30 abr, 2019 - 20:57 • Redação
O bispo do Porto, D. Manuel Linda, manifesta abertura à criação de uma comissão diocesana dedicada ao flagelo dos abusos, para fins de “prevenção e formação dos seminaristas e do clero”.
Em declarações por escrito ao portal Sapo24, D. Manuel Linda disse que “é óbvio que se criará” uma comissão, “se se chegar à conclusão de que pode ser útil” para fins de “prevenção e formação dos seminaristas e do clero”.
“Para que não restem dúvidas”, sublinhou o bispo, “esses crimes são do mais indigno, baixo e abominável que existe, a negação dos sentimentos humanos e a queda no animalesco e, logicamente, a pura contradição com o que se diz acreditar no campo da fé”.
A Renascença contactou o bispo do Porto, que se encontra em Fátima na assembleia-plenária da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), mas D. Manuel Linda escusou-se a fazer mais comentários.
As declarações de D. Manuel Linda surgem depois de o bispo do Porto ter afirmado, em entrevista à TSF, que não tencionava criar uma comissão diocesana unicamente destinada a analisar denúncias de alegadas vítimas.
“Estamos a mudar tudo a nível da formação dos nossos alunos dos seminários, no acompanhamento e formação contínua do clero. Mesmo assim, alguém pode voltar a fazer asneiras? É possível, sempre. No entanto, a nossa postura perante este tema mudou radicalmente, não é mais um tema para tratar com amadorismo, é um tema para tratar muito a sério”, salientou.
Na sequência destas declarações, a Quebrar o Silêncio, organização de apoio a homens vítimas de violência sexual, divulgou uma carta aberta de uma alegada vítima.
“Senhor Bispo do Porto, São 4 da manhã. Ontem foi domingo de Páscoa e estou sem dormir depois de ler a sua entrevista em que afirma, com a maior das leviandades, que a Diocese do Porto não vai fazer nada em relação à pedofilia na Igreja, porque não é um assunto, comparando ao disparate que seria o Porto criar uma comissão para a queda de um meteorito. Não durmo depois de o ler, quando diz que até pode voltar a haver ‘asneiras’”, refere a missiva.
Na carta, o autor revela que, aos cinco anos, num retiro para casais organizado pela Igreja, foi levado por um homem que o “despiu” e “violou”. Embora não saiba se o adulto era um elemento do clero, o autor da carta esclareceu ao Sapo24 que "era alguém em quem a Igreja confiou para estar com crianças naquele dia".
Para esta vítima, a vida tem sido marcada por “ansiedade, depressão, culpa, dificuldade de relação, necessidade de agradar os outros, medo”, para além de “viver com uma máscara constante”.
O cardeal patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, reforçou na segunda-feira que a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) apoia as decisões do Papa Francisco em matéria de combate aos abusos de menores.
“No encontro em Roma sobre a proteção dos menores na Igreja, em que participei como presidente da CEP, acolhemos inteiramente tudo o que o Santo Padre decidiu e decida neste campo, como aliás vimos fazendo no seguimento do que estabelecemos em 2012”, afirmou D. Manuel Clemente, no arranque da assembleia plenária da CEP, em Fátima.
O Patriarcado de Lisboa já tem uma Comissão para a Proteção de Menores, que ajudará a diocese a analisar e a responder a casos de abuso sexual de menores praticado por membros da Igreja ou em instituições ligadas à mesma.
A comissão conta com apenas dois elementos da Igreja portuguesa. Entre os restantes estão dois elementos das forças de segurança, Francisco Maria Correia de Oliveira Pereira, oficial e ex-diretor nacional da PSP, e José Alberto Campos Braz, que tem uma longa carreira na Polícia Judiciária e que é especializado em investigação criminal.