28 jan, 2019 - 12:30 • Filipe d'Avillez , Aura Miguel
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O Papa Francisco esclareceu que não tem qualquer intenção de acabar com o celibato obrigatório na Igreja Católica.
Francisco falava a bordo do avião que o trouxe do Panamá, onde participou na Jornada Mundial da Juventude. Respondendo às perguntas dos jornalistas a bordo, o Papa foi claro sobre o valor que dá ao celibato dos sacerdotes.
“Recordo uma frase do Papa São Paulo VI: ‘Antes dar vida do que mudar a lei do celibato”. É uma frase corajosa num momento ainda mais difícil do que o de hoje, nos anos de 68, 70”, começou por dizer o Papa.
“Pessoalmente, penso que o celibato é um dom para a Igreja. Não estou de acordo em permitir o celibato opcional.”
O celibato para os padres é uma questão de disciplina, não de dogma, mas é obrigatório para a esmagadora maioria dos padres católicos. As regras da Igreja não permitem que um homem que já tenha recebido o sacramento da ordem, incluindo o diaconato, possa casar, pelo que até os diáconos permanentes, que por norma são casados, estão impedidos de voltar a casar em caso de viuvez.
Existem exceções, nomeadamente entre o clero de algumas igrejas católicas de rito oriental, que têm as suas próprias liturgias e tradições. Na igreja de rito latino, ou ocidental, que é a maioritária, apenas são permitidas exceções para homens que já eram sacerdotes noutras igrejas que permitem o casamento e que pedem para ser admitidos na Igreja Católica. A maioria dos padres nesta situação são ex-anglicanos.
Alguns defensores do celibato opcional dizem que esta poderia ser uma forma de combater a crise vocacional. O Papa não descarta totalmente essa hipótese. “Somente poderia haver alguma possibilidade em lugares recônditos, penso nas ilhas do Pacífico, por exemplo. Mas é uma coisa a pensar, sempre que exista necessidade pastoral e a pensar nos fiéis”, disse Francisco, que anteriormente já tinha dito que admitia pensar na possibilidade da ordenação de homens casados.
Contudo, a concluir, o Papa foi enfático. “A minha decisão é: celibato opcional antes do diaconato, não! Eu não o farei, que fique claro.”
Baixar as expetativas
O Papa foi também questionado sobre a cimeira de presidentes de conferências episcopais, sobre a questão dos abusos sexuais, que vai ter lugar entre os dias 21-24 de fevereiro.
A cimeira foi convocada numa altura em que rebentaram novos escândalos de abusos em vários países, nomeadamente nos Estados Unidos, mas Francisco avisou no avião que não se devem esperar grandes novidades deste encontro, que tem um intuito mais formativo.
“A ideia disto nasceu no C9”, disse Francisco, referindo-se ao conselho de nove cardeais que o aconselha, “sentimos a responsabilidade de dar uma ‘catequese’ sobre este problema às conferências episcopais. Por isso, chamamos os presidentes. Uma catequese em que se tome consciência do drama de uma criança abusada.”
“Recebo regularmente gente que foi abusada e recordo um que, durante 40 anos, não conseguia rezar. É um sofrimento terrível. Em segundo lugar, devem saber o que fazer e quais os processos. E depois, que haja programas ao alcance de todas as conferencias episcopais, de modo claro”, explicou Francisco.
“Dei-me conta de que há, sobre este encontro, uma expectativa exagerada. É preciso baixar a expectativa”, concluiu.
Recentemente o porta-voz da Santa Sé, que entretanto se demitiu, disse que a realização da cimeira mostra que o combate aos abusos é uma prioridade para o Papa.