18 abr, 2019 - 16:39 • Liliana Carona
A paróquia de Manteigas, na diocese da Guarda promove esta quinta-feira santa, a partir das 20h, na Igreja de S. Pedro, uma cerimónia de lava-pés a 12 mulheres, como forma de prestar homenagem às 12 mulheres que este ano perderam a vida, vítimas de violência doméstica. Só no mês de março, a pacata vila de Manteigas já teve registo de duas ocorrências de violência doméstica. A Renascença acompanhou a preparação desta cerimónia.
Maria da Conceição, 66 anos, não consegue apagar da memória um episódio que observou bem de perto, nas ruas de Manteigas, de violência doméstica. Por esse motivo decidiu dizer sim ao apelo do Padre Luís Freire, para participar num ritual de lava-pés que vai homenagear as mulheres vítimas de violência doméstica. “É para alertarmos para ver se ganham vergonha, quer mulheres, quer homens, que também às vezes são vítimas, acho muito bem esta ideia, este padre é um espetáculo, ele tem muito boas ideias”, elogia a paroquiana.
Doze mulheres de Manteigas vão simbolizar as 12 mulheres que perderam a vida este ano, vítimas de violência doméstica, homenageadas num lava-pés. Um gesto repetido na liturgia, em que a Igreja propõe que se faça o ritual do lava-pés, um gesto repetido de Jesus na última Ceia aos seus discípulos, que terminou com a frase: Vistes o que eu fiz, fazei-o vós também,
“Inspirado nisto, vamos receber um grupo de 12 mulheres que se inscreveram depois do meu apelo na assembleia dominical, para alertarmos para a violência doméstica. Este ano há já 12 mulheres mortas e como os 12 apóstolos convidei simbolicamente 12 mulheres”, declara à Renascença o Padre Luís Freire, 39 anos, impulsionador da ideia, que não esconde a preocupação com os números não só nacionais, mas também referentes à sua paróquia.
“Eu creio que a violência faz parte dos nossos ambientes, averiguei junto das nossas autoridades e sei que nestes meios rurais, mais fechados, tanto maior é a vergonha como a aceitação, faz parte de um padrão machista enraizado na nossa cultura, e facilmente se aceita e desculpa, e a Igreja tem que ter aqui uma voz e dizer que a violência sobre as mulheres não é padrão”, defende o sacerdote, ordenado há nove anos. “Uma nódoa negra consegue-se ver, mas uma personalidade deprimida e angustiada é mais difícil de observar. Ainda há o preconceito machista que é normal e em Manteigas ouviu-se falar deste tema, este mês, por duas vezes, e temos que levantar a voz e dizer já chega. Este é apenas um gesto”, sublinha.
Só neste último mês de março, a vila de Manteigas já teve registo de dois casos de violência doméstica. Segundo comunicado da GNR, o Comando Territorial da Guarda, através do Núcleo de Investigação e de Apoio a Vítimas Específicas (NIAVE), deteve dia 7 de março um homem com 63 anos, por violência doméstica, no concelho de Manteigas.
No âmbito de um processo de violência doméstica que decorria há cerca de duas semanas, a GNR apurou que o suspeito exercia violência psicológica, emocional e proferia ameaças de morte à sua ex-companheira, de 41 anos.
Durante as diligências foi realizada uma busca domiciliária, uma a um armazém agrícola e duas a viaturas, resultando na apreensão de uma arma, designada por moca, e de 25 cartuchos calibre 12.
No mesmo mês, no dia 22 de março, o Comando Territorial da Guarda, através do Núcleo de Investigação e de Apoio a Vítimas Específicas (NIAVE), deteve um homem de 21 anos, por violência doméstica, na localidade de Manteigas.
No âmbito de um processo de violência doméstica, que decorreu durante uma semana, apurou-se que o suspeito agredia física e psicologicamente a sua companheira de 20 anos de idade, tendo inclusive privado a mesma da liberdade, chegando a trancar a vítima no quarto. No seguimento das diligências, o NIAVE deu cumprimento a um mandado de detenção, em Seia, onde o suspeito foi localizado e detido, estando indiciado pelos crimes de violência doméstica e por sequestro.