25 set, 2018 - 22:14
O Papa Francisco disse compreender que os jovens se escandalizem com os casos de abusos na Igreja, reconhecendo que são muito graves e sublinhando que estão a ser tomadas medidas para atacar o problema.
A bordo do avião que o transportou para Roma, depois da visita a três países do Báltico, recordou o que se passou, nos anos 70, na Pensilvânia, para sublinhar o seu empenho na descoberta da verdade.
“Vejam o exemplo da Pensilvânia, nos anos 70, façam a comparação e vejam como quando a Igreja começou a tomar consciência disto, se empenhou em pleno e nos últimos tempos recebi muitas condenações, da parte da Doutrina da Fé e disse: ‘avancem’. Nunca assinei um indulto depois de uma condenação. Sobre isto não se negoceia, declarou.
O Papa falava aos jornalistas na viagem de avião de regresso ao Roma, após a visita à Estónia, Letónia e Lituânia, as três antigas repúblicas soviéticas do Báltico.
Francisco utilizou a palavra “monstruoso” para descrever os atos cometidos por religiosos.
“Os jovens escandalizam-se com a hipocrisia dos grandes. Escandalizam-se com as guerras, escandalizam-se com as incoerências, escandalizam-se com a corrupção, onde se incluem os abusos sexuais. É verdade que se acusa a Igreja, sabemo-lo bem, conhecemos as estatísticas. Mas nem que fosse só um padre a abusar uma criança: é sempre monstruoso! Compreendo que os jovens se escandalizam com esta corrupção tão grave”, declarou o Papa.
Papa saúda acordo com a China
Francisco saudou o recente acordo entre o Vaticano e a China, admitiu que nem todos perceberão imediatamente a lógica por detrás do entendimento, mas acredita na “grande Fé” dos católicos chineses.
“É um processo de diálogo que dura há anos, entre a Comissão vaticana e a Comissão chinesa para fixar a nomeação dos bispos. Quando se faz um acordo de paz ou uma negociação, ambas as partes perdem sempre alguma coisa e assim se avança. Neste caso avançou assim: dois passos para a frente e um para trás, dois para a frente e um para trás; depois, vários meses sem se falar… é o tempo de Deus, que se assemelha ao tempo chinês, que avança lentamente. Isto é sabedoria, a sabedoria chinesa”, salientou.
O Papa assume total responsabilidade pelo acordo com a China, defende que é um “verdadeiro caminho” e deixa uma palavra para os católicos do país mais populoso do mundo.
“É verdade que eles vão sofrer: num acordo há sempre sofrimento. Mas eles têm uma grande fé. Escrevem e enviam mensagens dizendo que aquilo que a Santa Sé e que Pedro dizem é o que Jesus diz. É a fé dos mártires que faz esta gente grandiosa avançar. Fui eu que assinei o acordo. Sou eu o responsável. Não é uma improvisação, é um caminho, um verdadeiro caminho.”
Francisco não esquece as palavras de apoio depois das críticas deixadas pelo antigo Núncio Apostólico do Vaticano nos EUA, o arcebispo D. Carlo Maria Vigano, que acusou o Papa de conhecer casos de abusos há cinco anos e de nada ter feito.
“Quando surgiu o famoso comunicado de um ex-núncio apostólico, os episcopados mundiais escreveram-me a dizer que estavam próximos e que rezavam por mim. Os fiéis chineses também me escreveram e o texto tinha as assinaturas do bispo, digamos assim, da Igreja tradicional católica e do bispo da Igreja patriótica. Os dois juntos e os fiéis dos dois lados juntos. Para mim, isto foi um sinal de Deus”, salientou Francisco.
A jornalista da Renascença Aura Miguel acompanha o Papa Francisco na sua Viagem Apostólica à Lituânia, Letónia e Estónia com o apoio da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.