22 mar, 2018 - 16:54 • Ângela Roque
O projeto “Cáritas Lusófonas em Rede - Inovar para o Impacto” foi pensado pela Cáritas Portuguesa para ajudar a melhorar a forma como se trabalha nas diversas instituições congéneres dos países africanos onde se fala português. Na prática, vai ensinar a aplicar as novas regras de gestão que foram definidas pela Cáritas Internacionalis.
Angola foi o país escolhido para arrancar com o projeto. A primeira ação de formação decorreu no início de Março.
Em entrevista à Renascença a coordenadora para a área internacional da Cáritas Portuguesa, Filipa Abecasis, fala da importância e dos objetivos deste novo projeto, que quer ajudar as instituições católicas a fazerem mais e melhor, e com mais transparência.
Que projeto é este, e em que ponto é que se encontra?
É um projeto inovador que a Cáritas Portuguesa está a lançar este ano, em parceria com a Cáritas Angola e com a FEC, a Fundação Fé e Cooperação. Surgiu na sequência das novas normas de gestão lançadas pela Cáritas Internacionalis, que já estão a ser implementadas nos 166 países em que a instituição está presente, e que a breve prazo terão que ser mesmo obrigatórias para todas as Cáritas. Basicamente é um processo de desenvolvimento institucional e de capacitação. Não se pretende que todas as Cáritas façam a mesma coisa, mas que trabalhem da mesma forma e se profissionalizem, dentro daquilo que são as suas áreas de atuação. É claro que cada instituição trabalha de acordo com o meio em que está inserida e com as necessidades das suas comunidades, mas todas devem reger-se pela mesma bitola em termos de profissionalismo e competência.
Na Cáritas Portuguesa o projeto arrancou em 2014, já vamos no segundo ano do nosso plano de melhoria, e decidimos que agora seria uma boa altura para dar a conhecer e partilhar as aprendizagens que já retirámos deste nosso caminho de qualidade.
Como é que o projeto se vai desenvolver? Que tipo de apoio é que dão?
Já iniciámos no início de Março a primeira ação de formação. A Cáritas de Angola convidou todas as cáritas arquidiocesanas a estarem presentes, e a ideia é mesmo essa, que todas entrem no processo de capacitação. Depois desta formação eles terão de fazer uma auto-avaliação. Há uma série de itens definidos pela Cáritas Internacionalis que eles terão de avaliar, perceber quais são as suas necessidades, os desafios e as oportunidades que têm, para depois se definirem quais serão as áreas prioritárias. Por uma questão de recursos, e até de conjuntura, há coisas que podemos não conseguir mudar logo de imediato, que precisam de um trabalho de preparação. E para esse processo e acompanhamento temos no terreno uma pessoa da Fundação Fé e Cooperação.
A FEC é vossa parceira no projeto?
A FEC é o nosso braço operacional, porque já conhece bem o território angolano, e estará lá para prestar qualquer tipo de apoio que eles possam necessitar na avaliação que vão fazer, e depois na construção do plano de melhoria. Nós, Cáritas Portuguesa, seremos os promotores do projeto e os fornecedores dos conteúdos e materiais de formação. E a Cáritas Angola é que o vai implementar.
E vão enviar formadores?
Para além da técnica da FEC que está no terreno, uma pessoa ligada à área financeira da Fundação irá também dar algum tipo de acompanhamento, quando se fizer a avaliação dos procedimentos financeiros, mas como será a própria Cáritas Angola que vai definir as prioridades e o seu plano de melhoria, nós ainda não conseguimos incluir neste projeto a formação que terão de ter, tem que se ir avaliando. Caso seja possível, tanto à FEC como à Cáritas Portuguesa, colmatarem essas necessidades de formação, fá-lo-emos. Em questões mais técnicas, que precisem de outra experiência e conhecimento, teremos que avaliar como conseguir formação de outros parceiros.
Este é um projeto de médio, longo prazo. Quais são os timings previstos?
Como está previsto pela própria Cáritas Internacionalis, entre o diagnóstico, ou seja, a auto avaliação inicial que cada Cáritas deve fazer, e a avaliação final, decorre um período de 4 anos. O que nós propusemos, tendo em conta também que contamos com financiamento do Instituto Camões, foi acompanhá-los nos primeiros 3 anos e depois ter uma estratégia de saída, para que no último ano eles já possam fazer a avaliação final sozinhos, preparando as melhorias dos próximos 4 anos.
Para quando o alargamento do projeto aos outros países lusófonos?
Começámos em Angola com este projeto piloto, e como a Conferência Episcopal é de Angola e São Tomé e Príncipe (CEAST), estamos a avaliar alargar o projeto a São Tomé já no próximo ano. Mas a ideia é, a cada ano que passe, ir incluindo um novo país da lusofonia neste processo.
Existem Cáritas nos vários países lusófonos. Que importância têm para o desenvolvimento dos países?
É uma presença importante. Em todos existe sempre uma Cáritas nacional e depois cáritas diocesanas, à semelhança do que acontece em Portugal.
No caso de Angola, é uma estrutura que está em todo o território, tem uma direção geral, e depois cáritas arquidiocesanas, cáritas diocesanas e cáritas paroquiais. Nos últimos anos houve um decréscimo das ONG's estrangeiras que estavam em Angola, muitas delas saíram, devido a condicionalismos impostos pelo governo, por isso a Cáritas foi sempre e continua a ser, e agora reforçadamente, uma mais-valia para o país no apoio às pessoas mais vulneráveis.
Presta sobretudo apoio sócio-caritativo?
Sim, mas a Cáritas Angola também trabalha muito na questão das emergências, das secas, das cheias. Agora, por exemplo, existe uma grave crise humanitária no norte do país, onde estão muitos refugiados do Congo, e a Cáritas lançou recentemente uma grande campanha de recolha de bens para esses refugiados, porque estão cerca de 30 mil pessoas que se encontram em condições muito, muito precárias, a viver com pouca dignidade. Além disso, presta todo o apoio alimentar, apoio social, à semelhança do que fazemos cá.
O que pretendemos com este projeto das “Cáritas Lusófonas em Rede” é melhorar a forma como respondemos às situações de emergência, às necessidades graves das pessoas. E ainda que alguns procedimentos pareçam burocráticos, a ideia é otimizar o nosso trabalho, os nossos recursos, melhorar a nossa transparência, a nossa prestação de contas, o envolvimento das parcerias. Ou seja, o projeto cobre uma série de áreas que são fulcrais para qualquer organização, e muito mais para a Cáritas.