20 jul, 2018 - 18:47 • Filipe d'Avillez
A Igreja estará a preparar-se para ordenar homens casados na Amazónia, para colmatar a falta de padres naquela região? A um ano antes do sínodo especial sobre a Amazónia são muitos os rumores de que o assunto possa estar na agenda dos bispos, mas o presidente da Conferência Episcopal do Brasil, D. Sérgio Rocha, diz que nada está ainda definido e que, em todo o caso, a resposta para as necessidades de evangelização naquela região nunca será tão simples.
“Nós temos insistido, juntamente com o Papa Francisco, na necessidade e na importância de se valorizar hoje, cada vez mais, os ministérios variados. Não se pode reduzir a preocupação com a evangelização da Amazónia à questão do ministério sacerdotal. Por exemplo, o Papa Francisco tem sublinhado como grande resposta à necessidade de evangelização da Amazónia o diaconado permanente”, explica o cardeal.
“Agora, se esse tema vai surgir ou não na assembleia sinodal, é algo que só Deus sabe, porque o Papa tem sido muito aberto a refletir, a dialogar sobre as mais diferentes situações, mas a assembleia sinodal sobre a Amazónia vai contar com bispos da Amazónia e que estão a ouvir as igrejas que estão na Amazónia para poder expressar o sentir dessas igrejas, as suas preocupações e as suas necessidades. Neste momento é muito difícil prever o que será ou não diretamente considerado durante a Assembleia Sinodal, será preciso aguardar um pouco mais”, conclui.
Mas os desafios que a Igreja latino-americana enfrenta não se encontram apenas na Amazónia. À margem do Encontro Internacional das Equipas de Nossa Senhora, a decorrer em Fátima, o arcebispo de Brasília diz que em toda a América Latina preocupa o estado das famílias.
“A família no Brasil e na América Latina, assim como no mundo de modo geral, preocupa pelas situações sociais. No caso do Brasil, circunstâncias dolorosas de pobreza, de miséria, de desemprego, de violência, que se abatem sobre as famílias. Essas famílias necessitam da família que é a Igreja. E há muita gente que não tem a experiência de vida de família que gostaria de ter. Então que na Igreja encontrasse a sua família, a Igreja quer ser casa dos que não têm casa, quer ser família dos que não conseguem viver a vida familiar como desejariam”, sublinha o cardeal.
Igreja corajosa na Nicarágua
A instabilidade que se vive em alguns países acaba por afetar toda a região, explica D. Sérgio, dando como exemplo as dificuldades vividas no Brasil devido à crise na Venezuela. “Temos agora um desafio enorme no Brasil, cresceu imenso o número de imigrantes, sobretudo vindo de países vizinhos como a Venezuela, e necessitamos de resposta. A Igreja tem a sua resposta, mas é uma resposta que tem de ser dada em conjunto com os poderes públicos. Sem a ação efetiva das autoridades é muito difícil resolver determinados problemas.”
Outro exemplo é a Nicarágua, onde há vários meses se registam protestos populares contra o Governo, cuja repressão tem feito centenas de mortos. Recentemente até a Igreja e os seus ministros têm sido alvo de agressões por parte de forças ligadas ao Governo, apesar de os bispos se terem oferecido para mediar a crise. “A Igreja na Nicarágua está a dar um exemplo muito belo e muito importante para o mundo de não desistir de dialogar. Houve momentos, sim, agora recentemente, em que a situação se complicou tanto que se questionava se conviria ou não continuar a propor-se a mediar, e por um momento até em parte se julgou que não era possível fazer-se mais nada. Mas é muito bonito observar que mesmo com as agressões sofridas pela própria Igreja, esta continua disposta a colaborar nesse processo de superação da violência através do diálogo”, diz.
“Não se pode, jamais, desistir de dialogar, porque quando se desiste de dialogar cede-se o lugar para soluções que são violentas, para as armas. Então o diálogo é fundamental e claro que falamos de um diálogo que de alguma maneira resulte na realização da justiça e da paz. Mas só o diálogo como tal já é pedagógico. Enquanto houver gente disposta a sentar-se para conversar, há esperança de paz.”
“Quando deixa de haver disposição para conversar, aí sem dúvida que a possibilidade de paz fica mais comprometida”, conclui o bispo.