10 jan, 2018 - 18:19
O Papa Francisco assumiu esta quarta-feira o controlo de uma organização católica do Peru, depois de terem surgido alegações de abusos sexuais por parte do seu fundador.
A organização Sodalitium Christianae Vitae (SCV) foi fundada no Peru por Luis Figari, um leigo, e os seus membros tendem a pertencer sobretudo à elite social e financeira.
Em 2015, porém, um livro escrito por dois jornalistas, um dos quais um ex-membro do grupo, apontou para vários casos de abusos sexuais e de autoridade por parte de Figari, levando as autoridades a abrir um inquérito. O fundador do grupo, que já tinha abandonado a sua chefia em 2010, vai ser presente a tribunal ainda este ano.
Um relatório interno levado a cabo pelo próprio SCV concluiu no ano passado que Figari e outros três dirigentes tinham abusado de pelo menos 19 menores e 10 adultos entre os anos de 1970 e 2000. O relatório acusa Figari de ser uma pessoa autoritária e carismática, que tinha o hábito de humilhar os membros do grupo, como parte da sua estratégia para os controlar. Compara-o ao líder de uma seita.
Agora, e uma semana antes de visitar o Peru, o Papa nomeou o bispo colombiano Noel Antonio Londono Buitrago para assumir o controlo do grupo. A medida foi tomada após “cuidadosa análise de toda a documentação” e depois de o Vaticano ter seguido a situação “com preocupação” durante vários anos, segundo uma nota divulgada pela Santa Sé esta quarta-feira.
Esta não é a primeira vez que o Vaticano assume o comando directo de uma organização religiosa. Em 2010 a Legião de Cristo, fundada no México, foi sujeita à mesma medida depois de se ter dado como provado que o seu fundador, o padre Marcel Maciel, tinha um historial de abusos sexuais e consumo de droga.
Em 2014 os Franciscanos da Imaculada, uma ordem conservadora mas em grande crescimento, viram o Papa apontar um administrador por entre acusações de uma deriva demasiado tradicionalista.
Por fim, em 2017 assistiu-se a um conflito aberto entre a direcção da Ordem de Malta e o Papa, com Francisco a forçar a demissão do então líder daquela ordem soberana e nomeando um delegado para assumir o controlo até à realização de eleições.
Embora cada caso tenha tido as suas particularidades, estas quatro organizações têm em comum o seu conservadorismo e o facto de, pelo menos no caso da Ordem de Malta, CSV e Legião de Cristo, moverem-se sobretudo entre as altas esferas sociais e financeiras dos países em que estão presentes.