro tema comum aos dois discursos foi a tolerância religiosa no Bangladesh. O país, é de esmagadora maioria muçulmana e os católicos, por exemplo, são apenas 0,2%. Há ainda comunidades protestantes, hindus e de outras minorias religiosas.
Apesar da existência de alguns focos de extremismo islâmico, o Papa reconheceu que “O Bangladesh é conhecido pela harmonia que tradicionalmente existe entre os seguidores de várias religiões” e disse que “num mundo onde muitas vezes a religião é – escandalosamente – usada para fomentar a divisão, revela-se ainda mais necessário um tal género de testemunho do seu poder de reconciliação e união.” Francisco recordou ainda o aentado terrorista do ano passado e a forma como a sociedade se manifestou numa “mensagem clara enviada pelas autoridades religiosas da nação, segundo a qual o santíssimo nome de Deus não pode jamais ser invocado para justificar o ódio e a violência contra outros seres humanos, nossos semelhantes”.
Já antes, o Presidente Harmid tinha referido a noção da sociedade bangladeshi de que “a religião é de cada um, mas as suas festas são para todos”. O líder político elogiou a liberdade religiosa, disse que o seu país tem lutado contra o extremismo, mas manifestou preocupação com “o aumento da islamofobia e dos crimes de ódio em muitas sociedades ocidentais, que afecta de forma adversa a vida de milhões de pessoas que vivem pacificamente a sua fé.”
O Papa permanece dois dias no Bangladesh, regressando no sábado a Roma.
Ainda esta manhã, depois de ter chegado a Daca, Francisco visitou o memorial nacional aos mártires e depois participou numa homenagem ao “pai da Pátria”, no museu de Bangabandhu antes de fazer a visita de cortesia ao Presidente e de se reunir com as autoridades, sociedade civil e corpo diplomático, no Palácio presidencial.
A Renascença com o Papa em Myanmar e no Bangladesh.
Apoio: Santa Casa da Misericórdia de Lisboa
O Papa permanece dois dias no Bangladesh, regressando no sábado a Roma.
Ainda esta manhã, depois de ter chegado a Daca, Francisco visitou o memorial nacional aos mártires e depois participou numa homenagem ao “pai da Pátria”, no museu de Bangabandhu antes de fazer a visita de cortesia ao Presidente e de se reunir com as autoridades, sociedade civil e corpo diplomático, no Palácio presidencial.
A Renascença com o Papa em Myanmar e no Bangladesh. Apoio: Santa Casa da Misericórdia de Lisboa