26 jan, 2019 - 00:19 • Aura Miguel, enviada especial ao Panamá, com redação
O Papa defende uma cultura de acolhimento e integração dos migrantes e critica quem olha para o estrangeiro como “portador de mal social”.
Na Via-Sacra da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), realizada esta sexta-feira no Campo de Santa Maria la Antígua, no Panamá, Francisco pediu ao mundo que siga o exemplo e coragem da Mãe de Jesus Cristo.
“Como Maria, queremos ser Igreja que favoreça uma cultura que saiba acolher, proteger, promover e integrar; que não estigmatize e, menos ainda, generalize com a condenação mais absurda e irresponsável que é ver todo o migrante como portador de mal social”, declarou o Santo Padre.
Perante milhares de jovens, o Papa pediu-lhes que combatam a “apatia”, “imobilismo” e o “conformismo”, e que não virem a cara a quem está em dificuldades, numa sociedade que “consome e se consome, que ignora e se ignora na dor dos seus irmãos”.
“Sempre a mesma tentação. É mais fácil e ‘remunerador’ ser amigo nas vitórias e na glória, no sucesso e no aplauso; é mais fácil estar próximo a quem é considerado popular e vencedor. Como é fácil cair na cultura do ‘bullying’, do assédio e da intimidação! Para Vós, Senhor, não é assim! Na cruz, identificastes-Vos com todo o sofrimento, com quem se sente esquecido”, lembrou Francisco.
Num dos momentos altos da Jornada Mundial da Juventude, o Sumo Pontífice falou calvário de violência, aborto, abusos, negligências e exploração que assolam a Humanidade nos dias de hoje.
“Pai, hoje a Via-Sacra do vosso Filho prolonga-se: no grito sufocado das crianças impedidas de nascer e de tantas outras a quem se nega o direito a ter uma infância, uma família, uma instrução; que não podem jogar, cantar, sonhar; nas mulheres maltratadas, exploradas e abandonadas, despojadas e ignoradas na sua dignidade; nos olhos tristes dos jovens que veem ser arrebatadas as suas esperanças de futuro por falta de instrução e trabalho digno; na angústia de rostos jovens, nossos amigos, que caem nas redes de pessoas sem escrúpulos – entre elas, encontram-se também pessoas que dizem servir-Vos, Senhor –, redes de exploração, criminalidade e abuso, que se alimentam das suas vidas”, sublinhou.
Francisco considera que a Via-Sacra prolonga-se nos jovens “que perderam a capacidade de sonhar, criar e inventar o amanhã e «passam à aposentação» com o dissabor da resignação e do conformismo, uma das drogas mais consumidas no nosso tempo”.
O Papa voltou a destacar a “coragem” de Maria, que ficou de pé ao lado da cruz, e disse que “também nós queremos ser uma Igreja que apoia e acompanha, que sabe dizer: estou aqui, na vida e nas cruzes de tantos cristos que caminham ao nosso lado.
Antes do discurso do Papa Francisco, jovens de vários países da América Latina e Caraíbas deixaram várias mensagens durante as 14 estações da Via-Sacra.
Da pobreza aos jovens, das vocações aos cristãos perseguidos, dos povos indígenas à ecologia ou à esperança, os intervenientes também abordaram o problema das migrações e dos refugiados.
Dois jovens da Venezuela subiram ao palco para dizer que a família de Jesus Cristo teve que fugir para o Egipto e sentiu os passos de quem persegue com brutalidade aqueles que perderam tudo e as fronteiras que se fecham como “espinhos” que “ameaçam, desprezam e rejeitam tantos irmãos”.
A Via-Sacra foi o último ponto da agenda do Papa desta sexta-feira. No programa para este sábado, Francisco regressa ao Casco Viejo - o coração histórico da cidade, símbolo mais antigo da tradição cultural e religiosa deste povo, para celebrar missa na Catedral e Basílica dedicada à padroeira do Panamá Santa Maria La Antigua. Nesta missa participa o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.