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Rozario, Costa e Gomes esperam Papa no Bangladesh

30 nov, 2017 - 06:52

A língua bangla contém 1.500 termos portugueses e a comunidade católica deste país de maioria muçulmana tem as suas raízes na chegada dos portugueses, há 500 anos.

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O Papa Francisco chega esta quinta-feira ao Bangladesh, para a segunda parte da sua visita à Ásia.

O programa oficial inclui encontros com as autoridades e com a comunidade católica, que conta com cerca de 350 mil fiéis. Francisco vai encontrar-se também com os bispos católicos, entre os quais se destaca o cardeal Patrick D’Rozario e os seus dois bispos auxiliares Shorot Francis Gomes e Theotonius Gomes. No episcopado bangladeshi há ainda um Moses Costa e o bispo Bejoy Nicephorus D’Cruze, apelidos que são uma recordação clara da influência portuguesa no cristianismo deste país.

Mas esta influência não se resume à religião. O embaixador do Bangladesh em Lisboa, Imtiaz Ahmed, explica que ainda existem no vocabulário bangla muitas palavras portuguesas. “Os portugueses foram os primeiros europeus a chegar ao Bangladesh. Temos mais de 1.500 palavras portuguesas no nosso vocabulário, como janela, varanda ou almari, que significa armário. Temos muita influência portuguesa na língua e na cultura”, diz.

“Por exemplo, não somos grandes consumidores de queijo, temos apenas dois tipos de queijo no Bangladesh. Mas um deles foi trazido pelos portugueses e ainda hoje se consome.” Hoje, diz, a situação é inversa, com uma comunidade crescente de bangladeshis a vir viver para Portugal.

Império invisível que Governo não acompanha

O historiador Miguel Castelo Branco explica que “a India durante 400 anos foi governada pelo chamado Império do Grão-Mogol. O Grão-Mogol hostilizava os cristãos, mas protegia os portugueses, porque sabia que eram agentes importantes dinamizadores do comércio e da riqueza. No caso do Bangladesh que é um país que se inunda com facilidade, os portugueses penetraram ligeiramente no interior.”

O orgulho dos luso-descendentes pelas suas raízes não é um exclusivo do Bangladesh ou do Myanmar, onde o Papa esteve antes, mas repete-se em vários locais da Ásia, incluindo no Sri Lanka, na Índia, em Malaca e na Tailândia. É uma clara diferença para outras potencias europeias que deixaram menos saudades, nomeadamente porque os portugueses misturavam-se com as populações locais, explica Miguel Castelo Branco.

“As populações católicas que se orgulham das suas raízes portuguesas são imensas. E até têm a faculdade de resgatar do isolamento e da sua condição social marginal os mestiços feitos pelos ingleses e pelos holandeses. Todos eles, quer em Batávia – actual Jakarta – quer no actual Sri Lanka, muitos dos descendentes de marinheiros e soldados holandeses quiseram ficar portugueses e tomaram nomes portugueses, não querem nada com essa memória e com essa ancestralidade cultural holandesa.”

Enquanto a expansão britânica e holandesa foi feita em grande medida com base em companhias, a presença portuguesa “é efectiva e desenvolve-se em vectores profundíssimos, não é só uma presença de estado, económica e comercial. É uma presença religiosa, cultural e de populações que passam a ser portuguesas, dentro e fora dos limites do próprio império português.”

O que leva o historiador, que viveu muitos anos na Tailândia mas agora trabalha na Biblioteca Nacional, a falar num império invisível. “Isto pode parecer um pouco exagerado, mas há um império invisível português na Ásia que tem a ver com todas estas comunidades católicas, que continuam vivas, algumas com alguma influência, e que Portugal infelizmente não acompanha, porque são vectores poderosíssimos de relacionamento com os estados.”

O Papa Francisco ficará dois dias no Bangladesh, regressando a Roma no sábado.

Esta é a terceira vez que um Papa visita o país. Paulo VI passou lá em 1970, quando o Estado se chamava ainda Paquistão Oriental, o segundo foi João Paulo II em 1986.

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