22 mar, 2019 - 17:37 • Ângela Roque
Há vários anos em Moçambique, onde era atualmente o Superior dos Missionários da Consolata, Diamantino Antunes diz que nunca esperou ser Bispo, mas vê na escolha do Papa, conhecida esta sexta-feira, o reconhecimento do trabalho da congregação.
“Não, não esperava. Não desejava e não esperava. Mas foi uma boa surpresa, no sentido em que penso que é um voto de confiança no trabalho que nós, missionários, realizamos em Moçambique", explica à Renascença. "Não olharam só ás minhas qualidades, mas sobretudo ao nosso amor a esta Igreja local, e ao nosso serviço que estamos realizando.”
A diocese de Tete será a sua próxima missão. A responsabilidade dos últimos anos, na Congregação, fez com que já tenha visitado a região, por isso até já calcula qual será o seu maior desafio.
“Tete faz fronteira com o Malawi, a Zâmbia e com o Zimbabué. Dista 1.500 km de Maputo. É uma província imensa, e a diocese corresponde ao território da província, tem 102 mil km quadrados, é superior à superfície de Portugal. O desafio maior, sem dúvida, será poder dar assistência religiosa a um imenso território", refere.
Mas e a presença da Igreja, continuará a ser importante em Moçambique? “Sem dúvida que sim”, garante Diamantino Antunes. “A Igreja tem uma presença capilar em todo o país, de norte a sul, de leste a oeste, e está muito empenhada no campo social. Aliás, sempre esteve, com poucos recursos, mas com muita boa vontade e com uma presença que, de facto, permite chegar a todos”, afirma o novo bispo, lembrando que “a Igreja colaborou na paz, na sua consolidação, no aprofundamento da democracia e hoje, sem dúvida, continua a fazê-lo e a responder às necessidades básicas da população.”
A sua nomeação como Bispo é conhecida numa altura em que país enfrenta a tragédia das cheias, sobretudo na região centro, depois da passagem do ciclone Idai pela região. Diamantino Antunes diz que o mais urgente é conseguir resgatar as pessoas que continuam isoladas, “são centenas de famílias”. Depois, é preciso que a nível local se coordene bem as ajudas que vão chegando do exterior.
“O mais importante neste momento é fazer chegar essa ajuda às organizações que estão no terreno, incluindo a Igreja católica, com a Cáritas e outras organizações, como a Conferência dos Religiosos de Moçambique, para que depois a encaminhem para quem mais precisa”.
O que, por enquanto, não está a ser fácil, adianta. “O grande problema, sobretudo na província da Beira, é a dificuldade de comunicação. As estradas estão cortadas, o território está alagado de água, e é difícil chegar onde, de facto, as pessoas estão.”
Diamantino Antunes conta que este está a ser um ano horrível para Moçambique em termos climáticos, e que as cheias não são a única tragédia que afeta o país.
Noutras zonas, como aquela em que se encontra, há o problema da seca severa. “Estou em Inhambane, a cerca de 800 kms da cidade da Beira, e infelizmente aqui não chove. A agricultura, a produção agrícola está a secar, por falta de chuva. Enquanto que na Beira e no centro de Moçambique o problema é o excesso de chuva, aqui é a carência de chuva, com pobreza e ameaça da fome”.
Contrastes de um país que conhece bem. Diamantino Antunes é de Albergaria dos Doze, em Leiria, mas foi para Moçambique há vários anos, com os missionários da Consolata. Tem 52 anos de idade, e a sua ordenação como novo bispo de Tete está marcada para 12 de maio.