19 mar, 2018 - 06:26 • Ângela Roque
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O Papa Francisco fala esta segunda-feira aos jovens que vão estar reunidos durante toda a semana em Roma, a preparar o próximo Sínodo dos Bispos de outubro, que lhes será dedicado.
É certo que muitos já foram auscultados em todo o mundo, em Portugal também, através do questionário preparatório que foi distribuído por todas as dioceses, mas o Papa quis ouvi-los mais de perto nesta altura.
A reunião pré-sinodal vai prolongar-se até ao dia 24 de março. Os participantes representam as conferências episcopais de vários países e diversos movimentos e instituições de dentro e fora da Igreja.
Serão, ao todo, 300. Três são portugueses, mas dois deles vão em nome de movimentos internacionais. É o caso de Rui Teixeira, 30 anos, da diocese de Setúbal. Médico e docente universitário, foi convidado para representar a Conferência Internacional Católica do Escutismo.
“Serei o único representante da conferência e, provavelmente, de todo o mundo escutista”, refere à Renascença, admitindo que isso “aumenta a responsabilidade e o nervosismo, uma vez que vou ser a voz de várias realidades diferentes”.
Tomás Virtuoso, de 24 anos, licenciado em economia, foi escolhido para representar as Equipas de Jovens de Nossa Senhora a nível mundial (EJNS), sendo que Portugal é dos países onde este movimento está em maior expansão.
“As Equipas são hoje um movimento muito grande no mundo inteiro e Portugal é o país onde está mais forte, com mais equipistas e com mais atividades. Ter esta missão de os representar em Roma é uma grande responsabilidade”, diz-nos, sublinhando o “privilégio” que sente “por poder fazer parte deste momento da Igreja”.
A representar a Conferência Episcopal Portuguesa neste encontro, por indicação do Departamento Nacional da Pastoral Juvenil, estará Joana Serôdio, de 30 anos, formada em bioquímica e pertencente à diocese de Coimbra.
Partilhar as boas práticas
Para a reunião de Roma Joana conta levar “as vivências, não só da Equipa Nacional da Pastoral Juvenil, mas de todos os Secretariados das várias dioceses” com quem estão regularmente em contacto.
Em declarações à agência Ecclesia, lembra que Portugal “apesar de ser pequeno tem uma grande diversidade”, o que em sua opinião “é uma riqueza”. Pretende, por isso, “partilhar com os outros países as necessidades dos jovens portugueses e o que eles pedem a toda a Igreja, e que resultou do Inquérito que foi feito”.
E o que é que pedem? “Pedem uma Igreja aberta e acolhedora, que lhes dê oportunidade de serem comprometidos e ativos nas suas paróquias e grupos”.
Rui Teixeira irá falar do movimento escutista e da sua importância a nível mundial, embora a realidade que conhece melhor seja a portuguesa, através do CNE, o escutismo católico, e a europeia.
À Renascença, o jovem médico diz que vai mostrar no encontro as mais valias do método escutista, porque “todos têm a ideia que ser escuteiro é ajudar a velhinha a atravessar a rua e fazer boas ações. Mas é muito mais do que isso”.
Tomás Virtuoso espera conseguir abordar algumas das questões que mais o preocupam, a si e às EJNS. “A relação dos jovens com a verdade, neste contexto de relativismo ético, a relação com a liberdade e a relação com o serviço”, explica à Renascença, lembrando que “num mundo que só nos diz ‘ama-te a ti mesmo, faz o que quiseres’, há muitos jovens que se preocupam com o outro e com as suas necessidades”.
Tomás não tem dúvidas de que Portugal vive um “bom momento” em termos de mobilização dos jovens católicos. Dá como exemplo a Missão País, de que já fez parte, o “Faith’s Night Out”, que ajudou a organizar, e também o acolhimento aos refugiados, para garantir que “os jovens portugueses estão mobilizados para não passar ao lado do seu tempo, não querem ficar imunes ao sofrimento dos outros, nem indiferentes às necessidades”.
Esperar para ver o Papa “alegre e entusiasmado”
Entre os jovens portugueses é grande a expectativa para este encontro, desde logo por não ser uma reunião habitual antes dos sínodos. Para Tomás Virtuoso, o facto de o Papa querer ouvir jovens de todo o mundo, crentes e não crentes, é já um bom indicador.
“Eu espero ver uma grande diversidade e um pluralismo saudável, mas acima de tudo espero ver uma grande unidade à volta do Papa. Porque, independentemente das considerações pessoais que cada um tenha sobre este ou aquele assunto, são completamente secundárias em relação àquilo que é a necessidade de estarmos, como Igreja, unidos à volta do Papa e com vontade de chegar com cada vez mais autenticidade, verdade e alegria ao mundo”, sublinha à Renascença.
Joana Serôdio também vê vantagens em não se fechar o encontro apenas a católicos. “Ter crentes e não crentes a participar vai trazer ainda mais riqueza a esta reunião”, diz à Ecclesia. E confia que a intervenção inicial do Papa marcará o ritmo dos trabalhos. “Acredito que estará muito alegre e entusiasmado com a nossa presença lá, e que nos vai motivar muito”.
Rui Teixeira considera importante o Papa querer ouvir os jovens que habitualmente têm menos voz. “Como ele diz, temos de ser uma Igreja voltada para as periferias, e eu acho que é nessa lógica que ele pretende ouvir os jovens, sinceramente. E espero que seja nessa lógica que os jovens lhe vão falar, porque se for para falarmos do que toda a gente já sabe, não ganharemos muito”, refere o jovem médico, que deixa um convite a que todos acompanhem os trabalhos através da internet e das redes sociais: “dá para escrever e fazer perguntas, e todas as contribuições serão bem-vindas”.
O Vaticano tem ativo um site dedicado ao Sínodo dos Bispos, uma página na rede social Facebook e o hashtag #synod2018.
Será o Papa a receber a síntese desta semana de trabalhos no último dia da reunião, dia 24. Os participantes estão convidados a participar na eucaristia de dia 25, Domingo de Ramos, que a Igreja assinala como o Dia Mundial da Juventude.
“Os jovens, a fé e o discernimento vocacional” é o tema do próximo Sínodo dos Bispos, que vai decorrer entre 3 e 28 de outubro. O Vaticano estuda neste momento as propostas que foram enviadas pelas várias conferências episcopais e as mais de 221 mil respostas ao questionário que foi disponibilizado na internet e distribuído nas várias dioceses a nível mundial. Um quinto (20%) das respostas foram dadas por não católicos.