03 out, 2018 - 13:00 • Filipe d'Avillez
Walter Osswald considera que, num contexto de encontro de culturas como o que se vive na Europa, sobretudo dado o fluxo de imigrantes e refugiados vindos de países em guerra ou em crise, é inevitável existirem "choques", mas o termo não tem de ser entendido como pejorativo, diz.
Falando numa conferência, integrado o II Congresso do Diálogo Inter-religioso, promovido pelo Alto Comissariado para as Migrações e pela Comissão de Liberdade Religiosa, o professor de bioética aponta que há choques que são positivos: “Acho que a palavra 'choque' pode ser usada, porque há choques que são positivos. Inclusive, o choque afetivo que se tem quando se encontra uma manifestação que não se esperava, de carinho ou de amizade. Portanto, a palavra 'choque' não me parece ser pejorativa.”
“É sempre um choque encontramo-nos com algo a que não estamos habituados, representa sempre um desafio, e, dessa maneira, parece-me que pode haver sempre alguma surpresa e alguma rejeição inicial. O que é preciso é ter o espírito aberto, não permanecer nessa rejeição inicial e pensar que se isto é diferente será interessante, será bom e tem de se analisar aquilo que nos é oferecido”, acrescenta.
“O que realmente desejamos é que esse tal choque seja razão de raciocínio, de reflexão, de ponderação e, eventualmente, de aceitação.”
Em vários países europeus, porém, esse encontro ou choque de culturas tem tido contornos de violência e de agressividade. Portugal tem sido poupado a essas complicações e as comunidades religiosas tendem a dizer que estão bem integradas no país. Mas Walter Osswald aconselha cautela antes de se classificar os portugueses como naturalmente abertos às culturas diferentes.
“Em primeiro lugar, em Portugal os problemas de imigração são bastante reduzidos. Se for pensar no número de pessoas que acolhemos, apesar de estarmos de braços abertos, e do Governo ter uma política de abertura para refugiados, temos dezenas de pessoas e não é comparável ao que acontece na Áustria ou na Hungria. Portanto temos sido poupados até pela posição geográfica a grandes choques deste tipo.”
“Portanto seria um bocado prudente em relação a essa ideia de bonomia dos portugueses, porque eles não têm sido desafiados. Espero que o bom povo português seja uma realidade e não apenas uma ideia generosa daquilo que se passa, mas penso que sim, que de uma forma geral o português é acolhedor”, conclui.
O II Congresso do Diálogo Inter-religioso é subordinado ao tema “Cuidar do Outro” e decorre durante esta quarta-feira no auditório Cardeal Medeiros, na Universidade Católica de Lisboa.