21 fev, 2019 - 08:30 • Aura Miguel com redação
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“Escutemos o grito dos pequenos que pedem justiça”. O Papa Francisco assume sentir o peso da responsabilidade pelos abusos sexuais a menores cometidos por membros do clero.
“Há que sarar as feridas entre jovens e crentes, provocados pelo escândalo de pedofilia na Igreja. Pende sobre o nosso encontro, o peso da responsabilidade pastoral e eclesial, que nos obriga a discutir juntos de maneira sinodal, sincera e profunda sobre como enfrentar este mal que aflige a Igreja e a Humanidade”, disse o Papa esta quinta-feira, na abertura do encontro com os presidentes das conferências episcopais de todo o mundo, para debater o problema dos abusos sexuais de menores.
Na sua intervenção Francisco garantiu que a Igreja vai ouvir quem procura justiça e disse ter consciência que os católicos aguardam mais do que simples condenações. “O Santo Povo de Deus, olha para nós e espera de nós, não uma simples e esperada condenação, mas sim medidas concretas e eficazes”, afirmou.
Ouvir as vítimas, aumentar a consciência, aumentar o conhecimento, desenvolver novos procedimentos, e partilhar boas práticas são alguns dos objetivos do encontro.
O encontro sobre a "Proteção dos menores na Igreja", que se realizará, no Vaticano focará três temas principais: responsabilidade, assunção de responsabilidades e transparência.
O Papa anunciou a sua presença em todas as sessões e momentos de oração da cimeira que reunirá 114 conferências episcopais: 36 da África, 24 da América do Norte, América Central e América do Sul, 18 da Ásia, 32 da Europa, incluindo Portugal, e quatro da Oceânia.
"O 11 de Setembro da Igreja"
O abuso sexual contra crianças durante anos e anos chegou a ser classificado pelo secretário do papa emérito, Bento XVI, como "o 11 de Setembro da Igreja Católica", um momento apocalíptico com incontáveis vítimas.
Na Igreja dos Estados Unidos um relatório de um grande júri da Pensilvânia revelou que pelo menos mil crianças foram vítimas de 300 padres nos últimos 70 anos, e que gerações de bispos falharam repetidamente na adoção de medidas para proteger a comunidade e punir os violadores. No sábado, o Vaticano expulsou do sacerdócio o ex-cardeal e arcebispo emérito de Washington, Theodore McCarrick, acusado de abusos sexuais a menores e a seminaristas.
Os casos estendem-se ainda a países como a Alemanha, Irlanda, Holanda, Austrália, França e Espanha.
Em agosto, a poucos dias de uma visita à Irlanda, onde mais de 14.500 pessoas declararam-se vítimas de abuso sexual por parte de padres, o Papa escreveu aos católicos do mundo, condenando este crime e exigindo responsabilidades.
Na carta, Francisco pediu perdão pela dor sofrida e disse que os leigos católicos devem envolver-se na luta para erradicar o abuso e o seu encobrimento.
A 12 de setembro, Francisco decidiu marcar uma cimeira mundial sobre os abusos sexuais na Igreja.