08 fev, 2018 - 18:04
Dois dias depois de o Patriarcado de Lisboa ter publicado uma nota sobre a aplicação do oitavo capítulo da exortação apostólica "Amoris Laetitia", publicada pelo Papa Francisco em Abril de 2016, vários órgãos de comunicação social avançam esta quinta-feira que D. Manuel Clemente está a sugerir aos casais recasados que se abstenham de ter relações sexuais, podendo assim aceder aos sacramentos.
É uma leitura simplista, lamenta o padre José Manuel Pereira de Almeida, especialista em teologia moral, que sublinha que a continência, ou seja, o casal abster-se de ter relações sexuais, é apenas uma de várias possibilidades propostas.
É verdade que o patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, está a dizer aos casais “recasados” que não devem ter relações sexuais?
A primeira alínea da nota do patriarca diz que se deve acompanhar e integrar as pessoas na vida comunitária. Alínea b) verificar atentamente a especificidade de cada caso. Alínea c), não omitir a apresentação ao tribunal diocesano quando há duvidas sobre a validade do matrimónio. Alínea seguinte: “quando a validade se confirma, não deixar de propor a vida em continência na nova situação”.
Ou seja, o casal tem certamente novos deveres, eventualmente filhos para educar, e nessa circunstância não é apagar o que existe, mas que – e é essa a nota do patriarca – vivam em continência na nova situação. E depois, na alínea seguinte, atender às circunstâncias excecionais e à possibilidade sacramental, em conformidade com a exortação apostólica.
É uma alínea, entre outras. Depende da consciência pessoal, devidamente acompanhada, como é próprio no que diz respeito à Igreja.
É uma sugestão que aparece também no "Amoris Laetitia"?
Aparece, porque é a única sugestão possível nesta circunstância. Mas é uma das circunstâncias e há muitas outras. Ou seja, que seja para aplicar de maneira genérica a todos os casais que agora estão num novo casamento seja a vida em continência, não é verdade, não se pode generalizar. Não é a única possibilidade, de forma nenhuma.
É possível haver o caso de um casal numa situação irregular que mesmo sendo-lhe proposto a vida em continência isso não é viável, chegar à conclusão através do discernimento que pode aceder aos sacramentos. Isso é uma possibilidade?
Claro que é possível, e muitos outros casos também.