17 mai, 2018 - 11:08
"O documento trata uma enorme quantidade de questões financeiras, algumas delas pela primeira vez. É preciso dizer que a doutrina é a doutrina de sempre. Aliás, o documento cita, sucessivamente, as várias encíclicas dos Papas João Paulo II, Bento XVI, Papa Francisco", começa por dizer César das Neves, em entrevista à Renascença.
O também professor de Economia da Universidade Católica Portuguesa sublinha que se os documentos papais não se prendem em detalhes técnicos, este aborda "uma enorme quantidade de assuntos de finanças, para os quais aplica os princípios gerais da doutrina, analisando os prós os contras".
O documento da Congregação para a Doutrina da Fé revela-se "extraordinariamente equilibrado", uma vez que "olha para as coisas com serenidade e aplica aquele princípio, que tem sido sucessivamente apresentado, mas que o Papa Bento XVI já tinha apresentado de uma maneira mais clara que os outros, que é 'o instrumento em si é neutro'. A forma como o usamos é que é eticamente julgável, e, se for mal orientada, dá péssimos resultados".
"Penso que é um documento muito oportuno, elaborado para tratar uma das questões mais dramáticas do nosso tempo, que tem exatamente a haver com esta explosão das finanças", completa.
João César das Neves detalha que "o documento avisa as pessoas e, sobretudo, pede regulamentação: pública, mas também através de comissões de ética nos bancos, por exemplo".
O economista lembra que o fundamental perante os problemas decorrentes da realidade financeira prende-se com "a atitude ética perante a realidade", algo que depende "das pessoas concretas que estão nas Finanças". Assim, "não há lei, não há imposição que substitua a atitude correta de caridade que as pessoas envolvidas, os operacionais das bancas - das finanças em geral -, mas também dos consumidores, que têm de ter uma atitude responsável perante o seu consumo e a sua poupança".
"O problema da diversidade de informação, da transparência, da necessidade da transparência e do facto de nos podermos aproveitar da ignorância de outras pessoas é um tema muito tratado neste documento, que, sucessivamente, diz que esta desigualdade em que o operador sabe mais do que o cliente - e, muitas vezes, pode aproveitar-se dessa ignorância - é um dos piores abusos desta área. O documento trata-o com muita atenção", remata João César das Neves.