06 set, 2018 - 14:16 • Aura Miguel
A nobreza e as dificuldades do celibato foram esta quinta-feira, no Simpósio do Clero, passadas a pente fino por monsenhor Juan Maria Uriarte.
O bispo emérito de San Sebastián, com livros publicados sobre o assunto, traçou o panorama das dificuldades antropológicas do celibato através das várias fases da vida, desde a idade jovem até à idade avançada.
Abordou com realismo as tensões e desequilíbrios sexuais e afetivos, sem esquecer a vida dupla de alguns e o consumo de pornografia por outros: “deformações e feridas que precisam de acompanhamento e autodisciplina”.
Este acompanhamento é fundamental para recuperar o verdadeiro sentido do autêntico celibato, que “não é só uma regra, mas um dom de amor que implica uma adesão livre e profunda”. Ou seja, para ser verdadeiro, “o celibato tem de brotar de dentro e com o desejo de ser para sempre”, defende o bispo espanhol.Monsenhor Uriarte sublinha que “o padre não é um solteirão, mas um seguidor de Cristo no celibato” e lamentou que, em muitos seminários, a educação sexual e afetiva continue a ser insuficiente.
“A formação dos sacerdotes não pode ficar só pela teologia, espiritualidade e escritura, mas deve também a incluir psicologia, sociologia e antropologia.”
À margem da conferência, o bispo emérito de San Sebastián recordou que “não há relação entre o celibato e os abusos sobre menores”, uma conclusão comprovada por vários estudos científicos, frisou.
“O celibatário, suficiente maduro, pode sentir-se tentado a relacionar-se com um adulto ou uma adulta, não com uma criança ou um pré-adolescente. Além disso, esta afirmação científica, partilhada por vários especialistas que conheço, está comprovada também pela experiência”, afirma monsenhor Uriarte.
“É curioso que os ministros de outras confissões - tanto os orientais como os protestantes - que se debruçam sobre este tipo de delitos, referem que a maior parte dos celibatários sentem que a relação entre a sua condição e a pedofilia não é real. Não existe”, reforça.
Monsenhor Uriarte refere que a Igreja está a enfrentar o escândalo dos abusos sexuais, enquanto outras instituições continuam a silenciar.
“A Igreja é a primeira instituição que o reconheceu publicamente, que pediu perdão e quer reparar as vítimas. É certo que o fez demasiado tarde, mas fê-lo, enquanto em muitas outras nem sequer há denúncias na comunicação social, nem tão pouco se retrataram publicamente, o que é tão necessário para a irradicação de um fenómeno que nos aflige a todos.”
Em conclusão do Simpósio do Clero, que terminou esta quinta-feira, em Fátima, D. António Augusto Azevedo, responsável pela organização, espera agora um efeito multiplicador e que os participantes reavivam nas suas comunidades “a beleza do sacerdócio nestes dias obscurecidos por alguns problemas”, porque este dom vivido em beleza e plenitude, “só pode ser bom para a sua missão, para as pessoas e para os cristãos”.