06 fev, 2018 - 11:31 • Aura Miguel
“Porque se multiplicará a iniquidade, vai resfriar o amor de muitos”. Este é o título da mensagem para a Quaresma de 2018, divulgada pelo Vaticano. Francisco deixa votos de que os seus apelos ultrapassassem as fronteiras da Igreja Católica, dirigindo-se a todos os que se preocupam com a “iniquidade no mundo” e o “gelo que paralisa os corações”, com a perda do sentido da humanidade comum.
Falsos profetas
“Quantos homens e mulheres vivem fascinados pela ilusão do dinheiro, quando este, na realidade, os torna escravos do lucro ou de interesses mesquinhos! Quantos vivem pensando que se bastam a si mesmos e caem vítimas da solidão! Outros falsos profetas são aqueles «charlatães» que oferecem soluções simples e imediatas para todas as aflições, mas são remédios que se mostram completamente ineficazes”, escreve o Papa, como por exemplo, “o falso remédio da droga, de relações passageiras, de lucros fáceis mas desonestos!”
Francisco lembra os que “acabam enredados numa vida completamente virtual”, que depois se revela “dramaticamente sem sentido” e denuncia “o engano da vaidade, que nos leva a fazer a figura de pavões para, depois, nos precipitar no ridículo”.
Um coração frio
Neste contexto, “cada um de nós é chamado a discernir, no seu coração, e verificar se está ameaçado pelas mentiras destes falsos profetas”, porque corrermos o risco de ficar com o coração frio. Explica o papa que “o que apaga o amor é, antes de mais nada, a ganância do dinheiro”; depois dela, “vem a recusa de Deus e, consequentemente, a violência que se abate sobre quantos são considerados uma ameaça para as nossas «certezas»: o bebé nascituro, o idoso doente, o hóspede de passagem, o estrangeiro, mas também o próximo que não corresponde às nossas expetativas.”
O resfriamento do amor também atinge a terra, “envenenada por resíduos lançados por negligência e por interesses; os mares, também eles poluídos, devem infelizmente guardar os despojos de tantos náufragos das migrações forçadas; os céus – que, nos desígnios de Deus, cantam a sua glória – são sulcados por máquinas que fazem chover instrumentos de morte”.
Que fazer?
Francisco aponta como remédio para estes males “o que a Igreja, nossa mãe e mestra, nos oferece, neste tempo de Quaresma, o remédio doce da oração, da esmola e do jejum. Porque a oração, ajuda o coração a “descobrir as mentiras secretas, com que nos enganamos a nós mesmos”, a prática da esmola “liberta-nos da ganância e ajuda-nos a descobrir que o outro é nosso irmão” e o jejum “tira força à nossa violência, desarma-nos, constituindo uma importante ocasião de crescimento.
Neste caminho da Quaresma, Francisco volta a propor para os dias 9 e 10 de março, a iniciativa «24 horas para o Senhor», “que convida a celebrar o sacramento da Reconciliação num contexto de adoração eucarística. A proposta do Papa é que em cada diocese, pelo menos uma igreja fique “aberta durante 24 horas consecutivas, oferecendo a possibilidade de adoração e da confissão sacramental.”
A Quaresma, que começa com a celebração de Cinzas, é um período marcado por apelos ao jejum, partilha e penitência, que serve de preparação para a Páscoa, a principal festa do calendário cristão.