27 jul, 2018 - 06:15 • Ana Lisboa
Estão onde faz mais falta. É este o propósito do Serviço Jesuíta aos Refugiados que tem um centro na Síria.
Desde há um ano, está lá um padre jesuíta: Gonçalo Castro Fonseca. Ofereceu-se para integrar esta missão no Médio Oriente, depois de um apelo do padre geral da Companhia de Jesus, que solicitou mais jesuítas para reforçarem o trabalho desenvolvido pelo centro, em Damasco.
Gonçalo partiu para a Síria com o compromisso de “dar esperança a quem não tem esperança”. A principal dificuldade que enfrentou foi a língua, que está a aprender e que considera “muito difícil”.
“O meu registo mental, lá, é sempre o inglês, mas nem toda a gente fala inglês ou um inglês capaz de grandes conversações”, conta.
Outro problema com que lidou foi com a questão da “imprevisibilidade", porque "não se pode fazer planos, nunca se sabe se amanhã o sítio vai estar, aquela pessoa vai estar. É muito viver o dia-a-dia” e “amanhã logo se vê”".
O centro do Serviço Jesuíta aos Refugiados na Síria (JRS), desde o início da guerra “foi dando várias respostas, vários projetos, sobretudo de emergência: desde a alimentação a cuidados médicos, saúde e visitas às famílias”.
Neste momento, “por falta de financiamento, nós estamos a apostar no acompanhamento sócio-educativo das crianças (…) Muitas delas não estão na escola por causa da guerra (…). E encontram em nós um tempo de aprendizagem, um tempo confortável e saudável que não têm no dia-a-dia, nas suas famílias, na rua”.
Apoiam todos os dias cerca de 200 crianças e jovens com idades que variam entre os 8 os 16 anos. “Muitas vezes encontramos situações de famílias destroçadas e os miúdos não têm família e vivem com alguém conhecido”.
O centro do JRS situa-se em Damasco e apoia “miúdos que vieram de zonas fustigadas pela guerra e destruídas e tiveram de fugir dos lugares onde viviam. Não puderam sair do país, porque não têm condições, porque são os mais pobres dos pobres. E precisam de muita esperança e de futuro. E é o que nós tentamos dar, é futuro”.
Uma história marcante
Há muitas histórias para contar que tocaram este padre. Mas uma delas, em especial. O jesuíta recorda que “logo no início, quando as crianças chegam ao centro, nós fazemos uma investigação sobre as necessidades. E uma das perguntas é: qual é o teu sonho?” E houve uma criança de 9 anos que disse que o seu sonho “é ter um caderno, uma mochila e uma caneta para aprender melhor”".
O padre Gonçalo confessa: “senti muito esta história, o nosso trabalho é dar mais sonho, que as crianças possam sonhar mais alto”. E acrescenta “isto pensado aqui no nosso contexto, nenhuma criança de 9 anos diz que o meu sonho é ter uma mochila e um caderno”.
Como se leva esperança a quem está em sofrimento
O padre Gonçalo Castro Fonseca admite que “é difícil” levar esperança a estas populações, mas tenta transmitir a ideia de que “vale a pena lutar pelo dia de amanhã, porque vai ser melhor”
Confessa que enfrenta todos estes sofrimentos, medos e perdas com “a ajuda deles. Sinto que eles são muito mais fortes que eu”. Precisamente por tudo isto que têm vivido, ganharam uma resistência inacreditável”. E sublinha “eles incentivam-me pela força, pela coragem que têm”. Além disso, “a minha força vem claramente também de sentir que cumpro a vontade de Deus”.
Neste momento, o padre Gonçalo encontra-se de férias em Portugal. Mas em breve vai voltar para a Síria, para continuar a cumprir a sua missão no centro do Serviço Jesuíta aos Refugiados em Damasco. Uma missão que “já valeu a pena” e, mesmo que não regressasse, “teria valido a pena”.