18 jul, 2018 - 14:00 • Filipe d'Avillez
A dignidade humana não advém das Nações Unidas, nem de qualquer outro organismo ou documento humano, considera o cardeal Peter Turkson, mas do facto de a humanidade ser criada à imagem e semelhança de Deus.
O cardeal de origem ganesa, que preside atualmente ao Dicastério Para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral, esteve esta quarta-feira em Fátima para falar durante o Encontro Internacional das Equipas de Nossa Senhora sobre o tema da ecologia humana.
O cardeal explicou como o tema tem evoluído ao longo dos últimos quatro pontificados, sempre em harmonia, e como se baseia nos textos bíblicos sobre a criação do mundo, nomeadamente no livro do Génesis.
Explicando que Deus criou o cosmos, Turkson foi ao sentido grego da palavra para decifrar o seu significado. “As mulheres aqui presentes estão familiarizadas com a ideia de cosmética. Os produtos cosméticos são o que usam para decorar a vossa cara de forma ordenada, e nessa ordem está a beleza. Se puserem batom nas sobrancelhas, só resulta confusão. O Cosmos é a criação ordenada que Deus estabelece, através da sua palavra, criando um lar para a humanidade”.
A consequência, diz o cardeal, é que a criação, e a humanidade em particular, correspondem a um desígnio de Deus, e não são fruto do acaso.
“Em todos os relatos da criação vemos que o homem foi criado correspondendo a um desígnio particular de Deus. O homem é criado em família. Somos criados à imagem e semelhança de Deus e a forma como passamos isso é através da procriação, por isso os filhos partilham da natureza dos seus pais.”
“A característica crucial dos irmãos é que nascem do mesmo seio, e se são do mesmo seio então têm a mesma dignidade. O plano da criação é que os irmãos tenham a mesma dignidade. Nenhum homem tem mais dignidade que outro. É isso que a fraternidade estabelece”, diz ainda o cardeal, concluindo por isso que “não precisamos da Carta Universal dos Direitos do Homem das Nações Unidas, para nos dizer que temos dignidade. A nossa dignidade não advém das Nações Unidas, mas do facto de – criados à imagem e semelhança de Deus e nascidos do mesmo seio – todos partilharmos a mesma dignidade.”
“Isto é o que nos diz o relato da Bíblia, partilhamos a mesma dignidade”, sublinha Turkson.
Ataque do “regresso às origens”
Segundo a visão da Igreja, portanto, a dignidade humana está intimamente ligada à sua relação com Deus e por isso qualquer ataque a esta relação põe em causa a ecologia humana, definida pelo cardeal como o ambiente social, ético e moral necessário para garantir o desenvolvimento saudável do homem, em todas as suas vertentes. “Quando o ambiente não é propício à dignidade do homem, a ecologia humana é má. Precisamos de a promover de forma a proteger a dignidade da pessoa”.
Entre estes ataques, sublinha Turkson, está a ideologia do género e a ideia do “regresso às origens”, que estipula que a “distinção entre a pessoa masculina e feminina foi algo que a religião judaico-cristã impôs à sociedade. Por isso, se puderem educar as crianças num mundo ou ambiente assexuado, mais tarde elas descobrirão o que são. Este é um dos maiores ataques à ecologia humana.”
As palavras do cardeal Turkson foram acolhidas com muitos aplausos pelos cerca de oito mil participantes neste encontro das Equipas de Nossa Senhora.
O movimento, presente em dezenas de países, reúne casais que, acompanhados por um conselheiro espiritual, fazem caminhada em conjunto, reunindo mensalmente para rezar, partilhar e discutir diferentes temas.
O 12.º Encontro Internacional, que se realiza durante esta semana em Fátima, é o maior alguma vez organizado pelas Equipas e para além do Cardeal Turkson contará com a presença de D. Manuel Clemente, no final. O padre Tolentino Mendonça, recentemente nomeado arcebispo pelo Papa Francisco, profere uma reflexão diária todas as manhãs.