07 mar, 2019 - 10:42 • Rosário Silva
Confessa que não é religioso, mas a curiosidade sobre a vida monástica e a relação desta com a arquitetura, fizeram com que as portas da Cartuxa de Évora se abrissem à tese de mestrado de Luís Ferro, o arquiteto que lança agora o seu primeiro livro.
“O Eremitério da Cartuxa de Évora. Arquitectura e vida monástica” é o título da publicação, editada por Canto Redondo, e que pretende estabelecer “um diálogo próximo com a arquitetura do mosteiro de Santa Maria da Scala Coeli”, um dos ex-libris da cidade museu.
“Queria tentar perceber como é que o isolamento e o silêncio se constituíam como uma espécie de materiais de construção espacial, para pessoas que acreditam que esse silêncio e isolamento extremos, são o melhor veículo para a comunicação com Deus”, refere Luís Ferro, em entrevista à Renascença.
No fundo, o autor ambicionava estabelecer uma ligação entre “o universo do sagrado”, pelo qual, sublinha, “sempre tive o maior interesse apesar de não ser religioso”, mas que era fundamental “para perceber como uma conceção de habitar extrema” se entrosava “com as ferramentas da arquitetura.”
Depois de largos meses de muito estudo, a obra chega agora às livrarias, apresentando a tese de mestrado integrado em arquitetura, melhorada e complementada com todo o trabalho que Luís Ferro tem desenvolvido em torno da arquitetura cartusiana.
Um contributo para expressar a ideia de mosteiro-tipo da ordem fundada por S. Bruno e que desvenda novas especificidades do Mosteiro de Santa Maria Scala Coeli – ou Cartuxa de Évora -, datado de finais do século XVI e sinal da única presença, em Portugal, dos monges cartuxos.
“O pequeno espaço nas celas, ao qual os monges chamam de estúdio, não existem em mais nenhum mosteiro cartusiano”, revela o arquiteto. Trata-se de “uma pequena divisão que no caso do convento de Évora se localiza ao lado do espaço do oratório cuja função especifica é, unicamente, a de estudo e dar guarida aos livros que vem da biblioteca grande do mosteiro”, acrescenta.
Construída em 1587, a Cartuxa de Évora é uma das grandes riquezas da cidade, sobretudo no campo espiritual. A sua arquitetura comunga de uma sensibilidade e delicadeza que contrasta com o rigor da clausura, mas que Luís Ferro entende deste modo: “É uma arquitetura extremamente dócil”.
O autor diz-se, ainda hoje, impressionado “a dois níveis: o espaço e a luz”. São, no seu entender, “as matérias que mais contribuem para esse sentido tão dócil da arquitetura cartusiana.”
“O Eremitério da Cartuxa de Évora. Arquitectura e vida monástica” é lançado esta quinta-feira, 7 de março, às 18h00, na Galeria de exposições da Casa de Burgos, em Évora.
Luís Ferro formou-se em Arquitetura pela Universidade de Évora, em 2010. É autor de diversos projetos de arquitetura em Lisboa, Évora, Beja e Alvito. Em 2016, foi um dos galardoados na 4.ª edição do Prémio Arquitetos Agora. Atualmente, é aluno do programa de doutoramento em Arquitetura da Faculdade de Arquitetura do Porto e Bolseiro da Fundação para a Ciência e Tecnologia.