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​“É pelos jovens que o Papa está nas redes sociais”

02 mar, 2018 - 16:40 • Ângela Roque

Criador da conta do Papa no Twitter @pontifex diz que Francisco sabe que andar na “estrada da internet” implica riscos, mas quis assumi-los. Gustavo Entrala diz que aquela rede social é hoje uma “importante ferramenta de comunicação” para o Papa, que já tem 47 milhões de seguidores.

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Gustavo Entrala é espanhol. Jornalista de formação, dedicou-se nos últimos anos à comunicação digital e a fazer a gestão de páginas de fãs de personalidades tão diversas como Madonna ou Alejandro Sanz. Foi com a sua ajuda que foi criada a conta oficial do Papa no Twitter, ainda com Bento XVI, mas que depois Francisco quis manter. E com grande sucesso.

“Quando Bento XVI saiu, em fevereiro 2013, a conta tinha três milhões e meio de seguidores, agora tem 47 milhões”, revelou o ex-consultor de comunicação do Vaticano, esta sexta-feira, num encontro com jornalistas portugueses, em Lisboa, promovido pelo gabinete de imprensa do Opus Dei.

Entrala começou por recordar como foi parar ao Vaticano, depois de em 2009 Bento XVI ter falado sobre a internet pela primeira vez, em jeito de apelo.

“Num contexto que era então muito desfavorável para a imagem da Igreja, um amigo enviou-me essa mensagem do Papa, que eu entendi como uma chamada à ação, porque o Papa pedia a ajuda de profissionais.”

Gustavo nunca tinha trabalhado com a Santa Sé, mas arriscou. Enviou uma carta a oferecer-se para ajudar, e quatro meses e meio depois recebeu uma chamada.

“Disseram que era o momento adequado para começar o processo de transformação digital”. E foi. “Tivemos uma semana de trabalho intenso, com toda a equipa de comunicação do Papa, com a Secretaria de Estado”, contou, recordando que “até houve um certo escândalo, porque nunca se tinha feito um ‘brainstormno Vaticano”. A partir daí começou a sua colaboração mais permanente.

Bento XVI twittou pela primeira vez em 2010. “Tive a oportunidade de estar com ele, ensinei-lhe o que era o Twitter”. Mas, quando em 2013 Francisco foi eleito Papa não sabiam se quereria manter a conta.

“No sábado a seguir à eleição houve uma reunião em que ele perguntou duas coisas: ‘quantas pessoas há a seguir a conta? e o que é o Twitter?’. Dissemos que tinha três milhões e meio de seguidores e que um tweet era como um sms. E ele disse ‘bom, vamos continuar’. E com o passar do tempo o que se viu é que o Twitter é mesmo uma ferramenta de comunicação muito importante para o Papa, porque ali é seguido por muito mais gente do que os que o veem na televisão todas as semanas”.

O Twitter do Papa gera 90% de reações positivas e 10% de negativas. “Há muitas mensagens negativas insultando o Papa, o anterior e o atual, há gente em todo o mundo preparada para atacar assim que há um novo tweet”. Isso não foi bem visto no Vaticano, mas Francisco nunca vacilou. “Quis continuar e disse ‘se este mundo é assim, se a estrada da internet implica riscos como as outras estradas, então eu também os quero assumir”, contou Gustavo Entrala.

Estar onde estão os jovens

Para além do Twitter o Papa está também no Instagram, onde tem cinco milhões e meio de seguidores, mas não está no Facebook. E a escolha não foi feita por acaso.

“A razão fundamental porque o Papa está nas redes sociais é pelos jovens. Porque o Papa está a pensar no futuro da Igreja, e os jovens têm uma grande afinidade com o Papa Francisco”, afirma Gustavo Entrala.

Depois “é mais relevante o que se diz no Twitter do que o que se diz no Facebook, porque os jornalistas estão mais no Twitter”. Para além disso “o Facebook tem mais possibilidades de interação, e isso obrigaria a Santa Sé a ter uma equipa de gente a monitorizar os comentários permanentemente. No Twitter não tem de se fazer isso”.

Gustavo Entrala, que continua a assessorar de forma informal o Vaticano, revelou ainda como no seu tempo era mantida a conta do Papa no Twitter.

“Havia uma equipa de duas pessoas que tinha acesso a tudo o que Papa ia dizer no mês seguinte, todas as homílias e discursos, e ia preparando as mensagens”, mas com espaço para a novidade, até porque “pode sempre haver uma chamada do Papa a indicar que quer dizer uma coisa concreta, pode haver um terramoto nalgum sítio, e isso originar um Twitter. Mas, há um trabalho prévio entre a secretaria de Estado, a equipa que gere a conta e o Papa”, que é sempre “muito colaborativo”.

Na prática são nove as contas do Papa no Twitter, em nove línguas diferentes. “Só a conta em latim tem 600 mil seguidores!”, revelou ainda este responsável, que considera positiva a forma como a Igreja no geral se tem adaptado à comunicação digital.

“Tanto Bento XVI como Francisco catalogaram as redes sociais como o sexto continente, e consideraram natural a evangelização e a presença cristã nesse novo continente”.

De resto a presença do Papa no Twitter já levou muitos cardeais, bispos, sacerdotes e leigos a aderirem ao Twitter para dialogar. “Se estão a fazê-lo bem? Não sei. Sei apenas que que há muito mais atividade agora do que há cinco ou 10 anos”, sublinhou ainda Gustavo Entrala, considerando muito revelador que nas mais recentes viagens o Papa se faça acompanhar por peritos nesta área.

“É uma novidade. Sempre que o Papa viaja há uma equipa de social media que viaja com ele. Isso antes não se fazia. Já faz parte da nova rotina vaticana que há também que comunicar em social media”, conclui o especialista em comunicação digital.

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