21 fev, 2019 - 11:43 • Filipe d'Avillez , Aura Miguel
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Os bispos reunidos em Roma para a cimeira sobre abusos sexuais têm feito questão de ouvir diretamente algumas vítimas. Neste primeiro dia da cimeira foi mostrado um vídeo com testemunhos de cinco vítimas. Outras falarão diretamente à cimeira, na tarde de cada dia de trabalho.
De seguida apresentamos excertos de três das cinco vítimas que partilharam a sua história esta quinta-feira de manhã, identificando-os apenas com o seu sexo e origem geográfica.
Homem chileno
“A primeira coisa que pensei foi: vou dizer tudo à Santa Madre Igreja, aí serei ouvido e respeitado. Mas a primeira coisa que me fizeram foi tratarem-me como mentiroso, virar-me as costas e dizer-me que eu, e outros, éramos inimigos da Igreja. Isto não acontece só no Chile, mas em todo o mundo, e tem de acabar.”
“O falso perdão, o perdão forçado não resulta. As vítimas precisam que se acredite neles, de serem respeitados, cuidados e curados. Vocês têm de reparar o mal que foi feito às vítimas, de serem próximos delas, acreditar nelas e acompanhá-las. Vocês são os médicos da alma, mas com raras exceções transformaram-se em assassinos da alma, assassinos da fé. Que terrível contradição!”
“Por favor colaborem com a justiça. Que o que está a acontecer no Chile, o que o Papa está a fazer no Chile, seja repetido como modelo noutros países pelo mundo.”
“Escutem o que o Santo Padre quer fazer, não se limitem a acenar com a cabeça para depois fazer outra coisa.”
“Espero que o Senhora e Maria vos iluminem para que, de uma vez por todas, possamos trabalhar com justiça para remover este cancro da Igreja, porque está a destruí-la, e isso é o que o diabo quer”.
Mulher africana
“A partir dos 15 anos tive relações sexuais com um padre. Isso durou 13 anos. Engravidei três vezes e ele obrigou-me a abortar três vezes, simplesmente porque não queria usar preservativos ou contracetivos.”
“Sempre que eu me recusava a ter relações com ele, espancava-me. Como eu dependia totalmente dele, economicamente, sofria todas as humilhações que ele me infligia.”
“Não tinha o direito a ter namorados. Sempre que os tinha, e ele descobria, espancava-me. Dava-me tudo o que eu queria, desde que aceitasse ter relações com ele, caso contrário espancava-me”.
Homem americano
“Penso na total perda da minha inocência na juventude, e como isso me afetou hoje. Continua a existir dor nas minhas relações familiares. Continua a existir dor entre os meus irmãos. Eu ainda carrego a dor. Os meus pais carregam a dor da disfunção, da traição, da manipulação que aquele homem mau, que na altura era o nosso pároco católico, infligiu sobre a nossa família sobre nós.”
“Encontrei a esperança contando a minha história”.