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Papa não dirá “uma palavra” sobre acusações de encobrimento de abusos

26 ago, 2018 - 23:39

“A carta fala por si mesma”, disse Francisco no regresso de Dublin a Roma, desvalorizando as acusações do antigo Núncio Apostólico do Vaticano nos Estados Unidos.

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Papa não dirá “uma palavra” sobre acusações de encobrimento de abusos

O Papa disse este domingo, no regresso da viagem à Irlanda, que não responderia à carta, assinada pelo antigo Núncio Apostólico do Vaticano nos Estados Unidos, que o acusa de encobrir casos de abusos sexuais e que o aconselha a renunciar.

A bordo do avião que o levava de regresso a Roma, Francisco disse aos jornalistas que as alegações “falam por si mesmas” e que não dirá “uma palavra” sobre o documento de 11 páginas. O Papa aconselhou os jornalistas a ler a missiva com cuidado e a tirar as suas próprias conclusões sobre a credibilidade das alegações.

O arcebispo Carlo Maria Vigano, que dirigiu a diplomacia do Vaticano nos Estados Unidos de 2011 a 2016, acusa o Papa de já ter conhecimento há pelo menos cinco anos das denúncias de abuso sexual que implicam um proeminente cardeal norte-americano, Theodore McCarrick, que há apenas um mês pediu a renúncia.

“Li essa declaração esta manhã. E devo dizer o seguinte a todos vocês que estão interessados: leiam o documento com cuidado e julguem vocês mesmos”, afirmou Francisco aos jornalistas.

“Eu não direi uma palavra sobre isto. Creio que a declaração fala por si mesma e vocês têm suficiente capacidade jornalística para chegarem às vossas próprias conclusões”, acrescentou.

Carlo Maria Vigano prestou as declarações acusatórias a meios católicos conservadores durante a visita do Papa à Irlanda. Uma viagem dominada pelos casos de abuso sexual por membros da Igreja, naquele país e noutros locais.

Vigano acusou uma longa lista de atuais e antigos responsáveis da Igreja, nos Estados Unidos e no Vaticano, de encobrirem o caso do cardeal Theodore McCarrick, que enfrentava extensas acusações ligadas ao abuso sexual de seminaristas e padres.

McCarrick, de 88 anos, tornou-se o primeiro cardeal a renunciar depois das alegações de que abusou sexualmente de um rapaz de 16 anos terem sido consideradas fidedignas. Foi também acusado de forçar seminaristas adultos a partilhar a sua cama.

No regresso a Roma, Francisco aconselhou os próprios fiéis a agir, defendendo que “quando se vê alguma coisa, é preciso denunciar logo" e sublinhando que, “tantas vezes, são os pais que cobrem o abuso de um padre, porque não creem no filho ou na filha.”

“Ignorar um filho homossexual é falta de paternidade”

O Papa foi ainda questionado, a bordo do avião, sobre o que diria a um pai cujo filho lhe comunica que é homossexual. “Primeiro, que reze, depois não o condene, dialogue, tente perceber, dar espaço ao filho ou à filha”, aconselhou o Papa.

“Depois, depende da idade em que isto se manifesta, mas eu diria que o silêncio nunca é o remédio”, acrescentou Francisco. “Ignorar o filho ou a filha homossexual é uma falta de paternidade ou de maternidade. Sou o teu pai, sou a tua mãe, vamos falar, não te expulso da família”, recomendou.

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