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FNO: Uma obra de arte em 12 conferências

23 fev, 2019 - 23:03 • Filipe d'Avillez

O Centro de Congressos de Lisboa voltou a esgotar para ouvir 12 conferências, cada uma de apenas sete minutos. É o Faith’s Night Out, uma iniciativa das Equipas de Jovens de Nossa Senhora.

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A noite começou com uma plateia cheia e uma tela preta.

Primeiro veio o apresentador, António Guedes, ou Tó Gato, como é conhecido nas Equipas de Jovens de Nossa Senhora, que organizaram pela sexta vez o Faith’s Night Out, esgotando novamente o Centro de Congressos de Lisboa.

O António chamou o primeiro orador. João César das Neves subiu para falar de anjos e Marta Seixas começou a preencher a tela com traços brancos que foram dando forma a uma catedral e, depois, a um anjo, inspirado pelas palavras do orador.

A conversa dos anjos durou apenas sete minutos, o tempo limite de cada conferência no FNO. O modelo permite numa só noite poder escutar 12 conferências diferentes, algumas dos quais proferidas por mais do que uma pessoa.

Seguiu-se no palco uma bailarina, Carolina Duarte, que desta vez não dançou, mas falou do corpo como templo do Espírito Santo e pediu aos presentes, jovens e não só, “para olhar para o corpo não como aquilo que não se pode fazer, mas pensar antes no que podemos fazer para que o corpo seja um canal de louvor a Deus.”

O professor Mário Rosa, que se lhe seguiu, teve sete minutos para falar de dogmas e dizer que estes são muitas vezes apresentados como limitações ao pensamento, porque são mesmo. “E ainda bem. Porque ao mesmo tempo que a verdade revelada limita, liberta-nos. Cristo não disse que a vossa liberdade criativa vos fará livres. Disse que a verdade vos fará livres”, disse, concluindo com um recado: “Pede muito pouco quem não pede Deus”.

À irmã Maria perdoava-se algum nervosismo, habituada que está à clausura do convento onde costuma viver. Foi de vida monástica que falou, “da vida monástica que habita o coração da Igreja” e de uma clausura que “não é um fim em si mesmo, mas um meio ao serviço do essencial”. E no quadro preto surgiram pela mão da Marta as palavras de ordem dos beneditinos “Ora et Labora”.

A oradora seguinte foi a Carla Rocha, da Renascença, que falou da “Força da Autenticidade”, apresentando como modelo o Papa Francisco. “O maior exemplo de autencidade que temos é o Papa Farncisco. Há um artigo do Harvard Business Review que foi publicado nove meses depois da eleição do Papa e que pergunta ‘porque é que não conseguimos deixar de falar de Francisco?’ -- e dá cinco razões, todas elas a ver com a autenticidade. O artigo mais recente do Financial Times refere o Papa Francisco como um líder com uma autenticidade tal que nenhum outro o consegue igualar. E nós vivemos o nosso dia-a-dia, vamos às nossas entrevistas de emprego, temos as nossas reuniões com os nossos clientes, nesta dúvida: será que me devo revelar?”

Para concluir que “nestes tempos de imprevisibilidade e conturbados, a autenticidade não é um estilo, a autenticidade é uma escolha”. E ao lado, na tela preta, vai-se formando uma autêntica obra de arte.

“Não é suposto estar a gostar. Isto não é a Disney”

Depois de um intervalo com direito a cocktail para o público falou-se de educação, mais especificamente do papel da Igreja na educação, pela voz de Isabel Almeida e Brito, diretora do Colégio de São Tomás. “A vida tem imensas fadigas, e eu tenho imensas falhas, mas conhecer Deus é uma alegria de que eu não quero abdicar”, disse, antes de recordar a sua primeira confissão, em que chorou de nervos e de medo, até que o bom padre Dâmaso pegou nela ao colo e a consolou: “Vais só falar com Jesus, e se tens pecados ele perdoa tudo”. No quadro preto há agora uma pomba da paz.

Margarida Montanha Rebelo, prata da casa com uma longa presença nas Equipas de Jovens, partilhou a sua experiência como voluntária nas Missionárias da Caridade, primeiro em Chelas, depois em Tânger e por fim na casa mãe, em Calcutá. “Responder aos pedidos de Jesus nem sempre é uma coisa fácil. O meu pai dizia que parecia que eu não estava a gostar muito, e eu ficava irritada. Não era suposto estar a gostar muito, não estava na Disney”.

A conferência seguinte foi tripartida. Três amigos unidos pela música e pela fé, embora em denominações diferentes. Manuel Fúria, católico e Tiago Cavaco, baptista responderam a perguntas feitas por Pedro Castro, católico e membro dos D.A.M.A.

“Sempre soube que ia ser músico e sempre soube que ia ter uma banda”, disse Fúria, “tentei muito ter uma voz e fazer coisas sérias, mas não conseguia. Descobri a minha voz aos 20 anos quando percebi que o que tinha de fazer tinha de ser uma coisa verdadeira, não podia ser uma faceta, tinha de ser eu inteiro. Tinha de ser o Manuel que acredita em Deus, que pensa em português e que nasceu em Santo Tirso”.

Tiago Cavaco falou da importância da música no contexto evangélico. “Ter medo de ser convertido é uma coisa fantástica”, disse, reconhecendo que a sua presença no circuito musical é muitas vezes incómoda para os outros e que se tenta divertir com isso.

Os três músicos foram rendidos por outra música, mas Maria Durão, dos Simplus, vinha falar do seu trabalho como funcionária do Vale d’Ácor, onde conheceu o Fernando, um toxicodependente que só aos 50 anos entrou na instituição para se curar, descobrindo cinco anos mais tarde que tinha um cancro. “Nunca pensei que Deus pusesse tanta gente à minha volta”, disse, no leito da morte. “Toda a vida se drogou para fugir ao sofrimento e à dor, mas naquele momento viveu o seu sofrimento com uma paz poderosa”, recorda Maria.

A conferência seguinte serviu-se à volta da mesa, com os cinco elementos da família Morais Leitão a partilhar os cinco pontos que os tornam mais família e mais próximos de Jesus: crescimento, união, serviço, dor e amor. E a tela já está quase completa.

A última conferência coube ao padre Pedro Rocha Mendes, jesuíta, que transformou a pergunta da sua apresentação “Há um plano para mim?” numa afirmação: “Há um sonho de Deus para mim!”.

“Voltámos aos primeiros dias da Igreja, em que nós padres temos de ensinar as pessoas a perceber de novo a viver o mistério, aquilo que é santo e ajudar a abrir os corações, um dom gigantesco a que Deus nos chama”, disse.

Marta Seixas dá os últimos toques numa obra de arte inspirada em 12 conferências. Na tela que já contém um Papa Francisco e até um Rei Leão, escreve-se uma última frase: “Deus depende de nós para o amar”.

Termina mais um Faith’s Night Out. A multidão sai ordeiramente. Em junho repete-se a experiência no Porto.

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