25 ago, 2018 - 22:22 • Eunice Lourenço , Aura Miguel
Viver em família é como preparar um chá: é muito fácil pôr a água a ferver, mas para ficar bem é preciso tempo e paciência para a infusão. A comparação foi feita pelo Papa Francisco, na Festa das Famílias, que decorreu este sábado à noite em Dublin.
“O matrimónio cristão e a vida familiar são compreendidos em toda a sua beleza e fascínio, se estiverem ancorados no amor de Deus, que nos criou à sua imagem para podermos dar-Lhe glória. Pais e mães, avôs e avós, filhos e netos são todos chamados a encontrar, na família, a realização do amor”, disse o Papa, continuando: “A graça de Deus ajuda dia a dia a viver com um só coração e uma só alma. Mesmo as sogras e as noras! Ninguém diz que seja fácil... É como preparar um chá: é fácil ferver a água, mas uma boa taça de chá requer tempo e paciência; é preciso deixar em infusão! Então, dia após dia, Jesus aquece-nos com o seu amor, fazendo de modo que penetre todo o nosso ser.”
O Papa discursou no Croke Park depois de ouvir testemunhos de familias de várias partes do mundo. E foi pegando nesses testemunhos que foi dizendo o que queria às famílias. Do Burkina Faso, ouviu uma história de perdão e pediu às famílias que saibam perdoar. Lembrou como já tem aconselhado os casais a fazerem as pazes antes de irem dormir porque, se não o fizerem, a “guerra fria” é muito pior na manhã seguinte.
“Gestos humildes e simples de perdão, renovados dia a dia, são o fundamento sobre o qual se constrói uma vida familiar cristã sólida”, disse Francisco, pedindo também aos casais que não durmam separados. “Mesmo se te sentires tentado a ir dormir noutro quarto, sozinho e isolado, bate simplesmente à porta e diz: ‘Por favor, posso entrar?’ Basta um olhar, um beijo, uma palavra doce... e tudo volta a estar como antes! Digo isto porque as famílias, quando o fazem, sobrevivem. Não existe uma família perfeita; sem o hábito do perdão, a família cresce doente e gradualmente desmorona-se. Perdoar significa doar algo de si mesmo. Jesus perdoa-nos sempre. Com a força do seu perdão, também nós podemos perdoar aos outros, se o quisermos de verdade”, aconselhou o Papa.
De uma família da India ouviu uma história sobre como as redes sociais também podem ser fator de união. “Os meios de comunicação social não são necessariamente um problema para as famílias, mas podem contribuir para a construção duma "rede" de amizade, solidariedade e apoio mútuo. As famílias podem conectar-se através da internet e beneficiar disso. Os meios de comunicação social podem ser benéficos, se forem usados com moderação e prudência”, reconheceu o Papa, que ainda assim avisou: “É importante que estes meios nunca se tornem uma ameaça para a verdadeira rede de relações de carne e sangue, prendendo-nos numa realidade virtual e isolando-nos das relações autênticas que nos estimulam a dar o melhor de nós mesmos em comunhão com os outros.”
Do Iraque, Enass e Sarmaad contaram como, graças à solidariedade manifestada por muitas outras famílias, a vida pode ser reconstruída e renascer a esperança. E daí o Papa conclui que “em cada sociedade, as famílias geram paz, porque ensinam o amor, o acolhimento e o perdão, que são os melhores antídotos contra o ódio, o preconceito e a vingança que envenenam a vida de pessoas e comunidades”.
“Vós, famílias, sois a esperança da Igreja e do mundo! Deus, Pai, Filho e Espírito Santo, criou a humanidade à sua imagem para fazê-la participante do seu amor, para que fosse uma família de famílias e gozasse daquela paz que só Ele pode dar. Com o vosso testemunho do Evangelho, podeis ajudar Deus a realizar o seu sonho. Podeis contribuir para aproximar todos os filhos de Deus, para que cresçam na unidade e aprendam o que significa, para o mundo inteiro, viver em paz como uma grande família”, concluiu o Papa Francisco que, este domingo, celebra missa no encerramento do Encontro Mundial das Famílias.
A jornalista da Renascença Aura Miguel acompanha o Papa
Francisco na sua Viagem Apostólica à Irlanda com o apoio da Santa Casa da
Misericórdia de Lisboa.