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Trinta anos depois da revolução, Papa pede à Roménia que não perca a alma

31 mai, 2019 - 11:36 • Filipe d'Avillez , Aura Miguel

Francisco chegou esta sexta-feira a Bucareste onde garantiu que os católicos, apesar de poucos, estão ao serviço da construção de um estado moderno.

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Trinta anos depois da revolução, Papa pede à Roménia que não perca a alma

O Papa Francisco apelou esta sexta-feira às autoridades romenas para que não permitam que o país se desenvolva às custas da sua alma.

No seu primeiro discurso naquele país, de maioria ortodoxa, o Papa salientou os grandes avanços feitos pela sociedade romena desde que se livrou do comunismo, há precisamente 30 anos, um regime “que oprimia a sua liberdade civil e religiosa e a isolava dos outros países europeus levando-a também à estagnação da sua economia e ao exaurimento das suas forças criativas”.

Desde então, “a Roménia empenhou-se na construção dum projeto democrático através do pluralismo das forças políticas e sociais e do seu diálogo mútuo, através do reconhecimento fundamental da liberdade religiosa e da plena integração do país no mais amplo cenário internacional” e “libertou inúmeras forças criativas que antes estavam prisioneiras”, conseguindo assim “transportar o país para século XXI.”

Este desenvolvimento não tem sido isento de custos, porém, e o Papa Francisco enumerou alguns deles, como a imigração e o despovoamento de grande parte do interior. Segundo dados avançados recentemente pelo Patriarca Daniel, da Igreja Ortodoxa da Roménia, 87% do território romeno é rural mas apenas 45% da população vive no campo. O resultado é que embora a terra seja rica a maioria dos camponeses são pobres e muitas das aldeias que não estão despovoadas vivem à base da agricultura de sobrevivência. A Igreja Ortodoxa tem pedido ao Estado que ajude as pessoas a manter-se nas suas terras, através de uma política de incentivos.

Unidade para bem do povo

Francisco disse às autoridades nacionais, a quem se dirigiu neste primeiro encontro público na Roménia, que para enfrentar estas dificuldades é preciso contar com todos. “Para enfrentar os problemas desta nova fase histórica, individuar soluções eficazes e encontrar a força para as concretizar, é preciso aumentar a colaboração positiva das forças políticas, económicas, sociais e espirituais; é necessário caminhar juntos e que todos se comprometam, convictamente, a não renunciar à vocação mais nobre a que deve aspirar um Estado: ocupar-se do bem comum do seu povo.”

“Caminhar juntos, como forma de construir a história, requer a nobreza de renunciar a algo da própria visão ou do próprio interesse específico em favor dum desígnio mais amplo, de modo a criar uma harmonia que permita avançar seguros rumo a objetivos compartilhados”, disse o Papa.

Foi então que Francisco lembrou a necessidade de não se sacrificar a alma do povo. “Para um desenvolvimento sustentável harmonioso, para a implementação concreta da solidariedade e da caridade, para a sensibilização das forças sociais, civis e políticas ao bem comum, não é suficiente atualizar as teorias económicas, nem bastam – apesar de necessárias – as técnicas e capacidades profissionais. Com efeito, trata-se de desenvolver, juntamente com as condições materiais, a alma do vosso povo.”

Apesar de minoritária, apenas cerca de 4% da população, a Igreja Católica está disponível para colaborar neste desígnio nacional. “A Igreja Católica não é estranha, mas plenamente participante do espírito nacional, como mostra a participação dos seus fiéis na formação do destino da nação, na criação e desenvolvimento de estruturas de educação integral e formas de assistência próprias de um Estado moderno. Por isso deseja dar o seu contributo para a construção da sociedade e da vida civil e espiritual na vossa formosa terra da Roménia.”

O Papa Francisco vai passar três dias na Roménia. Esta sexta-feira estará em Bucareste, mas nos próximos dois dias visita algumas terras mais remotas, indo ao encontro das comunidades católicas que estão espalhadas pelo país. No domingo, antes de regressar a Roma, Francisco beatifica sete bispos da Igreja Greco-católica da Roménia que foram mortos pelo regime comunista por se recusarem a renunciar à fé.

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