30 set, 2019 - 11:00 • Filipe d'Avillez
O Papa Francisco instituiu esta segunda-feira um dia dedicado à valorização da Sagrada Escritura no calendário litúrgico católico.
Numa carta apostólica conhecida como “motu proprio”, com o título “Aperuit illis”, que significa “Abriu-lhes”, Francisco diz que “a dedicação de um domingo do Ano Litúrgico particularmente à Palavra de Deus permite, antes de mais nada, fazer a Igreja reviver o gesto do Ressuscitado que abre, também para nós, o tesouro da sua Palavra, para podermos ser no mundo arautos desta riqueza inexaurível.”
A ideia inicial já tinha sido apresentada pelo Papa durante o ano da Misericórdia e é agora instituída formalmente depois de Francisco ter recebido muitos pedidos dos fiéis nesse sentido.
O dia escolhido é o III Domingo do Tempo Comum, que costuma coincidir com o final do oitavário da oração pela unidade dos cristãos, um período de reforçada atividade ecuménica. Francisco insiste que essa escolha não é “mera coincidência”, uma vez que “a Sagrada Escritura indica, a quantos se colocam à sua escuta, o caminho a seguir para se chegar a uma unidade autêntica e sólida”.
Em 2020 o III Domingo do Tempo Comum calha a 26 de janeiro.
No seu motu proprio Francisco faz uma série de sugestões sobre como pode ser vivido este dia. "As comunidades encontrarão a forma de viver este Domingo como um dia solene. Entretanto será importante que, na celebração eucarística, se possa entronizar o texto sagrado, de modo a tornar evidente aos olhos da assembleia o valor normativo que possui a Palavra de Deus. Neste Domingo, em particular, será útil colocar em evidência a sua proclamação e adaptar a homilia para se pôr em destaque o serviço que se presta à Palavra do Senhor", lê-se.
"Os párocos poderão encontrar formas de entregar a Bíblia, ou um dos seus livros, a toda a assembleia, de modo a fazer emergir a importância de continuar na vida diária a leitura, o aprofundamento e a oração com a Sagrada Escritura" com particular referência à leitura das Escrituras, diz Francisco, acrescentando que as homilias devem ser bem preparadas, pois "não se pode improvisar o comentário às leituras sagradas".
Ao longo do texto o Papa sublinha a importância fundamental da Bíblia, tanto do Novo como do Antigo Testamento, para a fé cristã e diz que o conhecimento da mesma deve ser generalizado. "A Bíblia não pode ser património só de alguns e, menos ainda, uma coletânea de livros para poucos privilegiados. Pertence, antes de mais nada, ao povo convocado para a escutar e se reconhecer nesta Palavra. Muitas vezes, surgem tendências que procuram monopolizar o texto sagrado, desterrando-o para alguns círculos ou grupos escolhidos. Não pode ser assim."
Para o Papa é igualmente importante realçar a atualidade das Escrituras, que devem ser lidas sempre com abertura ao Espírito Santo, para evitar fundamentalismos. "O papel do Espírito Santo na Sagrada Escritura é fundamental. Sem a sua ação, estaria sempre iminente o risco de ficarmos fechados apenas no texto escrito, facilitando uma interpretação fundamentalista, da qual é necessário manter-se longe para não trair o caráter inspirado, dinâmico e espiritual que o texto possui."
"Quando a Sagrada Escritura é lida com o mesmo Espírito com que foi escrita, permanece sempre nova. O Antigo Testamento nunca é velho, uma vez que é parte do Novo, pois tudo é transformado pelo único Espírito que o inspira."
Francisco chega mesmo a deixar subentendido que uma correta compreensão das Escrituras pode evitar radicalismos políticos. "Quem se alimenta dia a dia da Palavra de Deus torna-se, como Jesus, contemporâneo das pessoas que encontra; não se sente tentado a cair em nostalgias estéreis do passado, nem em utopias desencarnadas relativas ao futuro."
O motu proprio do Papa termina com um apelo a que o "domingo dedicado à Palavra" possa "fazer crescer no povo de Deus uma relgiosa e assídua familiaridade com as Sagradas Escrituras".