04 out, 2019 - 20:13 • Ecclesia
O arcebispo português D. José Tolentino Mendonça, que vai ser criado cardeal este sábado, disse estar pronto para “arregaçar as mangas” e servir o Papa nesta nova fase da sua vida.
“É uma humildade muito grande e um desprendimento, no sentido de dizer: sou chamado, estou aqui, com o que sou, venho arregaçar as mangas e servir, ser um cardeal entre os outros”, declarou, num encontro com jornalistas que decorreu na sala de imprensa da Santa Sé.
O arquivista e bibliotecário do Vaticano recordou uma nomeação que o “surpreendeu”, a 1 de setembro deste ano, e o levou a aceitar uma missão para a qual não foi consultado, mostrando-se “comovido” com as reações que recebeu, no último mês.
“Eu sinto-me mais um. Sinto-me mais um, apenas isso”, assinalou.
Nós somos uma obra dos outros. Eu não chego a cardeal sozinho, trago comigo uma história, uma multidão interminável de rostos, de abraços, de lágrimas, de sorrisos, de que sou portador. Tenho de ser fiel a essa memória”.
Questionado sobre o impacto da nomeação cardinalícia, o biblista e poeta afirmou que ser cristão é um risco e “viver é perigoso”, citando Guimarães Rosa
“As coisas grandes da vida são assim”, considerando que é necessário encontrar “outros critérios” para avaliar este percurso.
Em fevereiro de 2018, quando orientou o retiro de Quaresma do Papa e da Cúria Romana, o futuro cardeal era um sacerdote ligado à vida académica, com funções de direção na Universidade Católica Portuguesa.
D. José Tolentino Mendonça falou da sua ligação à cultura, “palco particular para essa dimensão do encontro, da hospitalidade do outro, da escuta” que é proposta pelo Papa Francisco.
“Uma coisa que o mundo da cultura me ensinou é que a coisa mais importante que podemos fazer é escutar. É na escuta profunda uns dos outros que nos podemos verdadeiramente encontrar”, precisou.
O arquivista e bibliotecário da Santa Sé sustentou que riqueza da Igreja, “num tempo que é tão fragmentário, onde a solidão acaba por parecer quase uma fatalidade”, é privilegiar e dar valor “à experiência da comunidade, à experiência da comunhão”.
“O que eu quero escrever, o que eu quero dizer é: a vida é bela, a vida é um mistério interminável, a vida é arrebatadora”, disse.
Para o futuro cardeal português, este é um momento de “encruzilhada” na sua vida, como escreveu na sua obra.
Questionado sobre o seu papel num eventual conclave, enquanto cardeal eleitor, D. José Tolentino Mendonça optou por pedir “vida longa” ao Papa Francisco.
“O Conclave é um momento importante da vida da Igreja, mas o mais importante é convergir para o Espírito de Comunhão na Igreja, interpretar os sinais dos tempos, e que o Espírito Santo fale”, indicou.
O responsável elogiou os desafios que o Papa Francisco lança “incansavelmente”, dentro da Igreja e para lá das fronteiras do mundo católico, desvalorizando as críticas internas ao atual pontificado.
“A diversidade na Igreja é uma coisa genética, não é um problema. A diversidade é uma riqueza”, defendeu.
Questionado sobre o risco de “cisma”, a que o Papa aludiu no regresso da sua viagem a Moçambique, o responsável destacou que Francisco “não tem medo” e que “as sensibilidades nunca foram para deitar fora”.
“Se olharmos para a História do Cristianismo, ela é feita de santos tão diferentes, de congregações religiosas, de carismas. A Igreja é uma experiência pneumática que se encontra não na fusão, mas, de facto, numa diferença convergente”, na qual o papel” do Papa é de “agregador”.
Biblista, investigador, poeta e ensaísta, o novo cardeal foi nomeado a 1 de setembro e é o sexto prelado português a integrar o Colégio Cardinalício no século XXI, o terceiro no atual pontificado.