25 jan, 2018 - 23:10 • Ângela Roque
O debate foi organizado pelo Secretariado Nacional das Comunicações Sociais e juntou profissionais de vários órgãos de informação e responsáveis pelos gabinetes de imprensa de dioceses e instituições ligadas à Igreja. E ficou claro que as ‘fake news’ que tanto preocupam o Papa, também preocupam os comunicadores em geral.
Mas, como é que se pode contrariar esta realidade das ‘notícias falsas’? Olivier Bonamici, comentador da Eurosport, considera urgente que a mudança comece cedo. “Na minha opinião o que é preciso é educação. As crianças têm de ser educadas para saber o que é uma notícia, o que é uma fonte. Porque não dar isto na escola? Faz parte do dia a dia das crianças. Porque não?”.
Mas, se a escola pode ter aqui um papel importante, o dos pais também não pode ser descurado. “A educação começa em casa, e as crianças devem ser motivadas a questionar, a trocar ideias”, defendeu Teresa Canto Noronha, da SIC, para quem muito do que pode mudar passa igualmente pelos próprios profissionais de comunicação, que não podem perder o sentido crítico, apesar da velocidade a que são obrigados a trabalhar. “Todos sabemos a pressão que hoje temos para pôr uma notícia no ar. É sempre para ontem, porque há os sites, o on line, isto e aquilo. Isto vai contra os princípios básicos do jornalismo como eu aprendi quando comecei nos jornais, há 30 anos. O ‘vamos com calma ver se isto é verdade, assegurar o contraditório’. Não há tempo, e o que nós temos de fazer é encontrar formas de nos defendermos da velocidade a que nos é exigida a informação hoje”.
A pressão a que estão sujeitos os jornalistas foi um dos problemas sublinhado no debate pela jornalista espanhola Begonha Iniguez. A correspondente da rádio Cope em Lisboa lembrou a tragédia dos fogos de Junho em Pedrógão Grande para mostrar como as ‘fake news’ são muitas vezes criadas pelas próprias fontes de informação, até oficiais, seja por incompetência, falta de rigor ou de forma propositada quando querem manipular os jornalistas. “Lembram-se certamente quando se noticiou, e a fonte foi da protecção civil, que um avião espanhol tinha caído, e todos demos a notícia. Eles foram incapazes de reconhecer que tinham sido eles a dar a notícia aos jornalistas. Não somos só nós que temos de ser rigorosos”, sublinhou.
Para a jornalista espanhola a realidade tem mostrado como o jornalismo é indispensável. “Com a chegada de Donald Trump, a Europa que está como está, a nossa profissão é mais importante que nunca”, afirmou, lamentando que em muitas empresas os jornalistas não sejam devidamente valorizados, mesmo em termos salariais, e que as redacções vão perdendo a memória com o afastamento dos profissionais mais velhos e mais experientes.
Vitor Bandarra, da TVI, lembrou o “princípio da não necessidade”, para afirmar que “um jornalista que tem responsabilidades não pode ganhar 600 euros por mês”.
Sobre as ‘fake news’, ou ‘notícias falsas’, diz que prefere traduzir a expressão de outra forma. “são noticias falsificadas, o que não é a mesma coisa. Há noticias falsas, mas as mais perigosas não são essas, são as falsificadas”. E gostou de ler na mensagem do Papa que é preciso “redescobrir o jornalismo”, porque “neste momento o que está em causa é a própria democracia”.
Apesar das dificuldades todos se manifestaram optimistas relativamente ao futuro e à sobrevivência do jornalismo como “garante da verdade” para quem ouve, lê e vê notícias. “Eu acho que as fake news vão recolocar o jornalismo na credibilidade”, afirmou o francês Olivier Bonamici, que deu como exemplo o que está a acontecer no seu país Natal, onde o Le Monde, por exemplo, já criou uma secção que ajuda os leitores a “descodificar” a informação que lhes chega por outras vias. “Em França a credibilidade da imprensa escrita e da rádio está a subir a pique, 10 pontos só no último ano. Porque no mundo da internet aparecem as noticias todas, mas as pessoas precisam dos jornalistas para os ajudarem a ver mais claro. Por isso acredito cada vez mais no futuro da imprensa escrita e da rádio”.