24 jan, 2019 - 23:21 • Aura Miguel, enviada especial ao Panamá, com redação
O Papa desafia os jovens a serem "verdadeiros mestres e artesãos da cultura do encontro". Francisco falava esta quinta-feira na cerimónia de acolhimento e abertura da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), no Panamá.
Perante milhares de jovens que foram ao seu encontro no Campo de Santa Maria la Antígua, o Papa deixou uma pergunta: “querem ser construtores de muros ou de pontes?”
Francisco alerta que o demónio, “pai da mentira”, prefere sempre um povo dividido e tem medo de um povo que aprenda a trabalhar em conjunto.
O Papa elogiou o esforço e o exemplo de união protagonizado pelos milhares de participantes na Jornada Mundial da Juventude.
“Vimos de culturas e povos distintos, falamos línguas diferentes, vestimos roupas diversas. Cada um dos nossos povos viveu histórias e circunstâncias distintas. Quantas coisas podem diferenciar-nos! Mas nada disso impediu que nos pudéssemos encontrar e sentir felizes por estarmos juntos. Isto é possível, porque sabemos que há algo que nos une, há Alguém que nos faz irmãos”, declarou.
“Vós, queridos amigos, fizestes muitos sacrifícios para vos poderdes encontrar, tornando-vos assim verdadeiros mestres e artesãos da cultura do encontro. Com os vossos gestos e atitudes, com as vossas perspetivas, desejos e sobretudo a vossa sensibilidade, desmentis e refutais certos discursos que se concentram e empenham em semear divisão, em excluir e expulsar quantos «não sejam como nós»”, sublinhou.
Francisco diz que os jovens conseguem intuir que “o amor verdadeiro não anula as diferenças legítimas, mas harmoniza-as numa unidade superior”.
“Vós ensinais-nos que encontrar-se não significa mimetizar-se, pensar todos a mesma coisa, viver todos de forma igual fazendo e repetindo as mesmas coisas, ouvindo a mesma música ou usando o uniforme do mesmo clube de futebol. Não é isto! A cultura do encontro é apelo e convite a termos a coragem de manter vivo um sonho comum. Sim, um sonho grande e capaz de envolver a todos. O sonho, pelo qual Jesus deu a vida na cruz”, afirmou o Papa, perante os aplausos da multidão.
“Continuem com esta energia renovadora e inquietação constante”
Nesta cerimónia de acolhimento e abertura da Jornada Mundial da Juventude, o Papa garantiu que, em todas as ocasiões, “Pedro e a Igreja caminham” ao lado dos jovens.
“Queremos dizer-vos que não tenhais medo, que prossigais com esta energia renovadora e esta inquietação constante que nos ajuda e impele a ser mais alegres e disponíveis, mais testemunhas do Evangelho.
O Papa pede às novas gerações que continuem, "não para criar uma Igreja paralela, um pouco mais «jovial» e «atrevida» numa modalidade para jovens, com alguns elementos decorativos, como se isso pudesse deixar-vos contentes". Pensar assim, sublinha, "seria faltar ao respeito devido a vós e a tudo aquilo que o Espírito, por vosso intermédio, nos tem vindo a dizer".
“Ao contrário, queremos redescobrir e despertar, juntamente convosco, a novidade incessante e a juventude da Igreja”, afirmou o Sumo Pontífice.
Francisco refere que esta Jornada Mundial da Juventude não será fonte de esperança por causa de um documento final, mas pela esperança que irradia “graças aos vossos rostos e à oração”.
“Cada um regressará a casa com aquela força nova que se gera sempre que nos encontramos com os outros e com o Senhor, cheios do Espírito Santo para lembrar e manter vivo aquele sonho que nos faz irmãos e que somos convidados a não deixar congelar no coração do mundo”, declarou.
Desde o Panamá, o Papa disse aos jovens e ao mundo que o amor de Jesus Cristo “não se impõe nem esmaga, um amor que não marginaliza nem obriga a estar calado, um amor que não humilha nem subjuga”.
Francisco fez uma referência ao Papa emérito e também pediu aplausos para Bento XVI. Também recordou as palavras de S. Óscar Romero, o arcebispo salvadorenho assassinado em 1980.
“Um santo destas terras gostava de dizer: 'O cristianismo não é um conjunto de verdades para se acreditar, nem de leis para se observar nem de proibições. Visto assim, seria muito repugnante. O cristianismo é uma Pessoa que me amou tanto, que reivindica e pede o meu amor. O cristianismo é Cristo'; é continuar o sonho pelo qual Ele deu a vida: amar com o mesmo amor com que Ele nos amou”, disse o Papa, que terminou a sua intervenção com uma palavra de agredecimento a todos os envolvidos na preparação da Jornada Mundial da Juventude.