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Entrevista

Martin Schlag. Só pessoas "do sistema" podem avaliar taxa para combater evasões fiscais

11 jun, 2018 - 12:30 • Paulo Ribeiro Pinto

Em entrevista à Renascença, o professor de estudos católicos, ética e pensamento social da Igreja admite que a chamada taxa Tobin para controlar transações financeiras offshore "pode ser uma possibilidade".

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O documento que o Vaticano publicou em meados de maio sobre a economia e os mercados financeiros clarifica a doutrina social. É esta a opinião do monsenhor Martin Schlag, professor de estudos católicos, ética e pensamento social da Igreja na Universidade norte-americana de São Tomás.

Em entrevista à Renascença, Martin Schlag começa por explicar que "no ensinamento católico encontramos sempre os mesmos princípios aplicados a circunstâncias diferentes: a dignidade humana, o bem comum, a solidariedade, a subsidiaridade, a opção preferencial pelos pobres, o destino universal dos bens e outros princípios" e que, nesse sentido, o documento da Congregação para a Doutrina da Fé "não é novo".

"O que eu descobri é que é um documento mais filosófico e mais ético com uma linguagem que é mais exata e mais nítida", contrapõe o especialista.

Foi precisamente essa clareza na linguagem que mais o impressionou no texto em que o Vaticano condena a fuga e a evasão fiscal através de offshores e retrata os produtos financeiros complexos como "bombas-relógio prontas a explodir".

"O que me marcou mais no documento foi o tom positivo. Começa por dizer que o sistema económico e empresarial é uma vocação nobre e isso é muito importante porque se queres evangelizar alguma coisa ou alguém tens de amá-lo ou amá-la. Por isso, se a Igreja quer falar com pessoas de negócios tem de começar por dizer 'Obrigado pelo bem que estão a fazer'. O segundo passo é refletir como estão a fazer as coisas e como podem melhorar."

Para o professor de pensamento social da Igreja, é preciso ter em conta que o sistema financeiro é necessário e que todos precisamos dele, sendo perigoso diabolizá-lo por não se conseguir ver os seus "benefícios imediatos", por exemplo.

"O sistema financeiro é um serviço de que necessitamos, todos temos uma conta bancária, todos usamos instrumentos financeiros. Há pessoas que não gostam do Bill Gates mas todas usam um computador e veem os benefícios imediatos. Com o sistema bancário não vemos os benefícios imediatos, mas sem um bom sistema bancário a economia colapsava."

Sobre a proposta de uma taxa sobre as transações em offshore, o monsenhor Schlag acredita que pode ser uma solução, mas ressalta que primeiro é preciso avaliar se funciona.

"Por vezes os grandes problemas têm soluções muito fáceis. Toda a gente as conhece mas ninguém quer fazer o sacrifício. Uma taxa Tobin poderá ser uma possibilidade, mas não me atrevo a pronunciar-me sobre essa matéria. São necessários especialistas em finanças e regulação internacional para avaliar essa solução corretamente, alguém que faça parte do sistema."

A entrevista à Renascença aconteceu durante a passagem de Martin Schlag por Portugal para apresentar o manual da doutrina social da Igreja, com uma aula na AESE - Business School.

"Eu estava a tentar ensinar os meus estudantes em Roma com o compêndio da doutrina social da Igreja, mas não foi fácil, porque é longo e às vezes complicado, não funcionou. Por isso sugeri ao cardeal Tucson que fizéssemos um catecismo e ele adorou a ideia, mas sugeriu que fossem adicionadas novas sessões como bioética, o género, redes sociais. Foi isso que fizemos e surgiu o catecismo do compêndio."

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