21 dez, 2017 - 17:38
O padre Artemio Vítores apresenta-se a quem o visita como “o guardião do menino Jesus”.
Apesar de ser natural de Espanha, este frade franciscano está há cerca de 50 anos na Terra Santa e actualmente é o responsável católico da Igreja da Natividade, em Belém.
O número de peregrinos aumenta sempre nesta cidade por altura do Natal. Belém continua a ser uma das cidades com maior preponderância de cristãos na Terra Santa, mas continuam a ser uma comunidade frágil e que depende da estabilidade e da paz.
O padre Artemio, que já viveu oito conflitos armados e duas intifadas, sublinha que nessas alturas o turismo ressente-se. “Se não houver peregrinos, muitas pessoas não sobrevivem. Não há trabalho, não há comida.”
Em Jerusalém, por exemplo, a população cristã já representou 20% do total. Hoje é 1.4%. “Se não trabalharmos em conjunto, os cristãos vão desaparecer da Terra Santa. E como é que podemos ajudar? Visitando esta terra. Isto dá apoio tanto moral como económico aos seus habitantes”, explica.
É por isso com preocupação que o franciscano, e os cristãos em geral, vêem a polémica e a onda de contestação gerada pela decisão de Donald Trump de reconhecer Jerusalém como capital de Israel.
“Jerusalém tem de ser a mãe de todos e não a amante de um”, diz. A imagem pode parecer surpreendente, mas o padre Artemio apressa-se a explicar que “a imagem de Jerusalém como mãe vem do Antigo Testamento, e uma mãe nunca exclui qualquer dos seus filhos. Se passar a ser capital de Jerusalém, ou da Palestina, essa será uma acção de exclusão e eixará de haver espaço para os outros.”
Em Belém também se sente nervosismo com estes eventos. “Estes são tempos difíceis. A paz que os pastores anunciaram neste lugar santo sempre foi difícil”, diz.
Ainda assim, este é um local que não deixa de o emocionar. “Se há lugar santo no mundo que ainda se assemelha ao que era na altura, é Belém. A Basílica sofreu muitas vicissitudes, mas nunca foi destruída, e a gruta de Belém permanece aquilo que sempre foi, uma gruta.”
Em relação à gruta, onde segundo a tradição cristã nasceu Jesus, o padre Artémio diz que “actualmente celebro lá missa todos os dias às 4h55 e ainda me traz lágrimas aos olhos pensar que aqui, neste lugar, Deus escolheu tornar-se um de nós. A simplicidade de Deus que se fez menino. Um recém-nascido, que nem berço tinha! É esta pobreza que me move”, diz.
A entrevista do padre Artemio foi concedida à fundação Ajuda à Igreja que Sofre, que desenvolve várias iniciativas de apoio aos cristãos na Terra Santa e no Médio Oriente em geral. Só em 2017 foram 17 milhões de euros para esta região.
O padre Artemio agradece o apoio e relaciona-o com a época. “Se não virmos o Menino naqueles que estão a sofrer, que género de Natal é esse?”.