05 out, 2019 - 18:04 • Ecclesia com Redação
O cardeal D. José Tolentino Mendonça revelou que o Papa sublinhou a sua faceta de poeta, quando o saudou, antes do consistório de criação cardinalícia que decorreu este sábado na Basílica de São Pedro, no Vaticano.
"Quando chegou à sacristia, o Santo Padre cumprimentou cada um dos que iria criar cardeal. E, quando ele se abeirou de mi, eu disse-lhe: 'Santo Padre, o que é que me fez?'. Ele riu-se e disse-me: 'A ti eu digo aquilo que um poeta disse - tu és a poesia'."
D. José Tolentino Mandonça, que vai guardar estas palavras "no coração", interpreta-as como uma forma de Papa dizer "uma coisa essencial: que a Igreja conta com uma determinada sensibilidade, uma atenção a um determinado campo humano, que é o campo da cultura, das artes, da estética."
"O Santo Padre considera que esse campo é também importante para a missão da Igreja e para aquilo que ela é chamada a ser no mundo contemporâneo", reforçou o novo cardeal português.
Senti tudo. Senti o abraço de Deus, senti a responsabilidade de cada passo e senti que é uma coisa maior do que eu. Em determinados momentos, acho que todos - crentes, laicos, padres, cardeais, pais de família - sentimos que a vida é maior.
D. Tolentino entrou, após o consistório, na Sala Régia do Palácio Apostólico , para a sessão de cumprimentos, com uma cruz peitoral de prata que lhe foi oferecida pelos bispos da diocese do Funchal. "Recebi esta cruz, que é muito bonita. Pedi aos três bispos [da Diocese do Funchal] - o D. Teodoro, que me ordenou padre e foi co-celebrante na minha ordenação episcopal, o D. António Carrilho, que foi o bispo anterior, e o D. Nuno Brás, que foi meu colega no seminário e hoje é bispo do Funchal - que a abençoassem e hoje trago-a em sinal da história que me trouxe até aqui", contou.
Quando se disponibilizou para falar com os jornalistas, o novo cardeal foi questionado sobre se o barrete pesa mais do que o solidéu e, entre risos, respondeu que "nestes momentos, nem nos lembramos dessas coisas". Bem disposto, prosseguiu: "Ao solidéu já estava habituado. O barrete é a primeira vez que o uso, de maneira que, se calhar, sinto mais o peso do barrete do que do solidéu."
De seguida, em registo mais sério, apontou que "a vida vai-nos dando pela mão de Deus os caminhos, mais do que pesos".
"A vida de um cardeal é pesada? É. Mas a vida de uma pai de família também é, como a vida de um operário, a vida de um desempregado, a vida de um home sobre a terra, a vida de um refugiado, a vida de alguém que constrói a sociedade. A vida é difícil para todos, também para um cardeal, mas a vida também é bela, entusiasmante, e é nisso que penso. Partilho a humanidade dos meus irmãos e faço com eles um caminho crente, um caminho de fé."
Questionado sobre o que sentiu, aquando da imposição do barrete cardinalício, D. José Tolentino sublinhou a dimensão da fé: “Senti tudo: senti o abraço de Deus, senti a responsabilidade de cada passo, e senti que há uma coisa maior do que eu”.
“Em determinados momentos, acho que todos, crentes, laicos, padres, cardeais, país de família, sentimos que a vida é maior. Foram passos conscientes, não foram uns passos quaisquer”, concluiu.