04 jul, 2018 - 10:33 • Olímpia Mairos
O bispo de Vila Real, D. Amândio Tomás, em nota publicada no site da diocese, denuncia o “desprezo e abandono dos pobres, sem voz, sem meios e sem alternativas”. O prelado insurge-se, assim, contra o encerramento do colégio salesiano de Poiares, Peso da Régua, que funcionava no regime de contrato de associação com o Ministério da Educação.
O colégio fechou portas no final do ano letivo. A medida afetou 225 alunos, 25 funcionários, 21 professores e a economia local. “Mais de metade dos alunos do histórico e benemérito colégio recebiam apoio social escolar”, refere o bispo diocesano, acrescentando que “com o seu encerramento, quem perde são os pobres”.
“O interior do país já exausto, sem gente e sem meios, fica mais pobre e recebe o golpe de misericórdia, condenado ao desprezo e abandono”, lamenta D. Amândio.
O bispo de Vila Real não aceita que “digam que é por razões económicas, que o Estado deixa de apoiar alunos pobres, na instituição de referência, que os pais escolheram, como é legítimo que escolham, para os filhos”, sublinhando que “o Estado vai até pagar mais, por serviço pior e, sobretudo, não cumpre o que é seu dever, pois não pode nem deve sobrepor-se às famílias, nem às pessoas, que lhe são anteriores”.
“Com atitudes destas, o interior esvazia-se. Os pobres são preteridos e abandonados. Não há quem veja a desolação e a miséria em que nos afundaram”, denuncia.
“Somos vítimas de decisões ditatoriais, irresponsáveis e demagógicas. Não importa que os alunos sejam obrigados a ir para piores escolas e com piores serviços, contra a vontade dos pais, integrados em turmas, que custam mais ao Estado. O que conta é a cor da bandeira, a ideologia, que preside à agonia do interior de Portugal, já, há muito, moribundo”, acrescenta.
O prelado entende que nas cidades e regiões onde há gente e uma classe média consistente, que pode pagar o ensino dos filhos, decisões destas podem ser contrariadas por pais voluntariosos, mas em Trás-os-Montes, no interior de Portugal e nesta região duriense, “abandonada e martirizada, isso não é possível”.
“Com medidas destas e outras quejandas, preparem-se para o funeral do interior do país, esquecido, terrivelmente injustiçado, onde os pobres gritam e ninguém os ouve”. O bispo de Vila Real afirma ainda que “as injustiças e o abandono” a que o Interior foi votado, “em termos de educação e de saúde, são de bradar aos céus”.
“Como portugueses de segunda, bem merecíamos outra sorte”, lamenta o bispo diocesano, afirmando-se “inteiramente solidário com as famílias pobres e com o direito que têm de escolherem para os filhos a educação que entenderem dever dar-lhes”.