04 abr, 2018 - 12:14 • Liliana Carona
Foram muitos os livros que passaram pelas mãos do padre português que já dirigiu cinco bibliotecas conventuais em França. Hoje, é diretor da Bibliothèque du Saulchoir, a maior biblioteca dos dominicanos em França e uma das cinco maiores bibliotecas de ciências religiosas em todo país.
À Renascença, José Luís de Almeida Monteiro, de 58 anos e natural de Gouveia, diz que “são centenas” – aliás, “milhares – os livros que podem vira para o município. São “em caixas e caixas e caixas e temos pena que este espólio não seja valorizado”, diz.
A Bibliothèque du Saulchoir tem mais de 350 mil títulos e um numeroso espólio excedente. “Naturalmente, parte desse espólio não poderá ser ali mantido por questões de espaço”, explica.
Por causa deste excedente de livros religiosos, o padre dominicano português interrogou-se sobre o destino a dar-lhe e acabou por “falar ao professor José Eduardo Franco, que realizou projetos como a edição completa das obras do Padre António Vieira. Surge assim este projeto, que pode ser megalómano, tendo em vista a dimensão de Gouveia. Mas se não temos ambição as coisas não acontecem”, defende.
A ideia de um Museu Internacional do Livro Sagrado nasce, assim, com José Luís de Almeida Monteiro – conhecido como Joseph de Almeida – “para lhe facilitar a vida, no quotidiano”, assume.
O sonho quase concretizado
Chegou a França em 1981 e desde então já dirigiu cinco bibliotecas conventuais. Satisfeito com o lançamento de múltiplas obras assinadas por si, mas não plenamente realizado, o padre José Monteiro tem um sonho maior por cumprir: ter o Museu Internacional do Livro Sagrado sedeado em Gouveia.
Devido a um fundo que a própria Biblioteca Provincial e Patrimonial da Província Dominicana do Saulchoir, em Paris, tem, de mais de 350 mil volumes e mais de 8 mil títulos de periódicos, alguns dos quais únicos, que nem existem na Biblioteca Nacional de França, além de um fundo de missais de piedade cristã.
Em Portugal há espólios sobre a Bíblia e outros que estão à espera de lugar e que também poderão vir a ter como destino: Gouveia.
A garantia de que o espaço vai mesmo ser criado é dada pelo padre gouveense dominicano: “Este projeto vai acontecer e Gouveia não o pode deixar escapar. Esse espólio podia ser valorizado cá em Portugal. Poderíamos perfeitamente criar cá em Gouveia um museu importante sobre o livro sagrado. Há essa vontade, existe uma equipa que já começou a trabalhar nesse projeto. Seria um museu que poderia colocar Gouveia no mapa”, afirma.
A ambição do padre dominicano foi vista com bons olhos pelo autarca. Luís Tadeu assinou um protocolo para a criação do Museu Internacional do Livro Sagrado. O Município de Gouveia assinou no dia 3 de abril, no Salão Nobre dos Paços do Concelho, um acordo de cooperação com diferentes entidades: a Universidade Aberta, a Cátedra Infante Dom Henrique para os Estudos Insulares Atlânticos e a Globalização (entidade coordenadora do Acordo), o Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, a Sociedade Bíblica de Portugal, o Instituto de Estudos Avançados em Catolicismo e Globalização e o Instituto Europeu de Ciências da Cultura Padre Manuel Antunes. O acordo prevê a criação do Museu Internacional do Livro Sagrado.
“Aquilo que se pretende é o desenvolvimento de um conjunto de trabalhos e estudos que possam culminar na criação do Museu Internacional do Livro Sagrado. “É um projeto que visa tratar as diferentes religiões e que se possa concretizar num espaço museológico e como é óbvio aquilo que nos interessa, é aliar esta questão da religiosidade ao turismo religioso que cada vez tem mais frequentadores”, revela Luís Tadeu.
O autarca local apressa-se a dizer que é um espaço que “está a ser disputado por vários municípios e que não se esgota nestes parceiros, há internacionais que estão a ser contactados que poderão vir a ser parceiros, tendo em conta que é um investimento pesado, do qual ainda não posso adiantar o valor. O projeto é que nos vai dar a dimensão dos custos das infira-estruturas, mas estamos a falar de uns milhões”, conta à Renascença.
Em novembro, o padre José Luís Monteiro vai promover um colóquio com especialistas franceses sobre os missais de piedade, que poderão vir a ter que dizer “au revoir France” e “Bonjour Portugal”.