20 mar, 2019 - 06:51 • Teresa Paula Costa
Na sede da Cáritas de Leiria, mais de uma dezena de refugiados da Venezuela aprendem, há cerca de um mês, a língua portuguesa. É o caso de Maria, que espera que estas aulas lhe abram “mais as portas, também a nível profissional, para comunicar melhor com as pessoas”.
Maria fugiu de Caracas para Portugal há três anos e meio, já depois da vinda do filho e do marido. O filho entrou na Universidade, o marido, português e mecânico de profissão, está a frequentar um curso para tentar arranjar emprego. São luso-descendentes, residem atualmente em Leiria, mas querem um dia voltar à Venezuela.
Para já, Maria encara esta nova fase da vida como “transitória”. É uma “luta”, diz a antiga comerciante que, em Portugal, já chegou a trabalhar como copeira numa cozinha. “Aqui trabalhamos em tudo o que aparece”, diz.
As aulas de português foram uma das formas que a Cáritas Diocesana de Leiria-Fátima encontrou para os ajudar nesta nova fase da vida. A mentora do projeto foi Inês Batista, aluna de educação social que, há um ano, estagiou na Cáritas. “Reparei, na altura, que estavam a chegar (à região) muitas famílias venezuelanas e que o maior entrave era a língua”, porque apesar de falarem espanhol “há palavras iguais, mas aqui, em Portugal, elas têm um significado muito diferente.”
O presidente da direção da Cáritas explica que a iniciativa surgiu da necessidade da instituição se adaptar à evolução dos tempos. Júlio Martins lembra que “há dois anos foi a questão dos refugiados da Síria, e dos países limítrofes, como o Iraque, agora é a questão dos venezuelanos”.
“Saberes Além Fronteiras” pretende capacitar os imigrantes, agora sobretudo os venezuelanos, na leitura, escrita, oralidade e compreensão da língua portuguesa, permitindo assim fomentar a sua autonomização nas tarefas do quotidiano.
O projeto assenta no voluntariado. Alice Cardoso é a professora aposentada que ensina português a estes refugiados. Com um mês de aulas, acredita que, em breve já estarão à vontade para encetar uma conversa em português.
“Compreender o que nós dizemos, eles compreendem. Falar é que é mais difícil, porque a pronúncia é bastante semelhante e isso causa algum embaraço”, explica à Renascença. Mas, acredita que “dentro de um mês eles já estarão em condições de encetar um diálogo”.
As aulas de língua portuguesa tiveram início a 18 de fevereiro. Decorrem às segundas, terças e quintas-feiras, com 12 participantes assíduos.