21 mai, 2019 - 18:01 • Ângela Roque
A poucos dias das eleições europeias ainda há partidos que não responderam às perguntas que o Serviço Jesuíta aos Refugiados (JRS) lhes enviou no dia 6 de maio. “Demo-nos ao trabalho de olhar para os programas e manifestos políticos de cada um, e percebemos que, no que toca às migrações e asilo, há uma abordagem muito superficial e as diferenças entre os partidos são quase impercetíveis, o que tem um efeito pouco esclarecedor para quem vai votar”, diz em entrevista à Renascença o diretor do JRS-Portugal.
Segundo André Costa Jorge, as questões enviadas aos vários cabeças de lista foram “muito concretas”, sobre “a criação de vias legais e seguras para a Europa, a definição do visto humanitário europeu, o alargamento do conceito de família para efeitos de reagrupamento familiar, a detenção de requerentes de asilo e migrantes em situação irregular e sobre os acordos de retorno de refugiados para estados terceiros, onde existem relatos de violação dos direitos humanos”.
“Recebemos até agora sete respostas, concretamente da CDU, do ‘Nós Cidadãos’, do CDS, do Livre, do Bloco de Esquerda, do Basta, e já esta terça-feira de manhã, do PAN”, revela o responsável do JRS, que acrescenta que houve quem tivesse respondido a cada uma das perguntas “de forma precisa, mas também tivemos candidaturas que preferiram dar uma resposta mais redonda, remetendo para o programa eleitoral”. Todas as respostas podem ser consultadas no site do JRS, onde são colocadas à medida que vão chegando.
“O nosso objetivo não é indicar em quem as pessoas devem votar, é clarificar as posições daqueles que se propõem ser nossos representantes no Parlamento Europeu”, esclarece.
Sobre a ausência de respostas do PSD e do PS, “iremos aguardar”, diz André Costa Jorge, que considera, no entanto, um “dever cívico” das candidaturas responder a estas perguntas. “Fico preocupado se não o fizerem”, até porque quer socialistas quer social-democratas “pertencem a duas famílias no Parlamento Europeu com grande peso na tomada de decisões, para além de serem também os mais votados no espetro político português. Não acredito que não saibam responder”.
André Costa Jorge não entende como pode a questão das migrações ser ignorada na campanha eleitoral, tendo em conta que “tem estado, pelo menos desde 2015, na agenda europeia, e tem sido matéria de grande tensão, o que se compreende, porque é uma questão ainda por resolver”. Este responsável sublinha, aliás, que foi por saber que este é um assunto delicado que a estratégia do JRS “foi colocar as perguntas e não as traduzir numa matriz simplificadora, porque percebemos que estas são matérias complexas”.
Estando o fenómeno migratório longe ainda do fim, o que é que para o JRS era urgente o Parlamento Europeu e as instituições europeias fazerem nos próximos cinco anos, período para o qual os eurodeputados vão ser eleitos? André Costa Jorge diz que “era fundamental a questão das vias legais e seguras, isto é, continuar a haver proteção para os mais vulneráveis. Falo das crianças e das mulheres, que passam situações muito complicadas em campos de refugiados, como todos sabemos. É necessário também alargar o visto humanitário europeu, e que a Europa tivesse uma posição mais proativa na proteção dos refugiados. Politicamente, também, uma intervenção na resolução de situações que estão na origem dos fluxos migratórios, e que provocam crises humanitárias graves”.
Campanha “O teu voto tem poder”
A par das perguntas enviadas aos partidos, o JRS-Portugal tem a circular uma campanha de sensibilização para a importância de votar. "O teu voto cura feridas”, “O teu voto resgata famílias”, ou “O teu voto corta arame farpado”, são algumas das frases inscritas em cartazes disponíveis em mupis de rua e paragens de autocarro, e que têm também sido divulgados através das redes sociais e em algumas universidades.
“Procurámos direcionar esta campanha sobretudo para o público mais jovem, universitário. É necessário que todos possamos fazer a nossa parte para reduzir a abstenção e este desinteresse aparente dos eleitores, de modo particular os mais jovens”, explica André Costa Jorge, que fala num feedback muito positivo. “Há da parte dos jovens a maior abertura e sensibilidade para estes temas, e na Plataforma de Apoio aos Refugiados, da qual fazemos parte, e que coordenamos neste momento, sentimos por parte dos jovens uma grande vontade e uma grande mobilização como voluntários, para irem servir e trabalhar por exemplo, nos campos de refugiados na Grécia”.
Portugal tem sido apontado como exemplo no acolhimento de refugiados, o que não surpreende André Costa Jorge, que nesta entrevista à Renascença sublinha o papel da sociedade civil. “Tem sido fundamental no processo de acolhimento. Politicamente Portugal também se tem posicionado de forma correta, junto dos seus parceiros europeus, mas tem havido, na nossa opinião, uma posição muito favorável das pessoas, da sociedade civil, para que o esforço humanitário de acolhimento seja feito”.
“Foi dada uma resposta muito forte na crise de refugiados, que teve o seu pico em 2015, e essa resposta de acolhimento e esforço de integração têm permanecido ao longo dos anos. Nós estamos na expectativa, e queremos continuar a contar com as pessoas de boa vontade, e com as organizações, para continuarem a associar-se a esta causa, porque o problema está longe de ser resolvido”, sublinha.
Segundo André Costa Jorge, que cita os dados atualizados da Plataforma de Apoio as Refugiados (PAR), e do próprio JRS, “no total, nas várias frentes onde estamos, temos neste momento 322 pessoas connosco, que estamos a acompanhar quer na PAR, quer no Centro de Acolhimento de Refugiados, no Lumiar, quer no próprio JRS, diretamente. Temos na PAR mais 64 famílias ainda a ser acolhidas, em 56 instituições”.
O JRS-Portugal é atualmente responsável pela coordenação da PAR, e também faz o acompanhamento técnico e a gestão do Centro de Acolhimento de Refugiados da câmara de Lisboa.