27 jan, 2019 - 15:16 • Marília Freitas
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É o maior encontro de jovens católicos e um dos maiores eventos do mundo. Milhares - e muitas vezes milhões - de jovens juntam-se para celebrar a fé e encontrar-se com o Papa.
A Jornada Mundial da Juventude varia de local, alternando de continente em cada edição. É o Papa que escolhe a diocese que acolhe a próxima JMJ, cabendo a essa diocese a organização do evento, sempre em estreita colaboração com a Santa Sé, mais concretamente, com o Dicastério para os Leigos a Família e a Vida.
Escolhida a cidade, neste caso Lisboa em 2022, há que pôr mãos à obra. Mas afinal como se organiza uma JMJ? A resposta de quem já desempenhou algumas funções nessa organização é inequívoca: “com muito trabalho”.
O espaço
Nuno Conceição esteve em seis jornadas, duas delas como voluntário (em Madrid e no Rio de Janeiro). Recebeu sacerdotes, distribuiu kits de peregrino, foi guia turístico e fez “cordões de segurança”. Sabe que uma organização desta envergadura tem “dimensões astronómicas” no que diz respeito a “recursos humanos e técnicos”.
Primeiro, diz, é preciso “um espaço gigantesco”. E dá exemplos: "em Madrid foi um aeroporto, no Rio de Janeiro foi uma praia, em Paris foi um hipódromo, em Roma foi um campus universitário".
Os peregrinos
Depois de um processo muito longo de apresentação da Jornada, de trabalho com as conferências episcopais há que tratar das inscrições de peregrinos, voluntários, padres e bispos.
E aqui, há números para todos os gostos. Se no Panamá estão oficialmente inscritos cerca de 100 mil jovens, em Manila, em 1995, estima-se que tenham estado presentes cerca de quatro milhões de pessoas.
Além dos cinco dias das jornadas, com a presença do Papa, há a “pré-jornada”, que antecede a semana da JMJ e que consiste na integração dos jovens nas comunidades paroquiais, nas várias dioceses do país e, nalguns casos, em países vizinhos.
Durante esses dias, os participantes podem ficar a conhecer melhor o país que os acolhe, bem como a Igreja local e as suas especificidades, ficando alojados, à semelhante da semana da JMJ, em instalações públicas, paroquiais ou em casas de famílias.
Nuno Conceição lembra que é preciso alojar e alimentar toda a gente. Procuram-se famílias de acolhimento, envolvem-se as paróquias, associações e a sociedade civil em geral.
“Tem que se conseguir alimentar um milhão de jovens durante dois dias, abastecer com água e manter os jovens saudáveis”, diz Nuno, lembrando um episódio ocorrido em Madrid, em que “os bombeiros tiveram que regar os jovens, porque as temperaturas rondavam os 40 graus".
"Não vai poder ficar uma pessoa de fora destas jornadas. É preciso toda a gente”, avisa Tomás Virtuoso, que está no Panamá desde o início de janeiro. É voluntário na área das relações internacionais e já perdeu a conta às horas de trabalho noite dentro.
"Fomos às duas da manhã ajudar uns jovens que estavam retidos no aeroporto por causa de vistos; outros perderam-se e tivemos que ir buscá-los às tantas da noite", conta à Renascença. Nada de anormal para quem está habituado a organizar eventos com jovens, como é o caso de Tomás e Nuno.
As finanças e o ambiente
Da logística à liturgia, do acolhimento dos peregrinos às relações internacionais, da comunicação ao secretariado, das finanças às preocupações ambientais, são várias as áreas para as quais terão que ser criadas equipas de trabalho.
No papel, o organigrama até pode parecer “um desenho bonito”, “mas quando uma pessoa está cá dentro percebe que é uma coisa absolutamente gigantesca, a quantidade de pessoas que isto envolve e a quantidade de exigências que são precisas para levar um evento destes para a frente”, conta Tomás.
No Panamá, este jovem português constatou a importância crescente da dimensão ecológica da JMJ. Foi criado um departamento denominado “Laudato Si”, que trata de garantir umas “jornadas ecológicas e com menos lixo”.
Mais coração e menos burocracia
Tomás compara a organização de uma JMJ à de um festival de verão ou da WebSummit, “uma coisa grandiosa, com dezenas de áreas e centenas de pessoas a trabalhar todos os dias e cérebros a carborar”, mas com uma mística diferente.
“Há uma alma especial neste evento. Aqui não vale só a cabeça, o processo, a logística perfeita, também é preciso que o coração e a alma estejam centrados naquilo que verdadeiramente importa que é que estas jornadas possam ser um acontecimento muito importante na vida de cada jovem para que possa experienciar um encontro profundo com Jesus”, diz.
E se há coisa que Tomás aprendeu com os panamenhos é que o coração conta muito. “Esta gente pode estar com o mundo a cair-lhes em cima, mas não deixam de rezar quando têm que rezar, não deixam de confiar no Espírito Santo”, relata.
“Nós na Europa às vezes somos demasiado uns burocratas da fé e deixamos que os padrões de competência e de eficiência matem a alma cristã que há em nós. E esta gente realmente pode ser às vezes um tanto ou quanto menos organizada que nós, mas tem um coração muito centrado”. E é essa lição que Tomás quer trazer para Portugal.