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“Espada? Não aparece no Alcorão, mas só num capítulo da Bíblia aparece 18 vezes”

16 mar, 2018 - 14:55 • Filipe d'Avillez

Não há livros sagrados inocentes no que diz respeito ao apelo à violência, diz o imã da Universidade de al-Azhar, ou se culpam todos, ou se perdoam todos.

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A palavra “espada” nunca aparece no Alcorão, mas num só capítulo da Bíblia, surge 18 vezes, diz o imã da Universidade de al-Azhar, Ahmed al-Tayeb, no Egipto, o mais importante centro de ensino de todo o mundo islâmico sunita.

Ahmed al-Tayeb está em Portugal para uma visita de poucos dias, que inclui participação nos festejos dos 50 anos da fundação da Comunidade Islâmica de Lisboa. Na quinta-feira deu uma conferência na Universidade Católica, em que falou da necessidade de reforçar o diálogo entre as religiões, para alcançar a paz no mundo.

De seguida conversou em exclusivo com a Renascença, a quem negou existir qualquer ligação entre o Islão e o terrorismo. Enquanto voz de uma visão moderada do Islão, o imã al-Tayeb encontra-se frequentemente no centro das críticas de quem o considera ou demasiado radical, ou demasiado conservador. É uma posição ingrata, mas desvaloriza as críticas.

“Há uma fação que procura sempre atribuir o terrorismo ao Islão, como se o Islão fosse a causa do terrorismo, e claro que esta fação vai dirigir as suas críticas à Universidade de al-Azhar. Nós trabalhamos sempre no sentido de mostrar ao mundo que o Islão e o al-Azhar não são a razão do terrorismo. O terrorismo tem outras razões, razões políticas”, explica.

“Eles criticam sempre, com muita força, as disciplinas educativas do al-Azhar. Mas

estas disciplinas vêm de séculos e temos grandes imãs e grandes homens religiosos que já estudaram estas disciplinas e nunca houve terrorismo. O que é que mudou?”

O imã aponta para as várias passagens do Alcorão que falam de forma respeitosa sobre cristãos e judeus, ou que proíbem a compulsão na religião. Mas para muitas autoridades muçulmanas, incluindo nomes de grande peso como Abu Bakr al-Razi, estas passagens foram abrogadas por aquele que é conhecido como o “versículo da Espada”. Na verdade há muitos versículos praticamente idênticos, mas a referência mais comum é versículo 5 da sura IX, que manda: “Matai os idólatras, onde quer que os acheis”.

Questionado pela Renascença sobre esta teoria, o imã al-Tayeb começa por esclarecer que “a palavra espada nunca aparece no Alcorão”, contrapondo que “no Antigo Testamento é mencionada, só num capítulo, 18 vezes. Então qual é o livro que podemos acusar de falar da espada? O Antigo Testamento ou o Alcorão?”

Por outro lado, diz que já leu os Evangelhos mais do que uma vez e que lá nunca encontrou apelos à violência, mas isso não impediu as cruzadas, em que “os soldados traziam a Bíblia numa mão e a Cruz na outra para matar e eliminar muitos grupos e muitos povos. Julgamos a Bíblia e Jesus Cristo por estes crimes?”, pergunta.

“Ou aceitamos que as religiões não têm esta violência, ou vamos acusar todas as religiões por incentivarem a violência. A culpa é de todos. Ou nos perdoamos todos, ou vamos julgar a todos”, conclui.

Depois, respondendo mais diretamente à pergunta, conclui que “quem diz que há versículos mais tardios que anulam os anteriores é porque quer usar a religião para seu benefício”.

“Deus não sofreu pelos homens, mas defendo o seu direito de acreditar nisso”

O Islão atribui uma grande importância a Jesus, reconhecendo-o como profeta, mas não como Deus. Ao contrário do Cristianismo, o Islão não acredita que Deus tenha sofrido pela humanidade, mas isso não deve ser razão para divisão, explica o imã.

“Deus não sofreu pelos humanos de uma maneira material, mas Ele ama os humanos e os humanos amam Deus. O amor existe no Alcorão”, diz.

“Embora eu não acredite que Deus tenha sofrido fisicamente, você tem o direito de acreditar, e eu defendo o seu direito a acreditar nisso. O problema está em obrigar as pessoas a aceitar uma crença. No Alcorão nunca se exige que as pessoas aceitem uma crença, como no Cristianismo Jesus nunca tentou obrigar ninguém a aceitar o Cristianismo. Cada um pode acreditar no que quiser”, conclui.

