24 mai, 2019 - 13:08 • Ecclesia
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O Vaticano associou-se esta sexta-feira às preocupações da greve climática estudantil, numa mensagem à Comunidade Científica em que considera a limitação do aquecimento global a 1,5 graus celsius como obrigação “moral” e “religiosa”.
“Com o aquecimento global em volta de 1°, desde a revolução industrial, já estamos a ver o impacto severo das mudanças climáticas nas pessoas, em termos de condições climáticas extremas, como secas, enchentes, aumento do nível do mar, tempestades devastadoras e incêndios violentos. A crise climática está a atingir proporções sem precedentes. A urgência, portanto, não poderia ser maior”, refere o prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral (Santa Sé).
O cardeal Peter Turkson escreve por ocasião do 4.º aniversário da encíclica “Laudato Si” do Papa Francisco, um texto que propõe uma ecologia integral.
Em 2015, aquando da publicação do texto, a comunidade internacional procurava concluir o Acordo de Paris, para limitar o aquecimento global a menos de dois graus, em relação aos valores pré-industriais.
Dirigindo-se à comunidade científica, o cardeal Turkson, principal colaborador do Papa no campo da ecologia, apresenta como “limiar” a respeitar os 1,5 graus celsius, como forma de defender os países e as populações mais pobres que, como referia Francisco na sua encíclica, “sofrem os efeitos mais graves de todas as agressões ambientais”.
“O limiar de 1,5° é um limiar moral: é a última oportunidade para salvar todos esses países e os muitos milhões de pessoas vulneráveis nas regiões costeiras”, sustenta o prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral.
O cardeal ganês fala ainda de um “um limiar físico crítico”, que permitiria evitar “muitos impactos destrutivos das alterações climáticas provocadas pelo homem”, tais como a regressão das principais camadas de gelo e a destruição da maior parte dos recifes de coral tropicais.
“É bom considera que os 1,5° são também um limiar religioso. O mundo que estamos a destruir é dom de Deus para a humanidade, precisamente a casa santificada pelo Espírito Divino (Ruah) no início da criação, o lugar onde Ele armou a sua tenda entre nós”, acrescenta Peter Turkson.
O responsável do Vaticano sustenta que é possível limitar o aquecimento global, com base num modelo de desenvolvimento livre de tecnologias e comportamentos que aumentem a produção de emissões de gases com efeito de estufa.
As propostas de vários líderes e organizações católicas, inspirados na “Laudato Si”, apelam a uma limitação do aquecimento global a 1,5 graus celsius; à adoção de estilos de vida sustentáveis; ao respeito pelas comunidades indígenas; ao fim da era dos combustíveis fósseis, com transição para formas renováveis de energia; à reforma do sistema agrícola, para um fornecimento saudável e acessível de alimentos para todos.
O Papa Francisco e vários especialistas, entre eles o climatologista francês Jean Jouzel, membro do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), partilham “profundas preocupações” em relação à atual crise climática, assinala o cardeal Turkson.
A Santa Sé convida a ouvir o “grito dramático da comunidade científica e dos movimentos dos jovens pelo clima”, perante um futuro ameaçado.
“Nos últimos meses, os jovens tornaram-se cada vez mais explícitos, como se pode ver, por exemplo, nas impressionantes ‘greves climáticas’. A sua frustração e raiva em relação à nossa geração é óbvia. Corremos o risco de acabar por roubar-lhes o futuro”, adverte o cardeal Turkson.
A carta recorda que na Jornada Mundial da Juventude de 2019, no Panamá, os jovens lançaram a “Geração Laudato Si” e publicaram um “poderoso manifesto que desafia as comunidades religiosas e a sociedade civil a uma conversão ecológica radical em ação”.
“É bom unir-se aos cientistas e aos jovens para solicitar à nossa família humana, especialmente àqueles que ocupam posições de poder político e económico, que tomem medidas drásticas para mudar de rumo”, apela o prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral.
Para este responsável, ainda há tempo para “agir e evitar os piores efeitos da mudança climática”.