19 mar, 2018 - 15:26 • Aura Miguel
“A juventude não existe”, assim como “não existe a velhice”, diz o Papa logo no início desta entrevista. Para Francisco, o que existe são jovens e velhos, ou seja, “é necessário que uma pessoa se sinta feliz e orgulhosa por ser velha, da mesma forma que é comum o sentimento de orgulho em ser-se jovem”.
Numa conversa com Thomas Leoncini, jovem especialista em modelos psicológicos e sociais, o Papa aborda diversas questões relacionadas com a situação dos jovens na cultura atual e pede-lhes perdão “porque nem sempre os levamos a sério, nem sempre os ajudamos a ver o caminho e a construir os meios que poderiam permitir-lhes não acabarem descartados”.
O Papa quer jovens protagonistas e não vítimas da exploração patronal, do trabalho precário e do desemprego; jovens capazes de dialogar com os idosos e criar raízes, para não andarem ao sabor da cultura líquida e conformista. Contra a “homologação do pensamento único”, que os torna “todos iguais, fracos e sem identidade”, a viver “dentro de uma bolha”, Francisco quer jovens de “pensamento forte”, “genuíno” e “pessoal”.
Sobre o medo de crescer e envelhecer, Francisco considera “triste que alguém queira fazer um lifting também ao coração”, pois “com demasiada frequência são os adultos que fazem de conta que são meninos, que sentem a necessidade de se colocar ao nível do adolescente, mas não percebem que isso é um engano”, e lamenta que existam “demasiados pais com cabeça de adolescentes, que brincam à vida efémera eterna e, com maior ou menor grau de consciência, fazem dos filhos vítimas deste perverso jogo do efémero”.
Ainda sobre o medo de envelhecer, é lamentável que se recorra “cada vez mais à cirurgia plástica”, para se ficar “em sintonia com o padrão da sociedade”. Para o Papa, as pessoas que o fazem não passam de vítimas da “exacerbação de uma estética artificial” que “desumaniza a beleza”.
Outro dos sintomas do medo de crescer e envelhecer é o aumento das “mascotes” – animais de companhia “que cada vez mais as pessoas levam para todo lado, todos os dias e durante o dia inteiro”, como reflexo de “um incómodo sentimento de solidão”.
O Papa lamenta que se use os animais sem respeitar a sua dignidade, “identificando a mascote como pessoa”, acabando o animal por se tornar “um escravo do dono”.
Neste livro Francisco explica que quer jovens “em saída”, capazes de testemunhar a alegria do Evangelho, mesmo em locais incómodos e sem medo de “sujar os pés”. Interrogado sobre o que diria a uma pessoa à beira do suicídio, o Papa responde: “fitá-la-ia nos olhos, deixaria falar o coração, o meu e o seu”. E sobre o que podem fazer os jovens pelas mulheres da sua idade que vivem na prostituição, o conselho de Francisco é: “aproximar-se delas, não para explorá-las, mas sim para falar com elas”. E, em vez de perguntar “quanto queres?”, perguntar “quanto sofres?”