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Relatório

Ásia é agora o continente menos seguro para os cristãos

23 out, 2019 - 16:00 • Filipe d'Avillez

No Médio Oriente o Estado Islâmico perdeu a batalha, mas pode ter ganho a guerra contra os cristãos, lamenta fundação Ajuda à Igreja que Sofre, autora do relatório “Perseguidos e esquecidos?”

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O lugar do mundo mais perigoso para os cristãos atualmente é a Ásia Meridional e Oriental, que assim substitui o Médio Oriente, onde a situação melhorou desde que o autoproclamado Estado Islâmico foi derrotado territorialmente, primeiro no Iraque e este ano na Síria.

Segundo o relatório “Perseguidos e esquecidos”, produzido pela fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), a Síria e o Iraque são os únicos dois países dos 13 destacados em que a situação dos cristãos melhorou ao longo dos últimos dois anos. Em cinco países a situação manteve-se igual e em seis piorou.

Mas apesar das melhorias, a vida para os cristãos no Iraque e na Síria continua difícil e o futuro das comunidades é incerta. A AIS teme que as boas notícias tenham chegado tarde de mais e diz que o Estado Islâmico pode ter perdido a “batalha da supremacia militar no Médio Oriente, mas em partes da região eles vão a caminho da vitória por conseguirem extinguir os muito detestados ‘adoradores da cruz’, os cristãos”.

Em várias partes daqueles dois países o número de cristãos já desceu de tal forma que poderá não ser possível recuperar. O relatório mostra que no Iraque a população cristã diminuiu de 1,5 milhões, antes de 2003, para perto dos 120 mil atualmente, ou seja, uma queda de 90% no espaço de década e meia. Na Síria a situação é semelhante e em Alepo, a segunda cidade mais importante do país, o número de cristãos passou de 180 mil antes da guerra para 32 mil na altura em que a cidade foi libertada pelo regime de Bashar al-Assad. Mas talvez mais preocupante seja o facto de, nos anos que se passaram entretanto, em que a vida voltou à normalidade em Alepo, a migração de cristãos manteve-se a ritmo acelerado, havendo agora menos três mil. “Não se vislumbra nenhuma recuperação destes números, apenas a continuação da redução do número de fiéis”, diz o relatório.

Nesta situação um dos poucos sinais de esperança vem da Planície de Nínive e do Curdistão Iraquiano, onde com a ajuda de projetos da fundação AIS perto de 10 mil famílias regressaram às casas de onde tinham fugido após a queda de Mosul para o Estado Islâmico.

No que diz respeito à Síria e ao Iraque, o relatório conclui que “se houver novo ataque contra os fiéis ao estilo do Daesh, isso pode resultar no desaparecimento da Igreja. No entanto, caso se possa garantir a segurança, tudo indica que o Cristianismo conseguirá sobreviver na Planície de Nínive e em Erbil”.

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África preocupa, Ásia assusta

O relatório “Perseguidos e esquecidos?” refere ainda vários países africanos onde a situação dos cristãos é especialmente preocupante, incluindo a República Centro-Africana e a Nigéria, onde conflitos entre cristãos e muçulmanos, agravados por fatores tribais, têm feito milhares de mortes e não dão sinais de abrandar.

Mas o relatório fala também da Eritreia, conhecida como a Coreia do Norte de África, onde o regime ditatorial tem perseguido de forma muito dura a Igreja Católica, fechando clínicas e escolas que serviam centenas de milhares de pessoas, aparentemente como retaliação pelo facto de os bispos católicos terem pedido ao Governo mais respeito pelos direitos humanos.

Mas é na Ásia Meridional e Oriental que a segurança dos cristãos mais se tem agravado.

Enquanto o Sri Lanka foi palco de ataques terroristas que fizeram mais de 258 mortos, a maioria dos quais cristãos, a perseguição na Índia também tem aumentado, sobretudo nos estados mais expostos à ideologia nacionalista hindu do partido BJP, no governo.

O relatório fala ainda da China, onde a perseguição tem aumentado significativamente – contra cristãos e fiéis de outras religiões – não obstante o acordo alcançado entre o Vaticano e o Governo para a nomeação de bispos para a Igreja Católica, e da Coreia do Norte, talvez o Estado mais repressivo para cristãos em todo o mundo, e passa ainda pelo Paquistão, onde chegou ao fim um dos casos mais dramáticos de perseguição anticristã da última década, com a libertação e absolvição de Asia Bibi.

A mulher que tinha sido condenada à morte por blasfémia – quando tudo o que fez foi beber água da mesma fonte que as suas colegas de trabalho muçulmanas – esteve quase 10 anos presa e, quando foi finalmente libertada, setores fundamentalistas da sociedade paralisaram algumas das principais cidades em protesto.

“A perseguição de uma religião pode assumir muitas formas”, escreve o arcebispo Joseph Coutts, de Karachi, no prefácio do relatório. “Podem ser aos ataques diretos e brutais realizados pelo Estado Islâmico no Iraque e na Síria contra os cristãos e os yazidis, ou podem ser formas mais subtis, como por exemplo discriminação, ameaças, extorsão, rapto e conversão forçada, negação de direitos ou restrições à liberdade”.

No Paquistão, continua o arcebispo, “enfrentámos todas as formas de perseguição acima referidas ao longo dos anos.”

Joseph Coutts reconhece que o país até goza de liberdade religiosa, mas sobretudo no papel. Na prática “temos de estar preparados para enfrentar a ira daqueles que, no nosso país, têm uma mentalidade diferente”.

O relatório da AIS foi apresentado esta quarta-feira, às 16h, em Lisboa.

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