18 dez, 2018 - 10:00 • Aura Miguel , com Redação
O Papa critica os líderes nacionalistas que culpam os migrantes pelos problemas existentes nos países de destino e que, assim, fomentam a desconfiança na sociedade em busca de ganhos desonestos e políticas xenófobas.
As palavras constam da Mensagem para o Dia da Paz, que assinala no primeiro dia de cada ano e que é enviada a todos os chefes de Estado e de Governo, bem como organizações internacionais.
"Os discursos políticos que tendem a culpar os migrantes de todos os males e a privar os pobres de esperança são inaceitáveis", afirma Francisco na mensagem intitulada "A boa política está ao serviço da paz", sem mencionar qualquer país ou responsável político.
Os tempos correntes são “marcados por um clima de desconfiança, enraizado no medo dos outros, de estranhos ou na ansiedade sobre a sua segurança pessoal”, defende ainda.
Tal desconfiança é percecionada também “ao nível político, em atitudes de rejeição ou formas de nacionalismo que colocam em questão a fraternidade de que o nosso mundo globalizado tanto precisa”, aponta também.
Esta mensagem surge num momento em que a imigração é uma das questões mais controversas em países como os Estados Unidos, Itália, Alemanha e Hungria.
Caridade e virtudes como parte da política
O Papa lembra ainda a necessidade de os decisores políticos encararem a política como um "serviço à coletividade humana", sob pena de se tornar num "instrumento de opressão".
“A política é um meio fundamental para construir a cidadania e as obras do homem, mas, quando aqueles que a exercem não a vivem como serviço à coletividade humana, pode tornar-se instrumento de opressão, marginalização e até destruição”, escreve Francisco.
"A função e a responsabilidade política constituem um desafio permanente para todos aqueles que recebem o mandato de servir o seu país, proteger as pessoas que habitam nele e trabalhar para criar as condições dum futuro digno e justo”, prossegue o Papa, apontando que, se assim for, “a política pode tornar-se verdadeiramente uma forma eminente de caridade”.
A mensagem sublinha também que a caridade e as virtudes humanas são essenciais “para uma política ao serviço dos direitos humanos e da paz”, uma vez que inerentes a uma boa ação política estão as virtudes da “justiça, equidade, respeito mútuo, sinceridade, honestidade, fidelidade”.
Francisco nota particularmente que, em tempo de eleições, é sempre bom “voltar à fonte e às referências que inspiram a justiça e o direito.”
Os vícios da política
O Papa preocupa-se com os vícios da política que “tiram credibilidade aos sistemas onde ela se realiza, bem como à autoridade, às decisões e à ação das pessoas que se lhe dedicam” e que constituem "a vergonha da vida pública e colocam em perigo a paz social”.
Francisco enumera os vícios que deteta no exercício da atividade política: “A corrupção – nas suas múltiplas formas de apropriação indevida dos bens públicos ou de instrumentalização das pessoas – a negação do direito, a falta de respeito pelas regras comunitárias, o enriquecimento ilegal, a justificação do poder pela força ou com o pretexto arbitrário da 'razão de Estado', a tendência a perpetuar-se no poder, a xenofobia e o racismo, a recusa a cuidar da Terra, a exploração ilimitada dos recursos naturais em razão do lucro imediato, o desprezo daqueles que foram forçados ao exílio.”
A paz parece “uma flor frágil que procura desabrochar por entre as pedras da violência”, uma vez que “a busca do poder a todo o custo leva a abusos e injustiças”, prossegue o Papa.
Na mensagem para o Dia Mundial da Paz, o Papa apela ainda à participação dos jovens na política e lembra “as crianças que vivem nas zonas atuais de conflito e todos aqueles que se esforçam por que a sua vida e direitos sejam protegidos".
"No mundo, uma em cada seis crianças sofre com a violência da guerra ou pelas suas consequências, quando não é requisitada para se tornar, ela própria, soldado ou refém dos grupos armados. O testemunho daqueles que trabalham para defender a dignidade e o respeito das crianças é extremamente precioso para o futuro da humanidade", lembra o Santo Padre.