Ahmed al-Tayeb nasceu em 1946 e é de uma família com fortes tradições na corrente sufi do Islão, considerada herética por muitos extremistas islâmicos. Em 2010 foi nomeado para o cargo de imã da Universidade de al-Azhar pelo então Presidente Mubarak. Manteve o cargo depois da Primavera Árabe e apoiou a revolta do general Sisi que derrubou o Governo ligado à Irmandade Islâmica, um grupo a que al-Tayeb sempre se opôs. É considerado um dos intelectuais muçulmanos mais moderados no Egito.

Comentários
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  • P/RR
    19 mar, 2018 pois,pois 12:38
    A falta de carater não tem limites em muita gente. Há de haver sempre alguém a distorcer as coisas: Distorcer a liberdade, a democracia, os direitos, a justiça, até o direito à vida! E infelizmente o mundo está cheio de idiotas que se deixam manipular e não fazem uso do cérebro. R.Renasc. sinto nojo de vocês
  • Aldair
    17 mar, 2018 Beja 11:49
    Não sei quem é pior, se são esses terroristas ou se é a própria RR que lhes dá direito de antena. Só para começar o título da notícia já é um apelo à violência e ao ódio diz essa imá "Ou se culpam todos ou se perdoam todos"... Ainda queria ver tu a dizeres isso na Arábia Saudita. Falas assim porque estás em Portugal! Só pela tu fronha vê-se logo que tipo de bicho é que tu és. Infelizmente temos um Kosta que tem vergonha de ir à missa, mas para andar aos beijos e abraços aos terroristas já tem muita vaidade.... Uma religião que tem como seu maior profeta um individuo que se fartou de roubar viúvas, só pode gerar terroristas! Se fosses um intelectual já há muito que tinhas chegado à conclusão que Jesus é DEUS! É claro que para que os Cristãos chegassem a essa conclusão foram precisos vários séculos de muito estudo. É exatamente isso que falta ao Islão! Não se esqueçam que esse tal de Maomé só apareceu no século VI d.C. Ou seja o Islão tem cerca de seiscentos anos de atraso em relação ao Cristianismo, por isso estão à espera de quê?? Só para terem uma ideia se a Igreja andasse para trás seiscentos anos estaríamos em 1418! Ou seja, ainda nem sequer tinha começado a Inquisição! Neste momento o Islão está mais ou menos ao tempo das cruzadas. É claro que o pensamento desse Imã, é muito avançado, mas é no Igipto! Imaginem que ele ainda anda a pensar se Jesus deve ou não ser considerado DEUS! Imaginem o atraso intelectual deles! Ó tempo que isso foi questionado na Religião Católica!!
  • Anónimo
    16 mar, 2018 21:56
    Nota-se bem que "hipocrisia" faz jus ao nome pois se não fosse "hipócrita" (e burro) saberia que na Turquia as mulheres não são obrigadas a usar hijab. No Irão e no Afeganistão também não eram antes da intervenção dos "cristãos" americanos. O problema não está nas religiões mas sim em como as pessoas as usam e em todas as religiões há boa gente mas também há gente horrível. Infelizmente as "gentes horríveis" costumam ter demasiado poder.
  • Hipocrisia
    16 mar, 2018 dequalquerlado 16:39
    Só lendo algumas coisas e retendo algumas expressões como a espada que aparece num capítulo da bíblia 18 vezes e que nunca aparece no alcorão. Ora até poderia aparecer 100 ou 1000...Ninguém hoje em dia usa a espada. Apesar disto as sociedades não são dominadas pela religião e cada qual até é livre para mudar de religião, sem que por causa disto possa ser morto. O que define as pessoas nem é a religião, mas sim o carater das pessoas, o de fazer o bem, compreender e respeitar nas diferenças o seu semelhante. Coisa que os povos árabes não fazem. Nem respeitam a liberdade da mulher e as obrigam a andar como o islão impõe. Permitem meninas, que são muitas vezes crianças casarem com homens velhos. São contra as liberdades, são contra as outras religiões, tal é que até perseguem os católicos e muitas vezes matando-os sem dó nem piedade, como ainda já têm destruído igrejas. Portanto vir com esta conversa da treta sobre a biblia e o islão é pura hipocrisia e falta de vergonha. Se o islão é assim tão bom, porque é que então que os países do islão já têm matado milhares de inocentes, velhos, mulheres e crianças e andam sempre em guerra e perseguições. Até os pobres iazidis são perseguidos, mortos e discriminados. A verdade é quem usa as espadas são vocês, onde têm as mãos manchadas de sangue pelas vidas de tantos inocentes que já têm ceifado.

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