15 jan, 2018 - 11:34 • André Rodrigues com Redacção
O Papa Francisco teme uma guerra nuclear. A revelação foi feita esta segunda-feira pelo Papa, a bordo do avião que o levará ao Chile.
Questionado pelos jornalistas se temia a possibilidade de uma guerra nuclear, Francisco respondeu: “Penso que estamos num limite. Tenho muito medo disso. Um incidente apenas pode ser suficiente para precipitar as coisas”.
“É preciso eliminar as armas nucleares, trabalhar pelo desarmamento”, acrescentou.
Os jornalistas que o acompanham no avião receberam do porta-voz do Vaticano uma pagela com o título “O fruto da guerra”, legendando a foto de uma criança japonesa que carrega o seu irmão morto no bombardeamento atómico de Nagasáqui.
A oferta do Papa foi explicada pelo próprio: “É uma imagem que comove mais do que mil palavras”.
A chegada ao Aeroporto Internacional de Santiago do Chile está prevista para as 20h10 locais (mais três em Lisboa).
Na última semana, o Papa enviou uma mensagem às populações do Chile e Peru, países que vai visitar até dia 22, sublinhando a importância da misericórdia e da “proximidade de Deus”.
A viagem de Francisco ao Chile e ao Peru é a quarta deslocação do Papa à América Latina e a sua 22.ª viagem internacional.
Um mapa de tensão
As declarações de Francisco surgem quando aumentam os receios sobre a possibilidade de um conflito nuclear.
Há nove países com armamento nuclear, segundo dados do Instituto de Investigação para a Paz de Estocolmo: Estados Unidos, Rússia, França, Reino Unido, Índia, Paquistão, China, Israel e Coreia do Norte. Em 2017, estes Estados armazenavam 15.000 armas nucleares.
Nos últimos meses, devido a uma “guerra” retórica entre os presidentes dos Estados Unidos e da Coreia do Norte, os olhos do mundo puseram-se sobretudo no que Pyongyang pode fazer.
Um relatório recente do Instituto de Ciências e Segurança Internacional, com sede em Washington, diz, contudo, que a Coreia do Norte terá entre 13 e 30 armas nucleares, muito menos do que as sete mil ogivas detidas pela Rússia ou as 6.800 dos Estados Unidos.
Apesar de o arsenal nuclear ser mais pequeno do que os rivais dos EUA, estudos sugerem que um possível ataque norte-coreano contra os vizinhos do Sul e do Japão poderia resultar num saldo superior a dois milhões de mortos. Um míssil norte-coreano pode também atingir interesses norte-americanos – como a ilha de Guam, no Pacífico, situada a 3.400 quilómetros a sudeste da Coreia do Norte.
Guam, que faz parte dos Estados Unidos, tem 163 mil habitantes e um contingente militar de seis mil militares norte-americanos, entre instalações aéreas e navais.
A acrescentar tensão a este cenário estão as intenções de Donald Trump de reforçar o desenvolvimento e o uso de armas nucleares.
A estratégia de segurança nacional dos Estados Unidos sugere a utilização de bombas atómicas em resposta a ataques não nucleares, incluindo ciberataques contra interesses de Washington. Esta nova orientação contraria a que foi seguida pela administração Obama, que tentou reduzir o papel do nuclear na defesa norte-americana.
Outro foco de tensão é o acordo nuclear iraniano, alvo de muitas críticas e ameaças por parte de Trump.
Os EUA acusam a republica islâmica de violar o acordo assinado em 2015 pelo Irão e pelos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança, a Alemanha e a União Europeia.
O acordo impôs várias restrições ao programa nuclear do Irão como caução contra a alegada intenção de Teerão de desenvolver uma arma nuclear, em troca do levantamento de parte das sanções impostas ao país.
O acordo permitiu conter uma situação extremamente tensa e mesmo uma potencial ameaça de guerra entre Israel, com o apoio dos Estados Unidos, e o Irão.